No primeiro dia de debates no Fórum Económico Mundial (World Economic Forum), a ribalta em Davos foi dada esta terça-feira de manhã a Pequim e a Bruxelas pelos organizadores do evento que tem como lema deste ano “reconstruir a confiança” num mundo fraturado, com várias frentes de guerra em curso e uma crescente polarização e desinformação global.
Xi Jinping não veio à estância alpina suíça, como fez em 2017, mas enviou o primeiro-ministro, Li Qiang, o segundo homem forte do regime, que agradou aos organizadores ao dizer que Pequim defende “uma nova relação de coopetição” (uma buzzword que o Fórum quer trazer para a geopolítica) e piscou o olho à plateia de empresários e investidores prometendo que “o mercado chinês não é um risco, mas uma oportunidade”.
Coopetição é uma agregação de "competição saudável com cooperação", como disse Li Qiang, que arrebatou três rondas de aplausos, deixando entusiasmado Klaus Schwab, o fundador do evento, que o apresentou à audiência que apinhou o anfiteatro. Para cortar os rumores de uma derrapagem económica na China, o primeiro-ministro antecipou que, em 2023, o crescimento da segunda maior economia do mundo foi de 5,2%, acima da própria meta oficial, revelando uma estimativa prevista para ser divulgada oficialmente na quarta-feira em Pequim.
Li afirmou inclusive que a China está a desenvolver “um ambiente de negócios de classe mundial” e que Pequim está a estudar a abertura dos mercados públicos chineses aos estrangeiros.
Li Qiang, António Guterres (secretário-geral das Nações Unidas), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) e Emmanuel Macron (presidente de França) são, entre as três centenas de figuras políticas presentes, alguns dos nomes que ‘salvaram’ a reputação do encontro de Davos este ano.
De seguida, Schwab trouxe ao palco a conterrânea alemã Ursula von der Leyen, que aproveitou para falar demoradamente da posição de Bruxelas sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, sublinhando o “falhanço estratégico” de Moscovo, e a descolagem da União Europeia da dependência energética russa.
Após a intervenção, Schwab quis esclarecer a posição de Bruxelas face a Pequim no plano geoeconómico. No Fórum de 2023, von der Leyen tinha lançado o lema de “reduzir os riscos, mas não cortar” com o gigante asiático. A alemã confirmou que face a Pequim continua a ser essa a estratégia. Há riscos no acesso ao mercado chinês (apesar dos acenos de Pequim), nas importações críticas que vêm da China, como na área dos minerais estratégicos e raros (cuja exportação a China decidiu controlar), em questões de segurança económica em sectores tecnológicos e na necessidade, por parte da Europa, de reduzir a sobredependência nas cadeias globais de fornecimento chinesas.
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