Agricultores portugueses solidários com colegas franceses, que esta segunda-feira bloquearam as entradas de Paris
Em França luta-se pela melhoria dos rendimentos dos agricultores e por mais flexibilidade em algumas regras da Política Agrícola Comum
Em França luta-se pela melhoria dos rendimentos dos agricultores e por mais flexibilidade em algumas regras da Política Agrícola Comum
Coordenador de Economia
Os agricultores portugueses estão solidários com os seus congéneres franceses, que desde as primeiras horas da madrugada desta segunda-feira fazem um bloqueio nos principais acessos a Paris, com milhares de tratores nas ruas.
“Estamos solidários com a luta dos nossos colegas franceses por melhores rendimentos e por mais apoios à produção”, disse ao Expresso Pedro Santos, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Este responsável nota que “a insatisfação é grande e continua a crescer e nada nos diz que estas formas de luta não venham também a acontecer em Portugal, sendo que o nosso governo abandonou por completo a agricultura”.
Pedro Santos realça, porém, que “se agora fossemos para a rua todos os políticos diriam que iriam atender às nossas reivindicações, pois estamos em pré-campanha eleitoral e, isso, acaba por condicionar qualquer tipo de promessa”.
Na mobilização dos agricultores em França pretende-se denunciar não apenas a quebra de rendimentos dos agricultores, mas também as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação e a concorrência estrangeira, assim como a rigidez das regras ambientais da Política Agrícola Comum que estão a ‘asfixiar’ algumas produções.
Apesar de o governo francês ter já prometido medidas urgentes nas próximas 48 horas, os agricultores não desmobilizam e já há fontes que admitem que o protesto se possa arrastar por mais dias, não estando de parte a realização de ações de luta noutros países (já houve na Alemanha), inclusive em Bruxelas, junto ao edifício sede da Comissão Europeia.
“Com a preocupação da Agenda Ambiental, que torna cada vez a vida mais difícil aos agricultores, limitando a sua ação, a União Europeia esquece-se de que está sozinha e que, depois, em caso de falta de alimentos, não tem capacidade para arcar com as consequências”, sublinha Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA).
Este dirigente sublinha que, a nível europeu tem-se legislado muito na área do ambiente, limitando, por exemplo, o uso de pesticidas (numa altura em que há cada vez mais pragas e doenças), o recurso à manipulação genética das plantas (que precisam de ser cada vez mais resistentes às alterações climáticas, assim como na área do pousio, quando são precisas cada vez mais terras para cultivo. “Perante tudo isto, a França agora veio dizer ‘Basta’! Aquilo que é hoje um autêntico excesso de legislação ambiental ao nível da União Europeia, não é mais do que um verdadeiro garrote para os agricultores. Há mesmo um certo fanatismo ambiental em curso nas instâncias europeias e se não houver rapidamente uma revisão das políticas comuns para o sector, arriscamo-nos a ter uma agricultura sem agricultores”.
Jaime Piçarra alerta que “podemos chegar a um ponto em que vamos estar a comprometer a segurança de abastecimento alimentar à Europa por causa do fanatismo ambiental”.
E o que é “mais inacreditável”, segundo aquele responsável, é que, “estamos em pré-campanha para as legislativas e não vemos nenhum político a falar disto”. Aliás, conclui dizendo que, “mesmo em Bruxelas, parece que se está a legislar para uma realidade que não existe, o que, em última análise, só vai alimentar ainda mais os movimentos extremistas que estão cada vez com mais força junto das populações”.
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