Sberbank e VTB: os bancos mais afetados pelas sanções têm ramificações até Angola e Vietname (e uma ligação discreta a Portugal)
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Os bancos russos passaram para os títulos de notícias, por serem alvo de retaliação ocidental ao ataque russo, mas que entidades são estas?
Sberbank e VTB: estes são os nomes dos dois maiores bancos russos e aqueles que mais estão a ser alvo de sanções internacionais, como resposta à invasão militar da Ucrânia perpetrada pela Rússia. As suas ramificações são extensas e já estão a levar a congelamentos de ativos fora das fronteiras russas, chegando a Angola e ao Vietname.
“Diariamente, as instituições financeiras russas conduzem transações no mercado cambial avaliadas, a nível global, em 46 mil milhões de dólares [algo como 40 mil milhões de euros], 80% dos quais em dólares americanos”. Esta é a justificação dada pelo Tesouro norte-americano para aplicar sanções internacionais a bancos russos, medidas que desligaram, na prática, o banco do mercado financeiro ocidental.
Juntos, os dois maiores bancos russos controlam metade do sistema: a quota de cerca de 32% do Sberbank junta-se aos 17% assegurados pelo VTB. Os restantes bancos são de mais reduzida dimensão: o terceiro maior, o Gazprombank, tem 8%, acima dos 5% do Alfa, o primeiro banco privado na lista das entidades financeiras russas. Os números constam de uma recente apresentação de um outro banco, o Sovcombank, este de capitais privados, também alvo de algumas sanções.
Todos eles fazem parte da lista de bancos com importância sistémica na Rússia, juntamente com outros de menor dimensão.
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Sberbank: o banco em intervenção na união bancária
Detido maioritariamente pelo Governo da Federação Russa, o Public Joint Stock Company Sberbank of Russia (Sberbank) é o maior banco do país, representando um terço de todos os ativos bancários. Tem a maior quota de depósitos e é o principal credor da economia russa. Mais de metade dos créditos à habitação da Rússia são feitos nesta instituição financeira, de acordo com dados do Sberbank Europe, o seu braço europeu.
É este banco, fundado em 1841, o principal alvo da sanção internacional: é eliminado o estatuto de banco correspondente, o que limita qualquer contacto com os bancos americanos que sejam suas contrapartes. Dentro de um mês, não poderão ser feitas quaisquer transações com o Sberbank, nem com instituições financeiras suas subsidiárias, a partir dos EUA.
O gigante russo tem presença na Europa de Leste, sendo que as suas unidades europeias estão sob intervenção das autoridades de supervisão – a fuga de depósitos deixou-as numa frágil situação este fim-de-semana. O banco europeu está sediado na Áustria, tendo depois subsidiárias em países como a Croácia e a Eslovénia. Todas estão sob intervenção das autoridades de resolução, estando congelados grande parte dos movimentos (e limitados os depósitos). Uma decisão que colocou um travão à venda das operações na Croácia e Eslovénia que estava em curso desde o final do ano passado.
Há outras unidades do Sberbank em países europeus, como a Ucrânia e a Bielorrússia, passando por Chipre (a empresa do sector financeiro Arimero Holding Limited) e ainda pelo Luxemburgo (onde está o gestor de fundos SB Securities). Além disso, também conta com operação no Reino Unido e Estados Unidos.
Em Portugal, o Sberbank Europa atua em regime de livre prestação de serviços, uma espécie de passaporte comunitário que é dado a bancos que atuam na União Europeia que acionem essa autorização – é normal nos serviços financeiros acontecer. No caso do banco austríaco, a licença está ativa, mas não há qualquer indicação sobre negócios feitos no país.
VTB: o grupo acionista de um banco em Portugal
Vietname, Alemanha e Angola são geografias onde está o VTB Bank, o segundo maior banco russo que controla perto de 20% dos ativos do sector. Tem capital maioritário do Estado e as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e aliados congelam os seus ativos, tornando-se “inacessível ao Kremlin”, como indica o comunicado do Tesouro americano. Nomes da liderança do VTB foram acrescentados à lista de sanções europeias, que existem desde a anexação considerada ilegal da Crimeia pela Rússia.
É este o banco russo que tem uma posição acionista de 12,2% no português Banco Finantia, posição que reforçou nos últimos anos. É um investidor de longa presença no banco de nicho. No seu Conselho Estratégico, estão três nomes ligados ao VTB.
No comunicado do Tesouro americano, não há menção específica a participações minoritárias, como aquela que o banco russo tem no Finantia. Estão apenas listadas as posições internacionais, como a angolana, o VTB Africa. Este banco tem um peso limitado, tendo um ativo em torno de 350 milhões de euros.
No comunicado dos EUA, são anunciados bloqueios a três outras instituições financeiras russas: Otkritie, Novikom, and Sovcombank.
Mais um banco estatal, o Otkritie ocupa o sétimo lugar na dimensão do sistema bancário russo. Tem 12 empresas subsidiárias, como uma seguradora e um banco, não só na Rússia como em Chipre. O estatal Novikombank é de menor dimensão, mas encontra-se na lista dos 50 maiores bancos. A sua inclusão prende-se com a área de atuação: o banco financia o sector da defesa.
O Sovcombank é o terceiro maior banco de capitais privados da Rússia, sendo o nono no ranking de bancos. Tem 22 subsidiárias da área de serviços financeiros na Rússia e Chipre. Como geografias acionistas constam entidades do Qatar, Arábia Saudita, Japão, entre outros.
Na Rússia, também há bancos europeus com presença significativa: o Raiffeisen Bank International e o Unicredit são exemplos. As ações dos bancos afundaram-se esta segunda-feira. O banco austríaco resvalou 14% em Viena, enquanto o Unicredit cedeu 9,5% em Milão. Entidades bancárias alemãs também perderam valor devido à exposição a empresas com presença na Europa de Leste, como conta a Bloomberg.
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Itália e França mais expostos, Novo Banco com exposição residual
De acordo com a Reuters, os bancos italianos, franceses e austríacos são os mais expostos à economia russa.
Em Portugal, o Observador fez um trabalho em que os bancos nacionais deram conta de que não tinham exposição. O Novo Banco é o único que tem, inclusive através de dívida da Gazprom, denominada em euros – ao Expresso, o banco não quis comentar os mais de 10 milhões de euros de investimento que são atribuídos na notícia.
O Expresso contactou o Banco de Portugal na passada semana, para perceber a exposição de entidades nacionais à economia russa, mas não obteve ainda uma resposta.