A Sonae fechou 2022 com um crescimento de 10,9% no volume de negócios, para os 7,7 mil milhões de euros, apoiado em ganhos de quota de mercado e investimento. Mas o resultado líquido recorrente do grupo liderado por Cláudia Azevedo teve uma quebra de 16,7%, ficando nos 179 milhões de euros, revelou o grupo português em comunicado esta quinta-feira. E no quarto trimestre houve prejuízos de 10 milhões de euros. O resultado líquido reportado cresceu 27,7%, para 342 milhões de euros.
O conselho de administração propôs um dividendo de 0,0537 euros por ação, correspondente a um dividend yield de 5,7%, com base na cotação de fecho de 31 de dezembro de 2022 (0,935 euros).
O EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) cresceu 5,7%, para 635 milhões de euros, mas a margem subjacente de EBITDA baixou de 8,6% para 8,2%, sob a pressão “do esforço dos negócios de retalho em conterem o impacto da inflação nos preços ao consumidor”.
A redução dessa margem, diz a Sonae, “traduz os esforços contínuos para proteger famílias e clientes, com os negócios a suportar parte da pressão inflacionária e do aumento significativo dos custos, nomeadamente de energia, e a investir para garantir a competitividade das suas ofertas”.
No comunicado à imprensa sobre as contas de 2022 a Sonae indica que o “resultado líquido da unidade de retalho alimentar (MC) diminuiu 18%, com margem de lucro de 3%, sendo de 2,7% nos formatos alimentares”. Nessa divisão, a MC, o volume de negócios cresceu 11,5%, para 5,98 mil milhões de euros, ou 9,6% numa base comparável.
“Durante o ano, a inflação aumentou para níveis que o mundo não havia presenciado neste século, sobretudo devido aos aumentos acentuados nos custos de energia e às perturbações nas cadeias de abastecimento que afetaram toda a economia”, afirma Cláudia Azevedo no seu comentário ao desempenho do grupo.
“Para evitar uma maior sobrecarga nos orçamentos familiares, os nossos negócios de retalho suportaram parte da pressão inflacionista, à custa da sua própria rentabilidade”, diz a gestora.
Na análise dos resultados, o comunicado refere que no final de 2022 o NAV (valor líquido dos ativos do portefólio) da Sonae ascendeu a 4 mil milhões de euros, em linha como final de 2021, traduzindo o desempenho operacional dos negócios, os movimentos de criação de valor no portefólio e o desempenho dos mercados de capitais e consequente contração dos múltiplos de mercado.
As vendas online agregadas cresceram 17% e superaram 700 milhões de euros, demonstrando o sucesso da aposta no digital.
Investimento sobe, mas dívida desce
“Neste contexto desafiante, a Sonae manteve um nível elevado de investimento. No total, o grupo investiu 357 milhões de euros nas suas operações (um aumento de 28% face a 2021) e criou mais de 1200 novos postos de trabalho, ultrapassando os 48 mil colaboradores”, afirma a Sonae.
Quanto à dívida líquida, “caiu para o valor mais baixo deste século”, ficando nos 504 milhões de euros, com a liquidez disponível nos 1,3 mil milhões, destacou Cláudia Azevedo sobre o último ano do atual mandato do conselho de administração que lidera e que qualifica como “quatro anos conturbados e desafiantes”.
O impacto das imparidades na moda
Os negócios consolidados pelo método de equivalência patrimonial (NOS, Sierra e ISRG) aumentaram o seu contributo para o grupo em 51 milhões de euros, o qual juntamente com mais-valias geradas na venda da corretora de seguros MDS e da tecnológica Maxive, conduziram a um EBITDA consolidado de 927 milhões de euros no final do ano.
Os itens não recorrentes, onde se incluem a mais-valia de 146 milhões de euros com a alienação da Maxive e da MDS, totalizaram 162 milhões, limitando a comparabilidade dos resultados.
A impactar na quebra do resultado líquido, a empresa refere o resultado indireto de 43 milhões de euros na sequência das imparidades no negócio de retalho de moda, da desvalorização dos ativos da Sierra e do impacto cambial no valor dos ativos da Bright Pixel.
Custo de vida e quebra nos lucros
Por áreas de negócio, a Sonae liga a quebra de 17,8% no resultado líquido no retalho alimentar e a quebra de 2,7% na margem de lucro “ao ano desafiante para o mercado português de retalho alimentar, com um aumento do custo de vida das famílias devido à tendência de crescimento das taxas de inflação para níveis recorde e ao aumento dos custos com empréstimos à habitação. De facto, a inflação alimentar atingiu 19,5% no último trimestre e 13% no ano”.
