A Europa precisará de investir 67 mil milhões de euros por ano nas redes de eletricidade para garantir a continuidade de abastecimento aos consumidores e a resposta das infraestruturas às necessidades de descarbonização, de acordo com dados apresentados esta terça-feira em Lisboa por Kristian Ruby, secretário-geral da Eurelectric, associação europeia do setor elétrico.
“Precisamos de acelerar significativamente o investimento nas redes”, sublinhou Kristian Ruby durante a conferência Future On, que assinala os 20 anos da Elecpor, associação portuguesa do setor elétrico.
Ruby admitiu que o número, visto isoladamente, parece elevado. “São 67 mil milhões de euros por ano para manter as luzes acesas. É muito dinheiro, mas não nos devemos assustar. É preciso pôr em perspetiva”, declarou o líder da Eurelectric.
Kristian Ruby lembrou que só em importações de combustíveis fósseis a Europa gastou no ano passado 451 mil milhões de euros.
Além disso, de acordo com o secretário-geral da Eurelectric, se os diversos países e operadores de redes trabalharem em conjunto conseguirão alguma eficiência, e poderão reduzir as necessidades de investimento anuais para 55 mil milhões de euros.
A aposta em transformadores inteligentes e na digitalização também poderá contribuir para otimizar as redes.
Kristian Ruby notou ainda que o investimento necessário nas redes poderá ser realizado sem impactos relevantes nos preços da eletricidade, se houver um aumento da procura. “Se a procura crescer teremos mais kilowatts hora sobre os quais distribuir estes custos”, contextualizou.
O responsável da Eurelectric não tem dúvidas de que “se queremos descarbonizar temos que eletrificar consumos”.
Ruby salientou, na conferência da Elecpor, que “precisamos ainda de resolver desafios regulatórios”. “Bruxelas fez muito nos últimos três anos para melhorar o licenciamento, mas ainda falta isso ter tradução a nível nacional”, acrescentou.
“O principal desafio é colocar no terreno, na regulação nacional, a legislação europeia que já foi aprovada”, reconheceu o diretor de infraestruturas da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), Jorge Esteves, na mesma conferência.
O responsável da ERSE admitiu que é necessário verificar “quão envelhecida está a nossa rede”, para calcular a necessidade de novo investimento na rede de eletricidade em Portugal.
Já Clara Gouveia, administradora do Inesc Tec, notou que “vamos ter que transformar a forma como operamos a rede no dia-a-dia”, lembrando que a rede de eletricidade está a ter uma capilaridade cada vez maior à medida que vai crescendo a adesão a soluções de produção descentralizada (nomeadamente com as instalações solares para autoconsumo).
Clara Gouveia disse ainda que “o armazenamento de energia tem um papel fundamental”, ideia partilhada por Pedro Ribeiro, administrador operacional da Movhera (que adquiriu seis centrais hidroelétricas à EDP). O gestor da Movhera lamentou ainda as fracas interligações de eletricidade entre a Península Ibérica e o resto da Europa. “Teremos de ver a questão do armazenamento e das interligações. Não existe um mercado único”, frisou.
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