Lula e Costa dão pontapé de saída para participação da portuguesa OGMA na construção do avião militar Super Tucano
NUNO BOTELHO
Vindos do Porto, no KC-390, o avião militar da Embraer, com tecnologia portuguesa, António Costa e Lula da Silva aterraram em Alverca para assinar um protocolo para o desenvolvimento do novo Super Tucano A 29N, um avião com padrões NATO. Um projeto que permitirá à OGMA aumentar as suas receitas para 500 milhões de euros
Há um novo projeto da Embraer que irá passar pela indústria aeronáutica portuguesa, que irá participar na produção do avião Super Tucano, através de uma parceria com a OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal, detida em 65% pela empresa aeronáutica brasileira, acionista desde 2004.
"É um ciclo virtuoso em que ganha a indústria portuguesa e a Embraer, com o sucesso do seu programa", destacou Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, na cerimónia de assinatura do memorando para a parceria no Super Tucano, esta segunda-feira nas instalações da OGMA, em Alverca. Se tudo correr como previsto, dentro de 20 anos terão sido construídas 200 unidades do Super Tucano A29N.
Lula da Silva e António Costa chegaram a Alverca pouco antes das 13h30, no avião KC-390, o primeiro de cinco aviões da Embraer com tecnologia portuguesa, ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Vieram para assistir à cerimónia, mas não prestaram declarações.
António Costa e Luís Lula da Silva à chegada ás OGMA, no novo KC-390
NUNO BOTELHO
Francisco Gomes Neto afirmou que esta parceria com a OGMA para a nova versão do Super Tucano, preparado para os padrões da NATO, é uma "nova fase" dos investimentos da Embraer em Portugal, e acrescenta valor a "esta empresa centenária" que a Embraer ajudou "a modernizar".
A OGMA, onde o Estado português detém 35% do capital, contribui com 10 milhões de euros por ano para as exportações portuguesas.
Hoje a OGMA tem cerca 230 milhões de euros de receitas, mas prevê-se que chegue aos 500 milhões de euros anuais até 2035 com a participação na construção do Super Tucano N29 N, avançou Gomes Neto. Um projeto que permitirá criar mais 200 novos empregos.
O memorando de entendimento, assinado esta segunda-feira na OGMA, conta com o envolvimento dos parceiros Centro de Engenharia e Desenvolvimento do Produto (CEiia), a Empordef Tecnologias de Informação (ETI), a GMVIS Skysoft e a OGMA.
A atual versão do avião militar Super Tucano, da qual existem 60 aeronaves, é comercializada em 16 países, explicou Francisco Gomes Neto, gestor brasileiro que também já tem nacionalidade portuguesa, como contou esta segunda-feira.
200 Super Tucano A29N é a meta
O novo Super Tucano A29N será modificado e adaptado para o padrão NATO em Portugal, explicou. E as vendas podem chegar às 200 unidades nos próximos 20 anos. Portugal é o país onde a Embraer mais tem investido fora de Portugal.
Para a nova aeronave, a Embraer assinou já um contrato de venda com a Hungria, em 2020, e com a Holanda em 2021, explicou. E há já mais contratos em perspetiva com a Áustria e a República Checa.
"O apoio dos governos português e brasileiro será importante para a expansão desta aeronave", defendeu.
Paulo Monginho, presidente da OGMA, salienta a importância da indústria aeronáutica para as relações diplomáticas e comerciais luso-brasileiras. "A aeronáutica é uma das faces mais visíveis desta ligação de sucesso entre Brasil e Portugal", frisou. O KC-390, salientou, tem 750 mil horas de engenharia portuguesa.
A OGMA tem atualmente cerca de 70% das suas receitas em manutenção de aeronaves civis e militares, e os restantes 30% em fabricação de componentes e fuselagem, nomeadamente do KC-390, para a indústria aeronáutica.
Apostar no Super Tucano e expandir o KC-390
José Múcio Ribeiro, ministro brasileiro da Defesa, que acompanha o Presidente Lula da Silva na visita oficial a Portugal, tinha já sublinhado a importância desta parceria.
"Eu vim na equipa do Presidente porque ia ter aí uma agenda da Embraer do Super Tucano e do KC-390 que é positiva para o Brasil", afirmou José Múcio Ribeiro, em declarações à Lusa.
"O Presidente quer tanto incentivar a indústria de Defesa brasileira quanto aumentar o investimento na indústria da defesa", salientou. E explicou: numa "parceria da Embraer brasileira com a empresa daqui [OGMA], vamos fabricar aviões brasileiros já com as características da OTAN [NATO]" em Portugal. "O Super Tucano brasileiro não tinha essas características", explicou.
O ministro da Defesa admitiu ainda que outra das ideias a desenvolver é exportação do KC-390, já produzido pela Embraer em Portugal, para outros países europeus.
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