Dura há várias semanas o “ataque” dos mercados à dívida francesa e as notícias que têm vindo de Paris no início desta semana são mais achas para um fogo que pode muito bem alastrar ao resto da zona euro. O primeiro-ministro, Michel Barnier, à frente de um país que descreveu como estando “em estado de emergência” e numa situação financeira “muito grave”, anunciou esta segunda-feira, 2 de dezembro, que pretendia viabilizar por decreto o orçamento para a segurança social, recorrendo a uma alínea da constituição, para evitar um mais do que provável chumbo num parlamento dividido.
A resposta dos partidos da oposição foi apresentar moções de censura que, se não mudar nada de substancial até quarta-feira, dia em que serão votadas, provocarão a queda do executivo francês.
Entretanto, a dívida francesa está, neste momento, a ser fortemente pressionada no mercado secundário, ou seja, onde os investidores particulares compram e vendem títulos de dívida soberana entre si. Estes, na sua avaliação do risco, creem que é hoje mais arriscado emprestar dinheiro a França do que a Portugal. Ao passo que França deverá fechar o ano de 2024 com uma dívida pública e um défice orçamental de 112,9% e de 6,1% do PIB, respetivamente, superiores aos de 2023, Portugal tem reduzido rapidamente os seus níveis de endividamento e que deverá continuar a garantir excedentes orçamentais nos próximos tempos.
Esta pressão dos mercados, Portugal sentiu-a no início dos anos 2010, lado a lado com a Espanha, Irlanda, Grécia e Chipre - os "resgatados" numa crise de dívidas soberanas cujo fim só se começou a vislumbrar com o “whatever it takes” do então presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.
Se estas quatro economias fizeram tremer a zona euro, uma nova crise espoletada por França, a segunda maior economia da moeda única, coloca a Europa num novo apuro O BCE de Christine Lagarde está atento e alerta para o risco de endividamentos superiores a 100% do PIB - o caso de França - para a estabilidade da zona euro. Os “cortes” nos juros previstos para 2025 deverão ajudar a aplacar a voracidade dos mercados. Mas, se se verificar um agudizar da “pressão”, a Europa poderá estar perante consequências difíceis de imaginar.
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