Foi assim que o volume de negócios atingiu cerca de 6 mil milhões de euros, um crescimento de 11,5% face ao período homólogo e de 9,6% numa base comparável. E, nota a Sonae, “é um crescimento significativamente abaixo do aumento da inflação alimentar em Portugal, que no ano de 2022 foi de 13%”. Ao mesmo tempo, houve “erosão da margem de rentabilidade em 59 pontos base, para 9,4%, com o EBITDA subjacente nos 563 milhões de euros, a ter uma evolução inferior às vendas.
“Ao absorver parte dos aumentos de custos dos produtos e dos impactos da inflação, o resultado líquido da unidade de retalho alimentar da Sonae diminuiu 17,8% em 2022, para 179 milhões” num ano em que a MC abriu 65 novas lojas e remodelou 33, num investimento de 218 milhões de euros.
Sierra recupera
No retalho de eletrónica, a Worten cresceu no segmento de eletrónica e eletrodomésticos e em novas categorias, num desempenho que, diz a Sonae, “beneficiou do sucesso do seu marketplace e da oferta de serviços”, conduzindo a um volume de negócio de 1,2 mil milhões de euros em 2022 (+5,4% em termos homólogos). O EBITDA subjacente foi de 76,2 milhões de euros, o que representa uma ligeira redução face ao ano passado, com uma margem de 6,2%.
Na Zeitreel, o volume de negócios cresceu 12% em termos homólogos, para 387 milhões de euros, com um contributo positivo de todas as suas marcas. O EBITDA subjacente ficou praticamente em linha com o valor do ano passado de 27 milhões de euros, traduzindo numa redução da margem de 0,9pp para 7%, “apesar de uma base de custos mais eficiente que permitiu que minimizar o impacto do aumento dos custos operacionais num contexto inflacionário”, refere o comunicado.
A Sierra, unidade do sector imobiliário, registou um desempenho operacional positivo em 2022, “devido à recuperação bem-sucedida da atividade do seu portefólio de centros comerciais, nomeadamente das vendas dos seus lojistas e da estratégia renovada de expansão para novos negócios, setores e geografias”, com um aumento das vendas dos lojistas de 35% face ao período homólogo, ultrapassando os níveis pré-pandemia em 10%, e com taxas de ocupação a crescer para 98% na Europa. Para além disto, a área de serviços da Sierra expandiu-se para novas geografias, aumentando os ativos sob gestão não relacionados com atividades de retalho em 700 milhões de euros, para 1,3 mil milhões de euros.
Universo nos mil milhões
Nos serviços financeiros, o Universo ultrapassou a barreira de 1 milhão de clientes, dos quais mais de 700 mil clientes são digitais (68% do total de clientes) e a Sonae, avançando na implementação da sua estratégia no negócio de serviços financeiros, chegou a acordo com o Bankinter Consumer Finance para a criação de um operador líder em crédito ao consumo em Portugal, através de uma parceria 50/50.
A Bright Pixel investiu 48,7 milhões de euros nas empresas do seu portefólio e em novas empresas em diferentes segmentos, designadamente os reforços na Habit, na Iriusrisk, na Didimo e na Probe.ly. Relativamente aos desinvestimentos, atingiu um encaixe financeiro de 188 milhões de euros, destacando-se a mais-valia de 64,7 milhões de euros na venda da Maxive e das suas subsidiárias S21Sec e Excellium,
Nas telecomunicações, “o ano de 2022 da NOS foi marcado pelo sucesso da implementação do 5G, com o investimento (capex) total a ascender a 496 milhões de euros e a permitir ter 87% da população coberta pelo 5G no final do ano”, refere a Sonae. O volume de negócios aumentou 6,3% durante o ano, para 1,5 mil milhões e resultado líquido excluindo as mais valias referentes à alienação de torres atingiu 138 milhões, menos 4% face a 2021.
No retalho de desporto, as vendas totais aumentaram 41% em termos homólogos, ultrapassando 1,2 mil milhões de euros, a refletir o impacto de aquisições realizadas, com o canal online a representar18% do volume de negócios da ISRG. A margem diminuiu 1,7pp para 10,2% em consequência da alteração do peso dos diferentes canais (lojas físicas e online).
Neutralidade carbónica no horizonte
“Relativamente à sustentabilidade ambiental, não só nos mantivemos no caminho para cumprir o nosso compromisso ambicioso de atingir a neutralidade carbónica das nossas operações até 2040, como também estabelecemos um novo compromisso, “Zero Desflorestação” até 2030, um passo fundamental”.
Sobre o futuro, “o ritmo de mudança não vai abrandar”. “E há sempre riscos inesperados a surgir no horizonte. No entanto, estou confiante de que estaremos preparados para os enfrentar. Este ano está já recheado de projetos e iniciativas dinâmicos, repletos de inovação e sustentabilidade”, conclui Cláudia Azevedo, sem esquecer que no que respeita à igualdade de género, o grupo atingiu um ano antes do previsto o objetivo de ter 39%dos cargos de liderança a serem desempenhados por mulheres.
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