Até aqui, era preciso recuar quase cinco anos para encontrar um momento de queda na carteira de crédito à habitação em Portugal face ao ano anterior. Mas já não é preciso recuar tanto: foi precisamente isso que aconteceu em julho passado, segundo os dados que o Banco de Portugal divulgou esta segunda-feira, 28 de agosto. É o quinto mês consecutivo em que o volume de crédito concedido pelos bancos para a aquisição de compra está abaixo dos 100 mil milhões de euros.
“No final de julho de 2023, o montante total de empréstimos para habitação era de 99,3 mil milhões de euros, menos 0,1 mil milhões de euros do que em junho. Relativamente a julho de 2022, os empréstimos com esta finalidade decresceram 0,1%”, segundo o comunicado – em junho, a variação tinha sido positiva, de 0,4%.
“Desde outubro de 2018 que não se observava uma taxa de variação anual negativa para o crédito à habitação”, continua o supervisor. A taxa de variação anual já vinha abrandando desde julho de 2022, acompanhando a decisão de subida de juros do Banco Central Europeu (BCE) que aí começou; só que só agora passa a haver uma variação homóloga negativa.
É o fim de um período em que os bancos foram conseguindo financiar mais a economia do que nos anos anteriores, sendo que em dois anos e meio (fins de 2020 e início de 2023), as taxas de crescimento foram mesmo superiores a 2%. Agora, há uma quebra do crédito, fazendo com que a carteira dos empréstimos à habitação se afaste da fasquia dos 100 mil milhões de euros pelo quinto mês seguido.
Amortização antecipada e menor procura
O objetivo do aumento de juros pelo BCE é combater a inflação, mediante um abrandamento da economia, acalmando também o financiamento à economia, o que tem vindo a acontecer em Portugal. O Banco de Portugal considera que “esta evolução reflete o aumento das amortizações antecipadas e o abrandamento na procura de crédito à habitação”.
Ajudadas pela suspensão das comissões pagas nessa decisão, as amortizações de crédito à habitação antes do prazo previsto (tanto parciais, como totais) têm vindo a crescer, como a autoridade liderada por Mário Centeno tem divulgado. Também os novos créditos recuam, o que acaba, ao fim de algum tempo, por ter impacto em toda a carteira: se não entram novos créditos e se uma parte dos que existem é amortizada, a carteira perde dimensão.
Os resultados dos bancos nos primeiros seis meses do ano têm apontado para um abrandamento da nova concessão de crédito à habitação, o que tem tido reflexos na dimensão da carteira de todos eles.
A descida de 0,1% em julho compara com a taxa de variação positiva de 0,8% na zona euro, segundo os dados revelados pelo BCE – é um abrandamento face a 1,3% no mês anterior, mas não uma quebra, como em Portugal. São, ainda assim, as evoluções anuais europeias mais fracas desde 2015.
Crédito ao consumo cresce, mas financiamento a empresas recua mais
Já o crédito ao consumo tem tido uma evolução menos negativa e até melhorou até em relação ao ano anterior. “Os empréstimos ao consumo atingiram, no final de julho, 20,9 mil milhões de euros, igual a junho. Em termos anuais, este valor traduz um crescimento de 4% em relação a julho de 2022 (3,8% em junho)”, aponta o comunicado do Banco de Portugal. Na zona euro, a subida homóloga foi de 2,8%.
Já no que diz respeito a crédito a empresas, as evoluções são mais negativas: “o montante de empréstimos concedidos pelos bancos às empresas ascendeu a 73,7 mil milhões de euros, no final de julho de 2023, menos 0,4 mil milhões de euros do que em junho”.
Também há quebra face ao ano anterior, mas, no caso dos empréstimos a empresas, essa tendência já se verificava desde o início de 2023: “Relativamente a julho de 2022, o montante destes empréstimos decresceu 2,6%, evolução semelhante à observada em junho (-2,7%)”. Diz o Banco de Portugal que as indústrias transformadoras, o alojamento e restauração e a eletricidade, gás e água foram os setores que mais contribuíram.