Distribuição

Lucros da Jerónimo Martins crescem 27,5% e o dividendo proposto é de 0,55 euros por ação

Lucros da Jerónimo Martins crescem 27,5% e o dividendo proposto é de 0,55 euros por ação

E 2023? “A inflação, nos países onde operamos, dá sinais de ser mais persistente do que no final de 2022 se esperava, reduzindo a confiança dos consumidores”, avisa Pedro Soares dos Santos

O grupo Jerónimo Martins, dono do Pingo Doce, fechou o exercício de 2022 com um crescimento de 27,5% nos lucros, para 590 milhões de euros, acompanhado de um aumento de 21,5% nas vendas, para 25,4 mil milhões de euros, e de uma subida de 17% no EBITDA, que se fixou nos 1,9 mil milhões de euros.

No que respeita à margem EBITDA, o grupo reporta uma redução de 0,3 pontos percentuais, para os 7,3%, a refletir “o aumento do investimento em preço e o impacto da inflação nos custos. O forte desempenho das vendas, resultante do foco na competitividade e na proteção dos volumes, esteve, no entanto, na base do sólido crescimento, em valor, do EBITDA”, refere o comunicado enviado à CMVM esta quarta-feira.

Quanto ao EBITDA da Distribuição Portugal (Pingo Doce e Recheio), cifrou-se em 323 milhões de euros, 12,6% acima do ano anterior, com a respetiva margem nos 5,7% contra os 5,8% de 2021.

O Conselho de Administração vai propor à Assembleia Geral de Acionistas o pagamento de um dividendo de 345,6 milhões de euros, 0,55 euros por ação (valor bruto) depois de um exercício que fechou com um cash flow de 706 milhões de euros e uma dívida líquida de 1,4 mil milhões de euros.

Portugal e Colômbia com “efeitos mais imediatos” da inflação

“Num ano marcado pela guerra na Ucrânia, assistiu-se a uma subida generalizada de preços que pressionou o poder de compra das famílias e levou a uma acentuada queda da confiança dos consumidores, nos três países em que operamos. Na Polónia, o mercado alimentar mostrou uma certa resiliência, enquanto em Portugal e na Colômbia a inflação teve impactos mais imediatos sobre o consumo”, refere o comunicado.

E Pedro Soares dos Santos, presidente e administrador-delegado, reforça esta nota no seu comentário ao desempenho do grupo em 2022, ao falar de “um ano marcado por particular incerteza e elevada pressão, deixando uma nota já relativa a 2023: “Volvidos quase três meses desde o início de 2023, a inflação, nos países onde operamos, dá sinais de ser mais persistente do que no final de 2022 se esperava, reduzindo a confiança dos consumidores e o poder de compra das famílias, e continuando a pressionar os nossos custos e margens”.

Em 2022, garante que na sequência das dificuldades antecipadas no início do ano, o grupo foi “fiel ao compromisso então assumido de fazermos a nossa parte para contribuir para a contenção da inflação alimentar. Fizemo-lo absorvendo parte dos aumentos de preço apresentados pelos nossos fornecedores, por forma a não transferir todos os incrementos registados ao nível do custo das mercadorias compradas para o aumento dos preços de venda ao consumidor".

Margem EBITDA em Portugal nos 5,9%

Sobre Portugal, o comunicado destaca “o aumento significativo da inflação alimentar para atingir uma média de 13,0%”, a par da “pressão da subida generalizada dos preços” a impactar “de imediato o rendimento disponível das famílias, levando à retração do consumo alimentar, com consequente queda dos volumes”, mas também destaca “a forte recuperação do turismo a propiciar um sólido desempenho do canal HoReCa (hotelaria e restauração)”. Em números, as vendas do Pingo Doce, com 472 lojas, aumentaram 11,2% ou 9,4% numa base comparável (excluindo combustível), e atingiram os 4,5 mil milhões de euros, com a margem EBITDA nos 5,9% contra 6,0% em 2021.

