Empresas

Crise na Global Media: Fernando Alves diz que TSF "foi tomada por um grupo de gente que não é fiável"

Crise na Global Media: Fernando Alves diz que TSF "foi tomada por um grupo de gente que não é fiável"
Inácio Rosa/Lusa

Fernando Alves, um dos fundadores da rádio TSF, explicou ao “Público” os motivos que o levaram a afastar-se e denunciou as más práticas impostas pelas administrações e direções mais recentes. O programa de rescisões na Global Media termina a 10 de janeiro

Fernando Alves, um dos jornalistas fundadores da “TSF”, denunciou, em entrevista ao “Público”, o “desinvestimento na rádio” que, em setembro, o fez abandonar o ofício. Com elogios ao “milagre da TSF, o milagre inicial”, o autor da crónica “Sinais” - ao longo de três décadas - lamenta as opções das últimas administrações do Global Media Group.

Apesar de admitir que não conheceu José Paulo Fafe, CEO (presidente executivo) da Global, Fernando Alves garante estar desiludido com as decisões editoriais que também tocam à “TSF”: “Zanguei-me muito com o rumo que as coisas estavam a tomar na TSF em setembro. Nada que não se adivinhasse. A TSF foi tomada por um grupo de gente que não é fiável e que trata deste assunto sagrado, que é a rádio e os jornais, como miúdos que desmancham um brinquedo. Dá-se um brinquedo a um miúdo e ele pode destruí-lo num ápice. É uma espécie de volúpia destruidora”. São administrações que, de acordo com o autor e fundador da rádio, “parecem desmantelar, com um prazer sádico, uma coisa que demorou muito tempo a construir”.

“Deixámos de ir ao fim do mundo. E às vezes nem vamos ao fim da rua — como canta um spot da TSF que por acaso foi feito por mim. O problema não é tanto deixarmos de ir, se não temos maneira de comprar o bilhete para o fim do mundo — o problema é que muitas vezes deixámos de ter o desejo de ir. (…) Lembro-me de um tempo em que os administradores e os diretores tinham uma paixão pela rádio, no caso dos diretores, uma paixão assolapada, e eram os primeiros a motivar-nos a avançar com outras possibilidades mais aliciantes de fazer. Tivemos administradores que tinham orgulho no património que ali estava”, disse Fernando Alves ao “Público”.

Na entrevista, o autor de “Sinais” adianta que há já alguns anos que as alterações na administração refletem incerteza para os profissionais da “TSF”. “O que fomos sentindo foi que os que decidiam a vida da rádio não gostavam muito de rádio. Pergunto-me porque é que quiseram ter aquela rádio. É claro que sabemos todos a resposta.” E Fernando Alves prossegue: “Eles queixam-se sempre do prejuízo que dão os jornais e as rádios. Então porque é que os compram? Porque é que querem tê-los? Algum ganho terão, ainda que não seja contabilizável. Não são suicidas, não se metem nos negócios para perder.”

A 28 de dezembro, a Global Media informou os trabalhadores de que não tinha condições para pagar os salários referentes ao mês de dezembro, sublinhando que a situação financeira é "extremamente grave".

A Comissão Executiva não se comprometeu com qualquer data para pagar os salários de dezembro, mas sublinhou que estava a fazer "todos os esforços" para que o atraso fosse o menor possível. Entretanto, o grupo pagou na quinta-feira o subsídio de refeição referentes ao mês passado e os salários aos trabalhadores nos Açores.

O programa de rescisões na Global Media termina a 10 de janeiro, dia para o qual também foi convocada uma greve dos trabalhadores do grupo.

A 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".

A Comissão parlamentar de Cultura e Comunicação aprovou as audições do administrador da Global Media Paulo Lima de Carvalho e do consultor de comunicação Luís Bernardo sobre a situação no grupo de comunicação social. O requerimento do Bloco de Esquerda foi aprovado por unanimidade.

Na terça-feira, há novas audições sobre a Global Media, que detém marcas como a “TSF”, “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”: às 10:00, será ouvido Marco Galinha; às 11:30, a ministra do Trabalho, e, às17:00, José Paulo Fafe. Na quarta-feira, será ouvido o ministro da Cultura, às 10:00.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate