Em contraciclo com a Europa, preços da eletricidade em Portugal recuaram 6% no primeiro semestre
Pierre Chatel
Os preços da eletricidade na União Europeia no primeiro semestre subiram 14% para clientes domésticos, enquanto em Portugal baixaram 6%, indicam os últimos números do Eurostat. Mas no gás natural de uso doméstico o agravamento registado em Portugal foi maior do que o verificado na média europeia
A União Europeia registou no primeiro semestre deste ano um custo médio de eletricidade para clientes domésticos de 28,9 cêntimos por kilowatt hora (kWh), o que corresponde a um agravamento de 14% face ao mesmo período do ano passado. Mas Portugal observou, pelo contrário, um decréscimo de 6% dos preços médios da eletricidade para as famílias, para 20,7 cêntimos por kWh.
Os dados divulgados esta quinta-feira pelo Eurostat mostram uma tendência generalizada de agravamento dos preços da eletricidade na primeira metade deste ano na Europa. Mas alguns países conseguiram preços mais baixos para as famílias. A maior redução foi em Espanha, com uma queda de 41%, seguida da Dinamarca, onde o custo baixou 16%, Portugal, a pagar menos 6%, e Luxemburgo, com um recuo ligeiro, de 0,4%.
Uma análise da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) aos dados do Eurostat, publicada também esta quinta-feira mostra que no consumo doméstico Portugal tem agora o 10º preço mais baixo de eletricidade da União Europeia, com Espanha a conseguir o 7º preço mais baixo.
Os países com a eletricidade mais cara para consumidores residenciais são a Bélgica, Países Baixos e Alemanha, onde a energia elétrica custa agora mais de 40 cêntimos por kWh.
O preço médio da UE é 35% mais alto que o existente em Portugal. E na zona euro o valor médio para consumos domésticos supera o português em 41%, de acordo com a análise da ERSE.
Nos preços da eletricidade para a indústria Portugal apresenta uma situação ainda mais vantajosa: Espanha está 19% acima dos preços portugueses, e o custo médio da eletricidade na zona euro é o dobro do praticado em Portugal.
A posição portuguesa, significativamente abaixo da média europeia, no que respeita ao custo da eletricidade, beneficia em boa medida do facto de na primeira metade de 2023 o sistema elétrico ter registado tarifas de acesso à rede negativas (fruto de um conjunto de verbas canalizadas para o sistema elétrico e dos benefícios de parte da produção renovável ter um preço garantido muito inferior ao preço estimado para os mercados grossistas).
Em julho deste ano a ERSE agravou as tarifas de acesso à rede, o que aumentou os preços da eletricidade em Portugal, e poderá vir a ter reflexos no ranking do Eurostat para o segundo semestre, a divulgar só em 2024.
Phil Noble/Reuters
Gás natural para as famílias acima da média europeia
Mas se na eletricidade Portugal esteve em contraciclo com a Europa, em benefício dos consumidores portugueses, no gás natural tal não aconteceu.
Em média, as famílias da União Europeia pagaram no primeiro semestre mais 38% do que no ano passado.
Portugal teve, no entanto, um disparo de 68% dos preços do gás natural para clientes domésticos face ao primeiro semestre de 2022.
Vale a pena lembrar que o primeiro semestre de 2022 só se encontrou parcialmente afetado pelo impacto do disparo das cotações do gás devido à guerra na Ucrânia. Os efeitos foram especialmente sentidos pelos consumidores ao longo do segundo semestre, sendo que no início de 2023 os preços registaram algum alívio.
No gás Portugal compara mal com o resto da Europa no que toca a consumos domésticos: o preço médio na UE é 19% mais baixo e o preço médio em Espanha é 28% inferior. Mas no gás natural para a indústria a média europeia está 11% acima do custo médio em Portugal no primeiro semestre.
Na primeira metade do ano Portugal tinha o sexto preço mais alto da UE em termos de gás natural para consumo doméstico (17 cêntimos por kWh pela média calculada pela ERSE a partir dos dados do Eurostat), ficando acima das médias da UE e da zona euro (13,8 e 14,8 cêntimos, respetivamente).