Nas perspetivas para 2023 no mercado nacional, o grupo antecipa que “os desafios colocados pela fragilidade do consumo interno” permaneçam em 2023, ao mesmo tempo que o turismo deve manter-se como o motor de crescimento do sector HoReCa. No terreno, vai “acelerar o seu programa de remodelações, implementando um modelo de loja que espelha a visão de longo prazo que se tem para o negócio, assente nas suas vantagens competitivas e fatores críticos de diferenciação: Perecíveis, Marca Própria e Meal Solutions”, antecipando a remodelação até 60 lojas e a inauguração de 10 inaugurações.

No que respeita ao Recheio, o plano também é de crescimento no canal HoReCa e no Retalho Tradicional, “contribuindo para o último a expansão da rede Amanhecer, que já integra mais de 500 parceiros”, depois de um aumento de vendas de 27,7%, para 1,2 mil milhões de euros. No Recheio, a margem EBITDA subiu de 4,7% em 2021 para 5,1% em 2022.

Polónia cresce acima da inflação

Na Polónia, a inflação alimentar também aumentou ao longo do ano, atingindo uma média de 15,4% nos doze meses, o que levou os “consumidores a tornarem-se progressivamente mais cautelosos, conferindo uma importância adicional ao fator preço”, diz o comunicado, o que não impediu o consumo alimentar de crescer acima da inflação.

A Biedronka, principal insígnia do grupo, com 3.395 lojas e uma quota de mercado de 28%, conseguiu “um desempenho notável, acima da inflação incorporada no cabaz e que se traduziu no reforço da respetiva quota e da liderança de mercado”, destaca o grupo. As vendas em moeda local, cresceram 24,1% (20,6% numa base comparável). Em euros, as vendas atingiram 17,6 mil milhões, 20,9% acima de 2021. O EBITDA cresceu 15,0% (+18,1% em moeda local), com a respetiva margem a descer 45 pontos base, para 8,8%,”em resultado da decisão de investir em preço num contexto marcado por um progressivo e substancial aumento dos preços alimentares, da eletricidade e dos combustíveis”, refere a Jerónimo Martins.

No que respeita à Hebe, as vendas cresceram 32,2% em moeda local ou 24,8% numa base comparável, e em euros somaram 358 milhões, 28,7% acima de 2021, com o EBITDA a aumentar 32 milhões de euros (25 milhões de euros em 2021) e a margem a fixar-se nos 9,0%, em linha com o ano passado apesar dos custos associados ao lançamento da operação internacional, na Chéquia e na Eslováquia.

ARA cresce 62,1%

Na Colômbia, “num contexto socioeconómico mais frágil, a elevada inflação alimentar, que atingiu 25,0% no ano, pressionou o consumo”, destaca o comunicado para referir que a Ara reforçou o seu posicionamento de preços baixos e a dinâmica promocional, obtendo um crescimento de de 62,1% das vendas em moeda local (60,5% em euros), que reflete um salto de 35,7% numa base comparável. O EBITDA da Ara cifrou-se em 60 milhões de euros, que comparam com 26 milhões de euros em 2021. A margem subiu de 2,3%, em 2021, para 3,4%, em 2022, “refletindo a melhoria da alavancagem operacional”, sublinha.

Os resultados financeiros foram de -162 milhões de euros, valor que compara com -154 milhões de euros registados em 2021 e inclui o reconhecimento de perdas de conversão cambial no montante de 5 milhões de euros, relativas a ajustes de valor das responsabilidades com locações operacionais capitalizadas na Polónia denominadas em euros, que, em 2021, foram de 3 milhões de euros. As Outras Perdas e Ganhos foram de -95 milhões de euros, incluindo o pagamento de 45 milhões de euros relativos a prémios atribuídos, a título excecional, às equipas operacionais na Polónia e em Portugal.

48% do investimento na Polónia

Sobre os investimentos, o grupo refere que somaram 1.013 milhões de euros, 48% dos quais canalizados para a Biedronka e 195 milhões centrados em Portugal. Para este ano, prevê que “fiquem em linha com o concretizado em 2022”.

Ainda no balanço do ano, a Jerónimo Martins refere que criou 7.638 postos de trabalho e pagou 845 milhões de euros em impostos, fechando o exercício como 47º maior retalhista do mundo, 31º retalhista mundial no segmento alimentar e 19º na Europa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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