Economia

BCE não mexeu nos juros, mas admite aliviar a política monetária

Christine Lagarde tem agendada para 6 de junho uma reunião do BCE na qual poderá haver um corte de juros
Christine Lagarde tem agendada para 6 de junho uma reunião do BCE na qual poderá haver um corte de juros
Frederick Florin/Getty Images

O Banco Central Europeu decidiu, na reunião terminada esta quinta-feira, voltar a não mexer nos juros que se mantêm em 4,5% para a taxa de refinanciamento e 4% para a taxa de remuneração de depósitos dos bancos

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira não mexer nos juros, mantendo a taxa de refinanciamento em 4,5% e a taxa de remuneração de depósitos dos bancos em 4%.

Desde a reunião de outubro do ano passado que a instituição liderada por Christine Lagarde não mexe nos juros, depois de um ciclo de subidas de julho de 2022 a setembro de 2023 que aumentaram as taxas diretoras em 450 pontos-base (4,5 pontos percentuais).

“A informação que tem vindo a ser disponibilizada confirmou amplamente a anterior avaliação efetuada pelo Conselho do BCE das perspetivas de inflação a médio prazo. A inflação continuou a descer, impulsionada pela menor inflação dos preços dos produtos alimentares e dos bens. A maioria das medidas da inflação subjacente está a abrandar, o crescimento salarial regista uma moderação gradual e as empresas estão a absorver, nos respetivos lucros, parte do aumento dos custos do trabalho. As condições de financiamento permanecem restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”, lê-se no comunicado oficial.

O BCE reafirma que tomará as decisões reunião a reunião, mas admite que “se a avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária reforçar a confiança do Conselho do BCE de que a inflação está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o atual nível de restritividade da política monetária”. Mas não antecipa qualquer calendário.

A inflação na zona euro, entretanto, desceu para 2,4% em março, mas a inflação nos serviços mantém-se há cinco meses em 4% e a inflação doméstica (que exclui todos os segmentos com baixa intensidade de importação) em 4,5% nos últimos três meses. Por isso, o BCE mantém a cautela: “As pressões internas sobre os preços são fortes e estão a manter a inflação dos preços dos serviços elevada”.

A expetativa mantém-se em torno do calendário para um primeiro corte, que os mercados de futuros continuam a apontar para a próxima reunião de 6 de junho, onde os banqueiros do euro analisarão novas projeções macroeconómicas e já poderão ter em conta a evolução da inflação em abril e maio. As respostas de Christine Lagarde na conferência de imprensa desta quinta-feira serão escrutinadas com a máxima atenção.

Só a Suíça já iniciou corte de juros

Nas economias desenvolvidas, o Banco Nacional da Suíça inaugurou o ciclo de corte de juros, tendo decidido na reunião de 21 de março reduzir os juros em 25 pontos-base, fixando a taxa em 1,5%. É a segunda mais baixa depois do Japão (que está fixada entre 0% e 0,1%) nas economias desenvolvidas.

Nas reuniões já realizadas em abril por bancos centrais de economias desenvolvidas, o Banco do Canadá e o Banco da Reserva da Nova Zelândia decidiram não mexer nos juros. Na União Europeia, entre as economias fora do euro consideradas emergentes, a Chéquia e a Hungria cortaram juros no mês passado.

Subida da inflação nos EUA baralha cortes

O mercado da dívida norte-americana e Wall Street viveram um pequeno abalo sísmico na quarta-feira depois de ser avançada a estimativa para a inflação em março nos Estados Unidos, que subiu para 3,5%, com a inflação subjacente (excluindo as componentes mais voláteis, como a energia e a alimentação) a manter-se, pelo segundo mês, em 3,8%. A subida veio confirmar a “incerteza generalizada” que grassa entre os banqueiros da Fed sobre a trajetória da inflação, que ficou muito visível na última reunião em março, segundo as atas publicadas também na quarta-feira.

Os índices Dow Jones e S&P 500 caíram em Nova Iorque em torno de 1% e os juros da dívida norte-americana a 10 anos subiram acima de 4,5% (o que compara com 2,5% para as obrigações alemãs). O impacto mais significativo foi, contudo, no mercado de futuros das taxas de juro da Reserva Federal norte-americana (Fed) onde o primeiro corte foi empurrado para a reunião de 14 de setembro e as descidas em 2024 reduzidas a apenas duas, segundo o Fed Watch da CME.

Esta vaga pessimista chegou, também, ao mercado de futuros das taxas do BCE. A probabilidade do primeiro corte de juros acontecer na reunião de 6 de junho mantém-se elevada, em 80%, mas a redução acumulada da taxa de remuneração dos depósitos dos bancos até final do ano emagreceu, apontando, agora, para uma maior probabilidade de três descidas em vez de quatro em 2024. O portal MacroMicro, nas expetativas sobre a taxa final este ano, aponta, agora, para 3,14% em vez de 3,03%. A taxa atualmente está em 4%.

Os mercados de futuros têm negociado a taxa de remuneração dos depósitos no caso do BCE em vez da taxa de refinanciamento (que está em 4,5%).

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