A subida das margens de lucro das empresas é um dos fatores que explica o forte aumento da inflação no ano passado, diz Mário Centeno, que faz um apelo para que tanto os lucros empresariais como os salários, sob pena de comprometerem os objetivos da subida dos juros.
Na apresentação do Boletim Económico de março da instituição, esta sexta-feira, em Lisboa, Centeno destacou que "as margens de lucro recuperaram bastante em 2022. Por isso, sim, pressionaram a inflação". O governador reconheceu que essas margens "tinham caído" na crise pandémica, e “seria natural que houvesse uma recuperação nos anos seguintes” mas a sua preocupação é que essa tendência possa continuar. "O ciclo de margens de lucro, tendo em conta o momento da economia, devia reverter-se", afirmou, salientando que "temos isso na nossa previsão. Projetando uma evolução mais contida das margens de lucro a partir de 2023".
Centeno atribuiu também responsabilidades aos salários na subida da inflação, dizendo que tiveram um "papel também grande na pressão sobre os preços". Neste contexto, Centeno que os "salários devem evitar crescer acima da produtividade". Caso contrário "colocarão pressão sobre os preços e sobre a política monetária".
Quanto às margens de lucro das empresas, vincou que "devem iniciar um processo de acomodação à nova fase, que não se compadece com aumentos das margens de lucro".
"É uma questão crucial para a definição do ciclo económico nos próximos anos", considerou Centeno, sem esquecer a política orçamental:
"Devíamos resguardar a política orçamental para se e quando for necessária".
Em suma, "os efeitos de segunda ordem - salários, margens de lucro e política orçamental que possa induzir um aumento da procura - têm de estar contidos para garantir que a transmissão da redução dos preços da energia a outras componentes da inflação se possa concretizar", afirmou o governador.
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