Os países da União Europeia devem investir até €800 mil milhões por ano se não quiserem perder ainda mais terreno face às economias dos EUA e da China, calcula o relatório assinado pelo antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi, com várias propostas para impulsionar a competitividade dos 27.
A Europa, declara o ex-primeiro-ministro italiano, depara-se com um “desafio existencial": anos de fraco crescimento somados às recentes mudanças geopolíticas tornam real a possibilidade do Velho Continente perder a capacidade de gerar prosperidade e garantir paz e democracia para as suas populações.
“A única forma de responder a este desafio é crescer e tornarmo-nos mais produtivos, preservando os nossos valores de igualdade e inclusão social. E a única forma de nos tornarmos mais produtivos é a Europa mudar radicalmente”, declara.
“Este relatório aparece numa altura difícil para o nosso continente. Devemos abandonar a ilusão de que apenas a procrastinação pode preservar o consenso. Na verdade, procrastinar só produziu crescimento mais lento, e seguramente não logrou novos consensos. Chegámos ao ponto em que, se não agirmos, teremos de comprometer o nosso bem-estar, o meio ambiente, ou a nossa liberdade”, avisa.
As propostas de Draghi para uma nova política económica e industrial, apresentadas esta segunda-feira, 9 de setembro, à Comissão Europeia com vários meses de atraso, focam-se em três eixos de ação: inovação e produtividade, descarbonização da economia, e redução da dependência externa em áreas como aquisição de matérias-primas e defesa.
Para o cumprimento destes objetivos, “é necessário um investimento anual adicional entre os €750 e €800 mil milhões, com base nas estimativas mais recentes da Comissão, correspondentes a 4,4%-4,7% do PIB da UE em 2023". A escala destas necessidades de investimento é gigantesca: “em comparação, o investimento efetuado sob o Plano Marshall entre 1948-51 foi equivalente a 1-2% do PIB da UE”, exemplifica.
E, para tal, apela à mobilização do investimento privado e à emissão de dívida conjunta pelos países da UE, cujos títulos tornar-se-iam na referência para um mercado de capitais integrado.
Além de uma avaliação geral dos problemas e eventuais soluções, o relatório apresenta medidas específicas que a Comissão deve, segundo Draghi, promover para resolver o problema da competitividade europeia: completar a integração dos mercados de capitais dos 27; menor peso da regulação para impulsionar a inovação; aquisição conjunta de energia, de matérias-primas, e de equipamentos de defesa; consolidação em áreas como a das telecomunicações e indústria de defesa; e aumento do investimento em setores como o farmacêutico.
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