Um livro de 620 páginas chamado "Porque falham as nações? As origens do poder, da prosperidade e da pobreza" resultou no Prémio Sveriges Riksbank de Ciências Económicas de 2024 (também conhecido como Nobel da Economia, apesar de não ser entregue pela academia sueca) para dois dos três galardoados, Daron Acemoglu e James Robinson. Simon Johnson junta-se a este trio de investigadores cujos trabalhos se focam na desigualdade de riqueza entre as nações mundiais, especialmente aquelas onde imperam as ditaduras.
“Em termos globais, o trabalho que fizemos favorece as democracias”, explicou Acemoglu na atribuição do prémio, explicando que as economias mais justas e igualitárias vivem num regime democrático, acrescentando que “o crescimento autoritário é muitas vezes mais instável e, na grande maioria dos casos, não se traduz em inovações rápidas e originais”. E olha para a segunda maior economia do mundo: “a China é um desafio porque recentemente começou a investir muitos recursos em alguns setores como a Inteligência Artificial, mas a minha perspetiva é que para estes regimes autoritários, por uma série de razões, será mais difícil alcançar resultados de inovação sustentáveis a longo prazo”.
Os estudos deste trio mostram que os 20% dos países mais ricos do mundo têm neste momento 30 vezes mais riqueza do que os 20% mais pobres, sendo que a disparidade entre ambos é persistente. E, embora os países mais pobres tenham ficado mais ricos nos últimos anos, não estão a conseguir tornar-se mais prósperos.
Jakob Svensson, membro do júri que atribui o prémio, explica que “os galardoados deste ano foram pioneiros em novas abordagens, tanto empíricas como teóricas, que avançaram significativamente a nossa compreensão da desigualdade global”. “Reduzir as enormes diferenças de rendimento entre países é um dos maiores desafios do nosso tempo”, disse.
Na conferência de entrega dos prémios, Acemoglu afirmou que a ascensão do autoritarismo evidencia que as democracias estão “a passar por uma fase difícil” neste momento. “Se olharmos para os dados de inquéritos que perguntam às pessoas a sua opinião sobre o autoritarismo, a ditadura ou a democracia, vemos que o apoio à democracia entre a população está no nível mais baixo de sempre”, explicou.
O prémio de economia não é um dos prémios originais criados por Alfred Nobel, em 1901, que incluía a Ciência, a Literatura e a Paz. O prémio das Ciências Económicas passou a ser dado pelo banco central da Suécia a partir de 1968. Dos 93 galardoados com este prémio até ao momento, apenas três foram mulheres. A primeira a conquistá-lo foi Elinor Ostrom, em 2009.
O perfil do trio galardoado
Mas, afinal, quem são e o que fazem os três economistas? Acemoglu e Johnson são professores no Massachusetts Institute of Technology (MIT), enquanto Robinson dá aulas na Universidade de Chicago.
Daron Acemoglu, de 57 anos, nasceu em Istambul, na Turquia, e foi estudar para Londres, onde finalizou o mestrado e doutoramento pela London School of Economics (LSE), onde iniciou a carreira. O economista turco-americano juntou-se mais tarde ao MIT, outra das universidades de economia e finanças mais conceituadas do mundo. Já nos Estados Unidos da América ganhou, em 2005, a Medalha John Bates Clark, dada pela American Economic Association aos economistas americanos mais promissores com menos de 40 anos. Foi lá que conheceu Robinson, o co-autor do best-seller editado em português pela Temas e Debates com o título 'Porque falham as nações?'.
James Robinson, 64 anos, formou-se na LSE e em Warwick antes de concluir o doutoramento em Yale. Está na Universidade de Chicago desde 2015. Já Simon Johnson, 61 anos, nasceu em Sheffield, Inglaterra, mas passou toda a sua vida profissional nos Estados Unidos da América. No seu currículo conta com uma passagem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), onde foi economista-chefe entre 2007 e 2008. Doutorou-se no MIT, depois de ter feito o mestrado na Universidade de Manchester e licenciatura em Oxford.
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