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Regulador dos EUA autoriza petrolífera ExxonMobil a limitar votos de fundos acionistas

Regulador dos EUA autoriza petrolífera ExxonMobil a limitar votos de fundos acionistas
Spencer Platt/Getty Images

Novo modelo de votação permite aos investidores de retalho, 40% do total, alinharem automaticamente o seu voto com o da administração. Fundos ativistas perdem força nas decisões

A norte-americana ExxonMobil recebeu luz verde da Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado nos EUA, para contornar propostas dos chamados fundos ativistas que estão presentes na empresa, através de um novo sistema que automatiza o voto dos investidores de retalho em linha com o do conselho de administração, dando assim peso ao que for decidido pela gestão da empresa.

Segundo a proposta, os investidores individuais que aderirem ao sistema terão os seus votos contabilizados a favor da gestão, a menos que decidam optar por não participar. A medida surge quatro anos depois da surpreendente derrota da petrolífera num confronto acionista com o fundo Engine No. 1, que exigia à empresa um maior compromisso na redução da sua pegada de carbono.

A nova plataforma permitirá à Exxon mobilizar de forma mais eficaz os votos dos acionistas de retalho, que representam cerca de 40% da base de investidores da empresa, muitos dos quais não participam nas votações devido ao tempo necessário para analisar todas as propostas.

No entender da empresa, o sistema garante que estes investidores “tenham voz e sejam contabilizados”, ao mesmo tempo que impede que grupos ativistas explorem a baixa participação para promover agendas externas aos interesses da empresa.

Nos últimos anos, investidores ativistas apresentaram várias propostas pedindo à Exxon medidas mais ambiciosas contra as alterações climáticas.

Em 2021, o fundo Engine No. 1 conquistou três lugares na administração, argumentando que a aposta contínua em combustíveis fósseis representava um risco significativo para o futuro do negócio.

Em 2024, a Exxon processou os fundos Follow This e Arjuna Capital, num caso que grupos ambientais e alguns acionistas consideraram uma tentativa de silenciar vozes críticas. O processo contra Follow This foi arquivado por questões de jurisdição, enquanto o caso contra Arjuna terminou depois do fundo se comprometer a não apresentar novas propostas à empresa, sobre alterações climáticas.

Citado pelo jornal Financial Times, o fundo Follow This criticou a plataforma da Exxon, considerando-a mais uma tentativa de “silenciar investidores críticos” e manter a aposta da empresa em combustíveis fósseis pelo maior tempo possível. Mark van Baal, fundador do fundo ativista holandês, alertou que a medida reduzirá a influência de investidores institucionais sobre a empresa, concentrando o poder nas mãos da gestão.

Sistemas de votação automática já existem entre investidores institucionais, como a Vanguard, que oferecem opções de voto alinhadas com o conselho de administração. Alguns grupos ativistas utilizam serviços semelhantes para coordenar votos em favor de agendas progressistas.

Até agora, a SEC não tinha permitido que empresas criassem sistemas de votação automática pró-gestão, devido a preocupações sobre a concentração de poder no conselho e a redução da fiscalização. A decisão da Exxon sinaliza uma mudança, potenciando uma maior influência da gestão sobre os votos de retalho.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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