Na primeira operação de mercado depois das eleições legislativas antecipadas, Portugal colocou esta quarta-feira 1001 milhões de euros em dois leilões de Obrigações do Tesouro a vencer em 2031 e 2042.
Com esta operação em dívida de médio e longo prazo e as já realizadas desde o início do ano, Portugal já emitiu 61% do programa de colocação de dívida obrigacionista para 2024 que foi apresentado, no inicio do ano, pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), que aponta para a colocação de 13,9 mil milhões de euros até final do ano em obrigações.
Apesar da incerteza sobre a governabilidade do país, em virtude da vitória tangencial da coligação AD em relação ao PS que perdeu as eleições e o governo, Portugal conseguiu pagar juros inferiores aos registados em operações similares anteriores.
O IGCP é dirigido desde setembro de 2022 por Miguel Martín, que substituiu Cristina Casalinho na presidência do conselho de administração da agência de gestão da dívida.
No leilão da dívida a vencer em outubro de 2031, o Tesouro colocou 485 milhões de euros, tendo pago 2,645%. Em 2023 não se realizou nenhum leilão nesta maturidade. Quanto à linha a vencer em abril de 2042, foram emitidos 516 milhões de euros com uma taxa de 3,262%. Nesta colocação, o Tesouro pagou muito menos do que no leilão de 24 de janeiro, quando colocou 675 milhões de euros a uma taxa de 3,462%.
Nas Obrigações do Tesouro a vencer em 2042, Portugal pagou mais 61 pontos-base do que na mais recente emissão do Tesouro alemão nessa maturidade. A 28 de fevereiro, a agência germânica de gestão da dívida pagou 2,65%. Este diferencial é inferior ao prémio de risco de referência, ao spread exigido pelos investidores para comprar dívida a 10 anos, que está em 64 pontos-base.
Em relação a Espanha, o leilão da linha a vencer em 2031 pode ser comparado com a colocação a 7 de março em que o Tesouro espanhol pagou 2,965%, 35 pontos-base (0,35 pontos percentuais) mais.
Recorde-se que a reputação da dívida portuguesa nos mercados melhorou desde que fez o pleno das notações no escalão A por parte das cinco principais agências reconhecidas pelo Banco Central Europeu (Moody's, Fitch, S&P, DBRS e Scope), um rating que amplia os segmentos de investidores interessados na dívida portuguesa.
Os resultados eleitorais não provocaram, até à data, qualquer disrupção no mercado secundário da dívida, com os juros (yields) da dívida a 10 anos a oscilarem entre 2,83% (a 8 de março, antes das eleições) e um pico temporário de 2,98% durante a sessão de terça-feira, tendo fechado em 2,968%, e aberto esta quarta-feira em 2,95%. O prémio de risco, que mede o spread em relação ao custo da dívida alemã, baixou de 66 pontos-base, a 8 de março, para 64 pontos-base no fecho de terça-feira.
Os juros da dívida das economias integrantes do euro são condicionados, em larga medida, pela política do Banco Central Europeu, que continua sem antecipar o momento em que iniciará um ciclo de cortes nas taxas diretoras, ainda que, na última reunião, a 7 de março, Christine Lagarde, a presidente, tenha deixado a porta aberta para uma primeira descida em junho. A expetativa de que vai acabar, este ano, o ciclo de aperto monetário, com taxas restritivas do crédito à economia, tem provocado uma descida do custo de endividamento desde final de fevereiro na zona euro.
Segundo Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, as taxas em ambos os leilões desceram face ao nível em que estavam um mês atrás. “A subida de rating [para A-] por parte da Standard & Poors a 1 de março, bem como o movimento de descida de taxas em toda a dívida soberana europeia, ditaram o sucesso deste leilão. O Banco Central Europeu deu nota de que deverá começar a descer taxas em junho deste ano, o que levou a um ajuste dos prémios de risco, beneficiando a divida nacional, dado que permitiu ter taxas de juro mais baixas no leilão de hoje”, comentou Filipe Silva.