Esta semana os líderes europeus discutem a resposta europeia ao novo “America First”, a mais recente vaga protecionista dos EUA, mas o tema também já provocou irritações entre os parceiros europeus. Portugal está entre os que defendem um fundo soberano, a Alemanha e Países Baixos entre os que classificam a ideia de “Marx com esteróides”
Chama-se IRA - Inflation Reduction Act, foi lançado por Joe Biden para reforçar a capacidade industrial dos Estados Unidos da América (EUA) e reduzir a sua dependência em produtos estratégicos face à China, mas acabou por provocar um pequeno terramoto na Europa.
Adepta do mercado livre, com regras de ajudas de Estado que acabam por prejudicar as empresas europeias face a concorrentes externos e com uma regulamentação pesada, a União Europeia assiste ao aperto do cerco a ocidente e a oriente. Os chineses somaram à sua forte subsidiação industrial mais 260 mil milhões de euros para investimentos em tecnologias limpas nos próximos cinco anos. Os EUA não ficaram atrás e avançaram com poderosos instrumentos que os europeus dizem ser discriminatórios e que, aliados à subida dos preços da energia, devido à guerra na Ucrânia, podem ditar uma transferência de investimentos da Europa para os Estados Unidos.
Nos últimos meses tem havido intensos e tensos debates nos meios diplomáticos – “estão a prejudicar o meu país”, chegou a acusar Emmanuel Macron – e esta semana os lideres europeus juntam-se numa reunião extraordinária para começar a definir uma estratégia comum.
Ursula von der Leyen sistematizou as bases da discussão, com um documento que desbloqueia licenciamentos, agiliza acesso a fundos europeus, permite aos Estados apoiarem diretamente setores estratégicos nas áreas das tecnologias e das energias verdes mas dinheiro novo, como o que foi disponibilizado durante a Covid, não há.
O fundo de soberania é ainda uma miragem, e a perspetiva de uma espécie de PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para a política industrial, como defendem Portugal e França, terá dificuldade em passar no crivo dos países do norte e centro da Europa.
A Europa diz querer “liderar, com rapidez, ambição e uma direção clara e comum” mas chega atrasada ao problema – e, com as habituais divisões internas, não é certo que consiga cumprir o desafio.
Deixamos-lhe um descodificador com 15 perguntas e respostas para se orientar num dos debates mais candentes do momento.
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