A Fusion Fuel, empresa portuguesa que desenvolve equipamentos para a produção de hidrogénio verde, voltou a ter um trimestre no “vermelho”, registando no segundo trimestre deste ano um resultado antes de impostos negativo em 12,4 milhões de euros, que se soma às perdas de 2,6 milhões de euros no primeiro trimestre.
Se no primeiro trimestre a empresa ainda tinha contabilizado receitas de 582 mil euros, no segundo trimestre essa rubrica ficou a zero. E no comunicado ao mercado desta quarta-feira (a Fusion Fuel é cotada no índice norte-americano Nasdaq) a administração não esconde as dificuldades que tem tido para fazer vingar o seu negócio.
Em 2022 a empresa fechou o ano com um resultado antes de impostos negativo em 27,3 milhões de euros, que comparou com um resultado positivo de 23,6 milhões de euros em 2021.
“No segundo trimestre faturámos 1 milhão de euros a dois clientes em relação a projetos tecnológicos em curso. Embora este montante seja inferior ao esperado, consideramos que as nossas vendas de tecnologia [a Fusion Fuel tem um equipamento próprio de eletrólise, designado Hevo-Solar] no ano fiscal 2023 estarão genericamente alinhadas com as previsões”, observa a empresa.
“Esperamos que a faturação aos clientes fique à frente do planeado, mas as nossas receitas ficarão atrás”, alerta a Fusion Fuel, reconhecendo que o desenvolvimento dos projetos está a ser particularmente demorado e apontando o dedo à morosidade dos licenciamentos.
“Esperamos que a receita de desenvolvimento de projetos no ano fiscal 2023 seja nula. É uma redução de 20 milhões de euros em relação ao que esperávamos alcançar”, reconhece a administração da Fusion Fuel, lamentando não conseguir concluir até ao fim do ano dois projetos que tem em carteira e que somam uma potência de eletrólise de 10 megawatts (MW).
De uma perspetiva de previsões de receita, a Fusion Fuel vê este percalço como sendo “mais um atraso do que uma redução”. Em relação aos dois projetos não concretizados em 2023, a Fusion Fuel diz que mantém conversações com os investidores para que possam investir em outros projetos da carteira da empresa em fase de desenvolvimento.
Apesar das dificuldades na obtenção de receitas, e de uma desvalorização significativa em bolsa (desde o final de 2021, quando entrou no Nasdaq, a empresa viu as ações encolherem de cerca de 20 dólares para menos de 2 dólares atualmente), a Fusion Fuel faz um balanço positivo da sua capacidade de obter subsídios públicos para os projetos de hidrogénio.
Em Portugal, por exemplo, a Fusion Fuel já recebeu 6,5 milhões de euros ao abrigo da componente C5 do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). E em julho recebeu os primeiros 2 milhões de euros da componente C14 do PRR (de um apoio assegurado à Fusion Fuel no valor total de 10 milhões de euros).
A empresa refere ainda que em Portugal e Espanha já submeteu pedidos para financiamentos públicos de 65 milhões de euros para sete projetos, representativos de capacidade de eletrólise de 70 MW, esperando obter respostas sobre essas candidaturas até ao final do ano.
Além da dificuldade na concretização de alguns projetos e na obtenção de receita (que não a de subsídios), a Fusion Fuel teve de registar no segundo trimestre imparidades de 7,2 milhões de euros relacionadas com os componentes fabricados para os projetos que não chegaram a avançar. A empresa diz ainda não saber se conseguirá aproveitá-los para outros projetos, tendo decidido constituir imparidades pelo valor total.
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