Economia

Banco de Portugal diz que houve redução de riscos financeiros mas é preciso continuar alerta

Banco de Portugal diz que houve redução de riscos financeiros mas é preciso continuar alerta
TIAGO MIRANDA

Banco de Portugal assinala trajetória descendente da inflação e melhorias de contexto no crescimento económico em Portugal, mas não deixa de alertar para eventuais retrocessos e problemas decorrentes de uma deterioração das condições macroeconómicas globais

Banco de Portugal diz que houve redução de riscos financeiros mas é preciso continuar alerta

Isabel Vicente

Jornalista

As tensões geopolíticas e o “prolongamento da restritividade das condições monetárias são fatores que contribuem para riscos e vulnerabilidades na evolução da estabilidade financeira dos bancos, famílias e empresas, mas no "último semestre, observou-se uma redução das vulnerabilidades, em resultado da melhoria das condições económicas", sublinha o Banco de Portugal no seu relatório de Estabilidade Financeira de maio, divulgado esta terça-feira.

O Banco de Portugal dá nota de que se estima que “a inflação prossiga a trajetória de redução e o crescimento económico em Portugal se mantenha positivo e superior ao da área do euro”.

Muito embora alerte para o facto de que se o contexto geopolítico se agravar pode haver impactos na atividade económica, assim como pode continuar a haver “a persistência de condições monetárias restritivas ou com efeitos mais prolongados do que antecipado”.

O Banco de Portugal sublinha que no plano nacional, “uma eventual deterioração das condições macroeconómicas globais que potencie correções abruptas nos preços dos ativos financeiros pode exacerbar os riscos para a estabilidade financeira”.

Ou seja, o supervisor liderado por Mário Centeno, não deixa de assinalar que num quadro de deterioração das condições económicas possa ocorrer “a desvalorização de ativos e o agravamento do serviço da dívida dos setores residentes”, ainda assim, sublinha existem factos que decorrem da redução do endividamento nos últimos anos, que “mitigam”, estes efeitos.

E explica: “os riscos associados à situação financeira das administrações públicas têm diminuído com a trajetória de descida do rácio da dívida pública, refletindo-se na melhoria do rating da República. Mas a dívida ainda elevada expõe os diversos setores à persistência de taxas de juro altas e à volatilidade nos mercados financeiros internacionais. Este efeito é mitigado pelo papel estabilizador do BCE”.

Banca recomenda-se, mas precisa manter proveitos

“O sector bancário português continuou a melhorar a sua situação, caracterizada por níveis de capital, de liquidez e de rendibilidade mais elevados”, refere o relatório do Banco de Portugal adiantando que esta é “uma fonte de estabilidade, contribuindo para garantir a regularidade do financiamento da economia”.

Os alertas decorrem da existência de condições adversas como sejam o aumento do desemprego que terá impacto na deterioração da qualidade do crédito.

Mas na verdade existem motivos positivos: “o rácio total de non-performing loans (NPL) continuou a diminuir em 2023”, embora se tenha verificado “um aumento de empréstimos com deterioração do risco de crédito (stage 2), em particular no crédito à habitação, maioritariamente a taxa variável, o que reflete um aumento do risco de crédito associado ao maior peso do serviço da dívida no rendimento das famílias mais vulneráveis”.

Para o Banco de Portugal “a preservação da margem financeira é muito relevante para sustentar a geração de capital de forma orgânica, via que tem sido privilegiada na criação de buffers de capital”.

Por isso aconselha os bancos a “conter o impacto negativo sobre a margem financeira, dada a sua importância na estrutura de proveitos”, devido à redução das taxas de juros. E acrescenta: “importa assegurar que a resiliência acrescida do setor bancário português a eventuais choques assuma contornos estruturais, permitindo a adequada remuneração de depositantes e acionistas e o necessário esforço de adaptação às realidades emergentes”.

Famílias e empresas menos endividadas

As famílias e as empresas têm, respondido bem ao contexto que se tem atravessado nos últimos anos.

“As famílias registaram uma redução no rácio de endividamento, seguindo a tendência observada desde 2010. A melhoria do perfil de risco do crédito a particulares tem beneficiado da recomendação macroprudencial introduzida em 2018, que contempla limites à taxa de esforço como um dos critérios de aprovação de novos créditos”.

Por tudo isto se verificou contenção do incumprimento no quadro de subida das taxas de juros, a somar à “robustez do mercado de trabalho e do rendimento disponível real”.

Do lado das empresas também se verificou uma melhoria na “autonomia financeira e na redução do endividamento. A rendibilidade das empresas resistiu ao aumento do serviço da dívida”, diz o relatório.

Mais, é sublinhado que “no último ano, não se observou uma subida material das insolvências, e a qualidade do crédito concedido a empresas não tem apresentado deterioração”.

Ainda assim, “o efeito acumulado da manutenção de taxas de juro elevadas na atividade económica e nos custos de financiamento, em conjunto com eventuais subidas dos custos de produção e perturbações nas cadeias de abastecimento, poderão potenciar a materialização de risco de crédito, em particular nas empresas mais vulneráveis”.

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