Juros dos depósitos aproximam-se dos 3% em Portugal, BCE ainda está insatisfeito com bancos europeus
Sean Gallup
Vice-presidente do BCE considera que os bancos vão ter de subir mais os juros dos depósitos. Portugal continua abaixo da média europeia, apesar de em outubro os juros dos novos depósitos terem tido o maior aumento em 20 anos
Os juros dos novos depósitos a prazo da banca portuguesa aproximaram-se, em outubro, da fasquia dos 3%, depois de terem registado um avanço mensal nunca antes visto. Mas o valor médio continua aquém do sector europeu, sendo que o Banco Central Europeu (BCE) continua a considerar que a remuneração paga pela banca europeia ainda tem de crescer mais.
A taxa de juro dos novos depósitos a prazo em Portugal passou de 2,29%, em setembro, para 2,93%, em outubro, segundo os dados divulgados esta segunda-feira, 4 de dezembro, pelo Banco de Portugal. Um ano antes, o juro médio era de 0,24%.
Este é o décimo mês consecutivo de subida da remuneração média dos novos depósitos a prazo comercializados pela banca nacional, sendo que a variação entre setembro e outubro, de 0,64 pontos percentuais, é “o maior aumento desde o início da série (em janeiro de 2003)”.
O Banco de Portugal mostra a remuneração paga por prazo. Os novos depósitos com prazo até um ano – a esmagadora maioria dos novos depósitos a prazo – tinham em outubro uma taxa de 2,95%, acima dos 2,31% em setembro. A remuneração era de 2,15% para os depósitos com prazos entre 1 e 2 anos (era de 2,03% em setembro), enquanto nos que têm prazo superior a dois anos a remuneração passou de 2,10%, em setembro, para 2,13%, em outubro.
Como mostraram os dados do Banco de Portugal da semana passada, o montante de depósitos tem vindo a crescer, com os portugueses a retirar aplicações à ordem (sem remuneração atrativa) para os novos depósitos que os bancos oferecem.
É o próprio Banco de Portugal que mostra que Portugal, com a média de 2,93%, continua abaixo da média dos países do euro, que se situou, em outubro, em 3,27%. Uma subida de 0,19 pontos percentuais em relação ao mês anterior, segundo o Banco Central Europeu.
Chipre e Grécia encontram-se no fim da tabela, com taxas médias próximas de 1,5%, com Espanha e Irlanda imediatamente abaixo de Portugal. Estónia, Itália e França são os países em que os depósitos têm taxas mais elevadas, e mais próximas daquela que é a taxa de juro de referência da zona euro (4,5%), e da facilidade permanente de depósito (4%).
Estes são os valores dos novos depósitos a prazo, não contando com os depósitos à ordem (à disposição do cliente para utilização imediata). A banca portuguesa continua a dizer que é prejudicada na comparação europeia pela diferença de composição face aos restantes bancos.
“Vemos que os bancos estão a demorar na passagem de juros mais elevados para os depositantes. Os bancos podem demorar porque, neste momento, ainda beneficiam de liquidez abundante”, segundo declarou o ex-ministro espanhol e agora número dois de Christine Lagarde.
De Guindos quer mais: “Estamos a tomar medidas para reduzir o excesso de liquidez, para que, mais cedo ou mais tarde, se tornem realidade os juros mais elevados em contas poupança”.