Portugal fechou o período inicial do esforço de redução do consumo de gás natural cumprindo o objetivo traçado pela União Europeia para este inverno. Os Estados-membros acordaram em 2022 reduzir em 15% o consumo de gás entre agosto desse ano e março de 2023 face à média dos cinco anos anteriores. Em Portugal a redução foi de 14,8%, mostram os mais recentes dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).
Segundo a DGEG, o consumo nacional de gás natural de agosto de 2022 a março de 2023 fixou-se em 37.923 gigawatt hora (GWh), menos 14,8% do que os 44.491 GWh do valor de referência, ou seja, o consumo médio para o mesmo período (agosto a março) dos cinco anos anteriores.
O relatório da DGEG, que faz o balanço da resposta portuguesa ao compromisso europeu assumido em agosto de 2022 (um dos esforços dos 27 para reduzir a dependência de gás russo, na sequência da invasão à Ucrânia), mostra que a principal fatia da redução de consumo veio da procura industrial e residencial, que encolheu 22,7%. O consumo de gás para produção de eletricidade apenas desceu 1,2% face à média dos cinco anos anteriores.
Portugal importa gás natural sobretudo através do terminal que a REN - Redes Energéticas Nacionais opera em Sines. Segundo a REN, no primeiro trimestre o gás consumido em Portugal foi importado, na sua maior parte, dos Estados Unidos da América e da Nigéria e, em menor escala, da Rússia (por navio) e de Espanha (por gasoduto). Ao contrário do petróleo e do carvão, o gás natural não foi objeto de sanções ou embargos da União Europeia em relação à Rússia, tendo os 27 apenas acordado em procurar outras fontes de abastecimento para progressivamente reduzir as compras de gás ao país.
A pequena redução do consumo de gás para a produção de eletricidade explica-se pela seca vivida em 2022, que obrigou a um recurso particularmente elevado às centrais de ciclo combinado a gás natural, para compensar a reduzida disponibilidade hidroelétrica.
No final de 2022 houve uma maior produção hídrica, mas em fevereiro e março de 2023 a geração hidroelétrica voltou a recuar, obrigando a um maior recurso às centrais a gás, o que também teve impacto nos números globais de consumo deste combustível.
Considerando somente o bimestre de fevereiro e março, Portugal teve uma redução do consumo de gás de 9% face à média dos cinco anos anteriores, resultado da combinação de um aumento de 28,3% na procura de gás para a produção de eletricidade e de uma descida de 22,7% no consumo convencional (empresas e famílias).
Mas, globalmente, os últimos oito meses tiveram o mais baixo consumo de gás natural em Portugal dos últimos seis anos, mostra também o relatório da DGEG.
A DGEG nota que nos outros setores que não o da produção elétrica, “continuou a tendência de redução do consumo de gás”, mas a mesma entidade frisa que “será importante continuar a monitorizar o desenvolvimento deste consumo para avaliar o caráter estrutural desta redução”. O relatório observa ainda que “as temperaturas amenas também reduziram a necessidade de consumo de gás nos setores classificados como ‘outros usos’".
Este relatório analisa os oito meses decorridos desde que a União Europeia apresentou uma meta de corte de 15% do seu consumo de gás natural, para permitir um inverno sem disrupções.
O acordo dos 27 contemplava uma regra de redução obrigatória de 15%, que pode ser ativada pela Comissão, em caso de emergência. Mas alguns países, em que se incluiu Portugal, procuraram garantir excepções atendendo às suas especificidades (como a menor capacidade de interligação com o resto da Europa). Nesses casos excepcionais, em caso de alerta, a redução obrigatória de consumo será de apenas 7%.
No final de março a União Europeia acordou prolongar os esforços de redução de gás por um ano, até março de 2024, estipulando que o consumo de gás natural nos próximos 12 meses deverá ser 15% inferior à média dos cinco anos até março de 2022.
Ao aprovar essa extensão, a UE revelou que a redução média do consumo de gás a nível europeu nos seis meses de agosto de 2022 a janeiro de 2023 foi de 19,3%. Portugal ficou ligeiramente aquém da média, apresentando um recuo de 16,4%.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes