Indústria

Empresários portugueses do calçado convictos de que vão "arranjar soluções" para se manterem competitivos nos EUA

Empresários portugueses do calçado convictos de que vão "arranjar soluções" para se manterem competitivos nos EUA
D.R.

A indústria portuguesa do calçado, que exporta mais de 90% da sua produção para 170 países, iniciou este domingo a sua participação na feira internacional de calçado Micam, em Milão

A ameaça de imposição de novas taxas alfandegárias pelos EUA está causar alguma incerteza e apreensão nas empresas portuguesas de calçado, mas a convicção é que o setor "vai arranjar soluções" para se manter competitivo naquele mercado.

"[O mercado norte-americano] interessa-nos sempre. Vai depender um bocadinho do retalho lá e de qual vai ser a dificuldade, mas acredito que a situação vai ser geral para todos e as marcas vão continuar, na verdade, todas a competir sob preços idênticos", afirmou o presidente executivo (CEO) da Procalçado.

Em declarações aos jornalistas em Milão, onde a empresa de Vila Nova de Gaia integra a comitiva portuguesa presente na feira internacional de calçado Micam, José Pinto destacou que os Estados Unidos são "um mercado importante" para a Lemon Jelly, marca própria que a Procalçado exporta para aquele país desde 2016.

"É um mercado que temos vindo a desenvolver. Tem tido altos e baixos, mas neste momento está estável. Não estamos ainda a sentir o efeito deste novo governo, mas como também temos ligação com o Canadá, vamos ver agora nos próximos tempos o que é que as taxas podem trazer", afirmou o empresário.

Apesar da atual incerteza quanto aos próximos passos da nova administração de Donald Trump, José Pinto está seguro de que a empresa continuará a ter "produto competitivo para continuar a trabalhar" e "a ter relevância" naquele mercado, que está entre os cinco maiores destinos de exportação da Lemon Jelly.

Nesta 99.ª edição da Micam, a marca tem em destaque um novo produto: uma carteira de senhora fabricada em BioCirFlex, um termoplástico de origem biológica, que garante ser a primeira do mundo "totalmente compostável e reciclável".

Presente nos Estados Unidos desde 2018, a marca "As Portuguesas" - resultado de uma parceria entre os grupos Kyaia e Amorim -- encara com preocupação, "mas sem medo", um eventual aumento das taxas alfandegárias naquele mercado, que é o seu principal destino de exportação, com um peso de "quase 30%" nas vendas.

"Não vamos parar de exportar para lá. Vamos arranjar soluções junto dos nossos parceiros, certamente vai haver formas de colocarmos lá os nossos produtos", disse o fundador e CEO da marca, também presente nesta edição da Micam.

Embora admita ter sentido algum "nervosismo" dos clientes nas feiras em que a marca participou este ano em Atlanta e Nova Iorque, Pedro Abrantes garante não ser intenção d' "As Portuguesas" dar "passos atrás" nos EUA.

Apesar da atual incerteza, o diretor comercial da Kyaia diz que as vendas da empresa de Guimarães para os EUA "continuam estáveis", representando 18% das suas exportações, o que faz deste o seu segundo principal mercado, depois do Reino Unido.

Paulo Monteiro admite que um eventual agravamento das taxas alfandegárias é motivo de preocupação, mas diz que é "principalmente a indecisão" que pode vir a prejudicar o negócio.

Em declarações aos jornalistas à margem da visita à comitiva portuguesa na Micam, o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) reiterou que os EUA são "um mercado absolutamente estratégico" para o setor e que "não vai desistir" da aposta feita naquele destino de exportação.

"Pelo contrário, estamos a reforçar a nossa presença no mercado norte-americano", enfatizou Paulo Gonçalves, salientando que as exportações do setor para os EUA "praticamente duplicaram na última década", tendo crescido 25% nos últimos três anos e totalizado dois milhões de pares e 94 milhões de euros em 2024.

O diretor de comunicação da APICCAPS ressalva que estão ainda "vários cenários em aberto", nomeadamente "se as empresas europeias vão ser taxadas num determinado montante e as empresas chinesas, por exemplo, noutro", e nota que, "se as tarifas forem iguais para todos, no limite quem vai ser penalizado vai ser o consumidor norte-americano".

"Há vários cenários em equação e, nesta fase, temos de esperar para ver, o que nunca é um bom presságio nos negócios. Gostaríamos que este processo negocial (se é que é de um processo negocial estamos a falar) seja resolvido tão cedo quanto possível", referiu.

Lembrando que o mais recente plano estratégico traçado pela APICCAPS elegeu como prioritárias 145 cidades, das quais "dois terços estão na Europa ou nos EUA", o responsável associativo afirma que o setor está atualmente "mais preocupado com o modesto desempenho económico dos principais mercados europeus do que, propriamente, com o mercado norte-americano".

"Por isso é que temos insistido para ter mais empresas a participar em iniciativas promocionais no exterior e estamos a investir noutros mercados que não eram tradicionais para nós, como é o caso da Coreia do Sul e, este ano, das abordagens que vamos fazer aos países árabes e ao Japão. Estamos à procura de novas janelas de oportunidade onde o calçado português possa continuar a crescer", enfatizou.

A indústria portuguesa do calçado exporta mais de 90% da sua produção para 170 países, sendo a Alemanha, França, Países Baixos, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos os seis principais mercados do setor.

* A agência Lusa viajou a convite da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS)

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