Energia

Linha da central solar de Cercal, no Alentejo, vai afetar 200 sobreiros

Linha da central solar de Cercal, no Alentejo, vai afetar 200 sobreiros
Foto António Pedro Ferreira

A central fotovoltaica do Cercal, em Santiago do Cacém, será ligada a Sines por uma linha de 25 quilómetros, cujos apoios irão afetar duas centenas de sobreiros, segundo um documento que estará em consulta pública até 17 de julho

Linha da central solar de Cercal, no Alentejo, vai afetar 200 sobreiros

Miguel Prado

Editor de Economia

A linha de muito alta tensão que servirá para escoar a energia da futura central fotovoltaica de Cercal, no Alentejo, que é o maior projeto em Portugal da Aquila Group, deverá afetar cerca de 200 sobreiros, entre árvores a abater e outros exemplares que não serão arrancados mas serão afetados pela construção daquela infraestrutura.

O número consta do relatório de conformidade ambiental do projeto de execução da linha de eletricidade da central de Cercal, relatório esse que entrou esta semana em consulta pública no portal Participa, processo que decorrerá até 17 de julho.

Segundo o documento, “apesar de todos os esforços para evitar ao máximo a afetação” de sobreiros, não foi possível desenvolver o traçado da linha de muito alta tensão sem afetar as referidas duas centenas de árvores, em áreas de instalação de 30 dos 65 apoios da passagem da linha de muito alta tensão, numa extensão de 25,6 quilómetros.

“Este número reflete não só o número de sobreiros que serão diretamente afetados por corte, mas também o número de sobreiros que poderão ver o seu sistema radicular de alguma forma afetado pelas ações de escavação necessárias para a implementação das fundações dos apoios”, explica o relatório.

O projeto da central do Cercal é desenvolvido pela empresa Cercal Power, detida pelo grupo Aquila, com sede na Alemanha e vários projetos e ativos em Portugal (incluindo um conjunto de pequenas centrais hídricas adquiridas à EDP há vários anos).

Em entrevista ao Expresso em maio, o diretor de desenvolvimento de projetos da Aquila Clean Energy, Manuel Fonseca e Silva, já havia antecipado que a componente de ligação à rede da central de Cercal seria crítica, e que não seria possível evitar o abate de sobreiros.

Manuel Fonseca e Silva garantia que a Aquila estava a “tentar evitar ao máximo os abates de árvores”, mas o cenário é “complicado”, uma vez que “há povoamentos muito densos de sobreiros” ao longo do percurso da linha até Sines.

De acordo com o relatório de execução agora submetido a consulta pública, a Cercal Power “iniciou já as diligências necessárias para a obtenção das necessárias autorizações [para o abate de sobreiros], de acordo com o determinado na legislação em vigor”.

O projeto da central fotovoltaica, que terá uma capacidade instalada de 275 megawatts (MW), em Santiago do Cacém, teve uma declaração de impacto ambiental favorável em julho de 2021, mas condicionada ao cumprimento de uma série de medidas.

O empreendimento tem sido contestado pelo Movimento Juntos Pelo Cercal, que se queixa de terem ficado por resolver problemas como a diminuição da biodiversidade, a alteração do solo e a danificação da cobertura vegetal.

Esta central solar é apenas uma de várias centrais fotovoltaicas de larga escala projetadas para o Alentejo. Também em Santiago do Cacém a Iberdrola e a Prosolia estão a desenvolver uma central ainda maior, com mais de 1 gigawatt (GW) de capacidade, que teve no início do ano declaração favorável condicionada da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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