Sector imobiliário diz que o programa do governo para relançar habitação gera efeito contrário e origina quebra na procura
Num inquérito ao sector imobiliário divulgado esta quarta-feira conclui-se ainda que a quebra na procura para compra de habitação se deverá manter nos próximos três meses
A procura de habitação em Portugal está em queda e, na base deste abrandamento, está a incerteza gerada pelo programa público ‘Mais Habitação’, lançado pelo governo no início deste ano, a que se junta ainda a subida das taxas de juro. Este é o sentimento do mercado imobiliário que transparece do mais recente inquérito mensal de confiança – o Portuguese Housing Market Survey (PHMS).
O mesmo documento, divulgado esta quarta-feira, conclui que “a procura para compra de habitação mantém a tendência de queda e as expectativas são para que esta situação se mantenha nos próximos três meses”.
Realizado mensalmente em parceria pelo RICS (Royal Institution of Chartered Surveyors) e pela Confidencial Imobiliário, este levantamento “ausculta mediadores e promotores imobiliários sobre o sentimento relativo ao mercado residencial”.
A falta de verificação prévia de alguns projetos, como estruturas ou eletricidade, preocupa arquitetos e engenheiros
“Para os agentes inquiridos, a incerteza resultante do pacote ‘Mais Habitação’ está a afetar compradores e investidores, pressionando as vendas, que continuam abaixo dos níveis de 2022. A isto acrescem as condições adversas no mercado de crédito”, explica Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário.
Já Tarrant Parsons, economista senior do RICS, especifica que “as subidas das taxas de juro continuam a impactar a atividade do mercado habitacional, com as expectativas de curto-prazo a refletirem um sentimento de contenção”. E isso acontece num cenário positivo para a economia, já que “se antecipa um crescimento económico em torno dos 2,5% para Portugal em 2023, confortavelmente acima da média da zona Euro”, afirma o economista.
Procura reorienta-se para o arrendamento e inflaciona preços
O inquérito de abril, agora divulgado, mostra ainda que, devido a estes dois fatores de pressão, a procura residencial está a começar a direcionar-se para o mercado de arrendamento, “levando a um aumento adicional das rendas, que já naturalmente tendiam a crescer devido à escassez de oferta”.
Relativamente aos preços, o mesmo documento conclui que “não há perspetivas de descida em reflexo de um eventual choque de procura, uma vez que o mercado continua a lidar com uma grave falta de oferta”.