Exclusivo

Economia

Tarifas: Bruxelas preocupada com inundação de produtos chineses prepara nova resposta a Trump

Tarifas: Bruxelas preocupada com inundação de produtos chineses prepara nova resposta a Trump
STRINGER

A primeira ronda de tarifas europeias atinge mais de 21 mil milhões de euros de exportações norte-americanas. Mas um pacote muito maior de retaliação deverá ser apresentado já na próxima semana, como Plano B, para fortalecer a posição da UE nas negociações com Trump ou para ser aplicado em caso de falhanço

Tarifas: Bruxelas preocupada com inundação de produtos chineses prepara nova resposta a Trump

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

À falta de progresso nas negociações com os EUA, a União Europeia prepara-se para avançar com a primeira ronda de tarifas, em retaliação às taxas que Trump aplicou sobre o aço e o alumínio europeus. Só que esta não é a única ação que a Comissão Europeia prepara para o arranque da próxima semana.

De acordo com um porta-voz do executivo comunitário, o executivo liderado por Ursula von der Leyen prevê apresentar um plano de resposta ao resto das tarifas anunciadas por Trump - recíprocas e sobre a industria automóvel europeia - e que, na verdade, representam o grosso da guerra comercial, afetando mais de 350 milhões de euros em exportações da UE para os Estados Unidos.

"Também no início da próxima semana, como segunda fase da nossa resposta, apresentaremos o nosso plano", afirmou Olaf Gill. "Explicaremos qual é o roteiro, consultando depois os Estados-Membros e a indústria antes de apresentarmos as medidas finais".

Ainda não é uma resposta final, é o início de um caminho, tal como aconteceu com a resposta às taxas sobre o aço e o alumínio. A questão é o que estará dentro dessa segunda ronda retaliatória. Ao que o Expresso apurou, pode ser um mix entre mais tarifas sobre produtos norte-americanos, mas também outras opções, que afetem não só os bens norte-americanos, mas também serviços. França tem sugerido a aplicação de taxas sobre os serviços digitais. Mas há ainda outras vias, como restrições às exportações, ou à participação das empresas norte-americanas no Mercado Interno.

Tudo está em cima da mesa, como já disse a Presidente da Comissão Europeia, incluindo a ativação de um instrumento anti coerção, uma espécie de bazuca comercial que nunca foi utilizada. Mas mais do que recorrer a mecanismos legais, a Comissão quer mostrar "ação", que funcione como vantagem à mesa negocial com os EUA, e que pressione Donald Trump a rever a postura bélica face à economia europeia e mundial.

No total, as várias tarifas de Trump atingem 70% das exportações europeias para os EUA, num volume equivalente a 380 mil milhões de euros. O executivo comunitário acredita que é impossível responder olho por olho, avançando com tarifas europeias sobre um volume igual de importações norte-americanas. Isso acabaria por prejudicar demasiado a economia dos 27. Ao que o Expresso apurou, uma segunda ronda de tarifas poderia ficar pela metade desse montante, mas ainda é cedo para falar em números.

O objetivo desta segunda ronda é duplo. Serve para pressionar os EUA a sentarem-se à mesa da negociação e recuarem na escalada do conflito comercial. Mas se isso falhar, então servirá de plano B para defender os interesses europeus.

Primeira ronda de tarifas europeias afeta 21 mil milhões de euros de exportações

Esta quarta-feira, os 27 deverão dar aval à longa lista de produtos norte-americanos que vão ter de pagar mais para entrar no mercado europeu. Ao que o Expresso apurou, a lista atinge mais de 21 mil milhões de euros de exportações norte-americanas, afetando não só o aço e o alumínio norte-americanos, mas muitos outros bens, dos ovos aos diamantes.

A lista avançada pela Reuters e o Político e a que o Expresso também teve acesso inclui ainda ferro, tabaco, sumo de laranja, arroz, têxteis e vários tipos de produtos de maquilhagens. A maioria com uma taxa adicional de 25% ou até 25%. É para entrar em vigor entre 14 e 16 abril, aplicando-se a partir de maio. Há, no entanto alguns produtos, caso da soja, que só será taxado de forma mais pesada a partir de dezembro. Isto se até lá, não houver acordo com Trump.

A resposta europeia fica também abaixo dos 26 mil milhões de euros, referentes às exportações de aço e alumínio europeus que passam a pagar mais 25% para entrar nos EUA. O valor de 21 a 22 mil milhões de euros é também o reflexo das negociações da Comissão com os Estados Membros, com os países a pedirem que fossem poupados alguns produtos norte-americanos, como Bourbon. Neste caso, pressão de Itália e França, que receiam a retaliação de Trump aos vinhos franceses e italianos.

Von der Leyen fala com a China

Esta terça-feira, a presidente da Comissão esteve ao telefone com o primeiro-ministro chinês. Ursula von der Leyen apelou a uma "resolução negociada" da Guerra comercial, numa altura em que Pequim e Washington escalam a troca de taxas aduaneiras cada vez mais elevadas. Bruxelas está preocupada com a inundação de produtos - desde logo chineses - que não entrando no mercado norte-americano, são "desviados" para outros, incluindo o europeu.

"A Presidente Ursula von der Leyen salientou o papel fundamental da China na resolução de eventuais desvios do comércio causados pelos direitos aduaneiros, especialmente em sectores já afetados pela sobrecapacidade mundial", pode ler-se no comunicado que se seguiu à conversa.

Ao que o Expresso apurou, Li Qiang terá dito que a China vai tentar controlar o desvio do comércio, apostando no consumo interno de produtos que antes eram exportados. A questão é que a dimensão do impacto da guerra comercial ainda não é mensurável, nem de que forma a sobreprodução e inundação de produtos vão afetar a UE.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate