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Mais de metade dos proprietários não planeiam tornar as suas casas eficientes

Mais de metade dos proprietários não planeiam tornar as suas casas eficientes
José Fernandes

Estudo do Observador Cetelem revela que portugueses continuam a priorizar conforto imediato e obras de menor custo, deixando de lado soluções de eficiência energética. Desconhecimento sobre apoios, perceção de benefícios limitados e entraves financeiros são os principais obstáculos à transição energética dos edifícios

Apesar da crescente preocupação global com as alterações climáticas, a eficiência energética ainda não figura como uma prioridade para a maioria dos portugueses. A conclusão pertence a um estudo do Observador Cetelem, conduzido pela Harris Interactive em oito países, incluindo Portugal, que revela que 53% dos proprietários e 72% dos arrendatários não planeiam investir em melhorias que aumentem a eficiência energética das suas casas.

Ao Expresso, Hugo Lousada, diretor de marketing do Cetelem, explica que esta resistência resulta de uma conjugação de fatores. Desde logo, da falta de noção do impacto ambiental das habitações: 36% das emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia têm origem no sector dos edifícios, sendo que 27% dizem respeito ao segmento residencial.

No questionário, apenas 36% dos inquiridos identificam o consumo de energia como uma preocupação. A título de exemplo, quase oito em cada dez proprietários não tencionam substituir os sistemas de aquecimento por bombas de calor e somente um terço pondera instalar painéis fotovoltaicos para reduzir os custos com a eletricidade - esta opção é mais comum entre os donos de moradias (50%).

Segundo o responsável, muitos proprietários preferem investir em pequenas obras de conforto imediato do que adotar soluções energéticas que percebam como mais dispendiosas, relegando para segundo plano medidas como o isolamento térmico ou a instalação de sistemas energéticos mais eficientes. O desconhecimento sobre os benefícios a longo prazo também é um elemento-chave para não dar este passo.

“Parece existir uma perceção de que os ganhos financeiros e ambientais não justificam o esforço, especialmente em habitações mais antigas, onde as intervenções podem ser complexas”, destaca o diretor.

Mas o estudo mostra-nos que a disposição para realizar melhorias varia consoante a idade, com os consumidores entre os 35 e 49 anos a revelarem uma maior abertura (53%), em contraste com os mais velhos (37%). “Enquanto os primeiros estão, por norma, numa fase da vida em que possuem maior estabilidade financeira e interesse em valorizar os seus imóveis para o futuro, os segundos hesitam, por pensarem que os benefícios já não serão tão aproveitados", justifica o especialista.

A informação também desempenha um papel crucial, na medida em que os proprietários que estão a par das regulamentações de eficiência energética se sentem mais dispostos a avançar com obras. De acordo com o Hugo Lousada, “quanto melhor os proprietários estiverem informados sobre estes padrões e compreenderem os seus benefícios, mais tendem a querer adaptar as suas habitações".

Preço é entrave, mas apoios são descartados

Entre os proprietários que fizeram obras recentemente nas suas casas, o investimento dedicado à renovação energética foi, em 76% dos casos, inferior a €10.000, segundo o Observador Cetelem. O isolamento térmico ou acústico, nomeadamente através da instalação de janelas eficientes, foram as principais intervenções e os capitais próprios provenientes de poupanças a fonte de financiamento.

Embora 70% dos inquiridos afirmem conhecer os apoios disponíveis para este tipo de iniciativas, mais de 60% não beneficiaram deles. Uma vez que o preço a pagar por estas melhorias constitui uma barreira, qual a justificação para que isso aconteça? O diretor de marketing diz que se deve sobretudo ao facto de uma “uma percentagem relevante não saber efetivamente do que se trata e como funcionam esses apoios”.

Outras motivos incluem a dificuldade nos processos de candidatura, a falta de clareza sobre os benefícios e a incapacidade financeira para o investimento inicial. O especialista realça também que têm sido feitas alterações às medidas de apoio que podem gerar “alguma dificuldade e imprevisibilidade”, pelo que “os cidadãos ficam sem saber com o que podem contar, o que pode conduzir a uma menor procura”.

Portugueses alinhados com os pares europeus

Portugal apresenta uma atitude semelhante à de países como a Bélgica, Espanha e Reino Unido - incluídos na pesquisa -, onde a preocupação com a eficiência energética é também limitada, o que leva o responsável do Cetelem a alertar para “uma lacuna em termos de educação ambiental, que poderá colocar em causa o alcance das metas climáticas do país, bem como ao nível europeu”.

Defendendo que a habitação sustentável é um “objetivo incontornável” a nível nacional, Hugo Lousada atenta que a transição é crucial para reduzir o desperdício de energia até 2030 e exige esforços conjuntos entre o Governo, o setor privado e os cidadãos.

As soluções, sugere, devem passar pelo aumento dos subsídios diretos, sobretudo para as famílias mais vulneráveis; campanhas de sensibilização sobre os benefícios financeiros e ambientais; apoio técnico através de serviços públicos ou parcerias para planeamento de obras; simplificação dos processos administrativos para acesso a incentivos; e incentivos fiscais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mcdias@expresso.impresa.pt

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