Economia

Banco de Portugal prevê regresso de défices devido às novas medidas do Governo (e oposição)

Banco de Portugal prevê regresso de défices devido às novas medidas do Governo (e oposição)
TIAGO MIRANDA

O supervisor nacional olha com preocupação para as contas nacionais. Em causa estão as várias medidas anunciadas pelo executivo de Luís Montenegro, que podem pôr em causa a estabilidade do saldo orçamental, mas também algumas já apresentadas pela oposição. Sem estes gastos, Portugal deveria manter um excedente de 1% este ano

O Banco de Portugal antecipa que a economia portuguesa possa regressar a uma situação de défice orçamental devido às recentes medidas anunciadas pelo Governo, lê-se no Boletim Económico de junho, divulgado esta sexta-feira.

"A aprovação e anúncio de novas medidas com impacto orçamental nas semanas anteriores à publicação deste Boletim condiciona a avaliação da situação das finanças públicas em Portugal nos próximos anos.", pode ler-se no documento, que acrescenta ainda ser "expectável o retorno a uma situação de défice, colocando em risco a trajetória desejável para a despesa pública no âmbito nas novas regras orçamentais europeias".

“Estas medidas referem-se à redução do IRS, ao pacote de apoio aos jovens, ao alargamento da redução do IVA na eletricidade, ao apoio à habitação e reforço da saúde, bem como às revisões salariais de diversas carreiras na função pública”, diz o supervisor nacional.

Mas para já, sem se saber concretamente quanto é que as medidas anunciadas pelo Executivo de Luís Montenegro vão custar, o Banco de Portugal olha para uma manutenção de excedente de 1% em 2024, de 0,8% em 2025 e de 0,6% em 2026 “sem considerar as medidas entretanto anunciadas e/ou já aprovadas”, sublinha.

Entre as medidas apresentadas nos últimos 66 dias de governação, as atuais projeções de Mário Centeno contam apenas com a abolição das portagens nas ex-SCUT (180 milhões de euros a partir de 2025) e as alterações ao Complemento Solidário para Idosos (220 milhões de euros, num ano completo).

Do que foi possível contabilizar, para este ano o Governo já comprometeu, por certo, cerca de 540 milhões de euros entre IRS (apesar de a proposta aprovada ser a do PS, os valores eram do Governo), isenções de IMT e impostos para os jovens, alterações às rendas e Porta 65, e 40 milhões de euros para acordos com os professores. Nestas contas não estão ainda os valores das negociações com polícias, médicos, enfermeiros ou oficiais de Justiça.

Meta do BCE para a inflação só em 2026

Quanto às previsões económicas, o regulador prevê que economia portuguesa deverá crescer 2% este ano, e que a inflação só atinja a meta do Banco Central Europeu (BCE) em 2026. As projeções económicas não sofrem grandes alterações face ao divulgado em março.

O regulador liderado por Mário Centeno prevê que a inflação se fixe nos 2,5% este ano, nos 2,1% em 2025 e nos 2% em 2026 (face aos 2,4%, 2% e 1,9% que antecipava em março, respetivamente).

No caso do crescimento económico, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá expandir 2% este ano, 2,3% no próximo e 2,2% em 2026 (contra os 2%, 2,3% e 2,2% inscritos nas projeções anteriores).

Quanto ao desemprego, o Banco de Portugal mostra-se confiante que irá permanecer praticamente inalterado nos próximos anos, uma vez que as previsões apontam para uma taxa de 6,5% em 2024 e de 6,5% nos dois anos seguintes (contra os 6,5% previstos para os três anos, em março).



Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate