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"Nunca me sentei com a Cofina", o negócio com a Media Capital "é um tema abstrato"

Paulo Fernandes e Mário Ferreira antes de terem entrado em rutura por causa da compra da Media Capital
Paulo Fernandes e Mário Ferreira antes de terem entrado em rutura por causa da compra da Media Capital
FACEBOOK DE MÁRIO FERREIRA

"Até haver um sim do lado da Cofina para nós é um tema abstrato (...) Até hoje eu não vi um papel assinado pela Cofina", diz à Lusa Pedro Morais Leitão, presidente executivo da Media Capital. Grupo antecipa lucros este ano

O presidente executivo da Media Capital garante que a compra da Cofina "é um tema abstrato" para o grupo, sem desenvolvimentos até agora, não tendo desde que assumiu o cargo em julho se sentado ainda para negociar com aquela empresa.

Em entrevista à Lusa, quando questionado sobre ponto de situação de eventuais negociações após o esclarecimento das duas empresas ao mercado em março, Pedro Morais Leitão afirmou não saber responder, "porque depende tudo da Cofina".

"Se eu me sento com a Cofina? Não, não me sentei com a Cofina nunca. Desde que entrei aqui nunca me sentei com a Cofina", afirma o gestor, que cumpre um ano na liderança executiva da Media Capital em julho.

Em 02 de março, às 22:34, o jornal Observador escreveu 'Media Capital, dona da TVI, em negociações para comprar Cofina, que detém Correio da Manhã'. A notícia levou no dia seguinte a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a determinar a suspensão das ações da Cofina e da Media Capital, "aguardando informação relevante ao mercado".

Em 03 de março, a Media Capital, que tem Mário Ferreira como presidente do Conselho de Administração, informou, então, que estava "atenta e disponível para analisar oportunidades de negócio", mas quanto à aquisição da Cofina ou de ativos do grupo de Paulo Fernandes que "nada" existia "de relevante".

E sobre uma eventual consolidação do setor, também Pedro Morais Leitão voltou agora a dizer que, "não sendo imprescindível", a Media Capital "não se pode imiscuir dela".

Ainda em 02 de março, antes, também a Cofina já tinha prestado esclarecimentos, depois do pedido da CMVM. A dona do Correio da Manhã e liderada por Paulo Fernandes esclareceu que", pela sua natureza de sociedade gestora de participações sociais, avalia em permanência todas as oportunidades de negócio que possam valorizar os seus ativos, numa perspetiva de compra ou de venda".

O grupo disse que tinham sido "realizadas abordagens preliminares por diversos assessores externos, com vista a encetar possíveis negociações, que estão a ser objeto de análise pela sociedade, sem que haja, na presente data, qualquer decisão ou conversações, entre a Cofina e, nomeadamente, a Media Capital ou os seus acionistas, relacionadas com a matéria da referida notícia".

Esclarecimentos que as declarações agora do CEO da Media Capital corroboram.

"Até haver um sim do lado da Cofina para nós é um tema abstrato (...) Até hoje eu não vi um papel assinado pela Cofina", sublinha Pedro Morais Leitão.

A notícia de compra ou de combinação de negócios entre as duas empresas em março aconteceu em véspera de se cumprir três anos do anúncio da desistência da Cofina em comprar a TVI após falhar a operação de aumento de capital (11 de março de 2020), o que ditou um destino diferente para a Media Capital, com Mário Ferreira a tornar-se acionista de referência.

Entretanto, em 14 de maio de 2020, Mário Ferreira entrou na estrutura acionista da Media Capital através da Pluris Investments, com 30,22%, prometendo trazer novo 'fôlego' à dona da TVI.

Media Capital espera lucros em 2023

Em abril, o grupo anunciou ter registado um lucro de 36,7 milhões de euros em 2022, o que compara com um prejuízo de 4,1 milhões em 2021, ajudado pelo negócio da venda das rádios, que permitiu um encaixe financeiro direto de 69,6 milhões de euros e a obtenção de uma mais-valia líquida de 46,1 milhões de euros.

Questionado se acredita voltar a obter resultados positivos em 2023, Pedro Morais Leitão respondeu: "Sim", mas não quis quantificar as expectativas.

"Só ser positivo é importante porque se excluíssemos o negócio das rádios, não, não teria sido positivo" [em 2022], sublinha, acrescentando que, apesar da conjuntura, estão "a trabalhar para isso".

Instado a revelar como correram os primeiros meses do ano, e apesar de não quantificar, o gestor mostrou-se satisfeito, mas prudente.

"No primeiro trimestre ficámos mais ou menos em linha com as expectativas, um bocadinho melhor do que as expectativas que tínhamos em termos de receitas e de rentabilidade (...), mas estamos a falar de coisas pequenas e que facilmente a vantagem que está pode ser posta em causa nestes meses seguintes", considera.

"Como sabem, o primeiro e o terceiro trimestre são trimestres mais fracos, o segundo e o quarto são trimestres mais importantes. Portanto, este segundo trimestre -- estamos a meio do segundo trimestre -- não começou muito bem. Deixa-nos aqui um bocadinho apreensivos, há uma série de coisas a passar-se no mercado que podem justificar isso, mas achamos que os anunciantes, em geral -- grande parte deles com atividades industriais, atividades de retalho -- sentiram também a subida dos seus custos, da inflação, de custos de energia, etc. Obviamente que afetaram as suas operações e estão a tentar limitar a estrutura de custos em todos os lados e o 'marketing' é uma das áreas onde investem mais, de forma mais importante, também estão tentar limitá-la", explica.

Em 2022, o grupo conseguiu reduzir a dívida líquida para 21,2 milhões de euros, nível "mais baixo da história" da Media Capital.

"O que eu tenho dito aos anunciantes com quem tenho falado diretamente é: 'se acreditam que isto tem alguma utilidade para vocês, é melhor não nos deixarem aqui com as receitas e com os custos a aproximarem-se em permanência'. Mas, enfim, (...) obviamente que (...) estou a defender o interesse do grupo e eles defendem o interesse do seu grupo. Há aqui um interesse de longo prazo que o setor da comunicação social necessariamente tem que a advogar para si próprio", afirma.

Assim, sobre as perspetivas para o mercado publicitário, admite que a conjuntura é difícil.

"No conjunto do ano, e considerando as expectativas que temos, vemos o mercado estável, com alteração das suas componentes. Ou seja, vemos algum do dinheiro que era mais investimento em televisões a ser transferido para o digital, isso é uma tendência de longo prazo que já falámos, e alguma recuperação do negócio de publicidade exterior que nos últimos anos foi penalizada devido à pandemia - as pessoas estavam em casa, portanto, não havia publicidade fora de casa. Há aí duas tendências, uma que me parece de longo prazo, e que vem em linha com o que se passa nos últimos 20 anos, outra que pode ser só circunstancial ou pode representar alguma coisa mais. A publicidade exterior (...) também começa a fazer alguma inovação e, portanto, também pode ter a ver com essa inovação que está a passar nesse setor", explica.

O grupo Media Capital possui, entre outros ativos, as estações televisivas TVI e CNN, desde novembro de 2021.

Em 09 de maio, na 32.ª edição do congresso da APDC, o CEO da Media Capital revelou que a CNN Portugal perdeu dois milhões de euros no seu primeiro ano.

Questionado quanto tempo considera o Grupo Media Capital razoável para ter uma CNN Portugal com prejuízos, Pedro Morais Leitão aponta três anos.

"O tradicional num grupo destes, eu diria que mais do que três anos a perder dinheiro é difícil, mas depende muito do contexto económico em que vamos viver, do contexto tecnológico em que vamos viver. A CNN (Portugal) arranca, à partida, com uma forte componente online -- deu-se de raiz tanta importância ao 'online' como à antena -- e acredita-se que a transferência de receitas publicitárias da antena para o 'online' vai poder gerida com essa presença dupla", refere.

No geral, o balanço, reforça, é positivo.

"Falando em nome da empresa, do Conselho de Administração que represento, claramente a mensagem geral é de satisfação em relação aos resultados do primeiro ano. Não esperávamos atingir a liderança de audiências tão rapidamente nos canais informativos e ficámos bem surpreendidos com a facilidade -- com a colaboração que temos com a CNN -- com que temos conseguido formar uma equipa dentro dos princípios certos e com as práticas de trabalho certas tão rapidamente", remata.

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