O presidente da comissão executiva da Global Media, José Paulo Fafe, disse esta terça-feira à noite, na Assembleia da República, que continua a ser confrontado com surpresas desagradáveis herdadas da anterior gestão da empresa que detém meios de comunicação social como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF e O Jogo. “Raro é o dia, desde que eu e a comissão executiva iniciámos funções, há três meses e meio, em que não somos surpreendidos por factos, negócios ou procedimentos que denotam a forma leviana e pouco transparente como este grupo foi gerido ao longo dos últimos anos”.
Fafe adiantou que todos os membros da comissão executiva, incluindo Marco Galinha, um dos principais acionistas do grupo, com cerca de 16%, aprovaram o plano de reestruturação do grupo. “Esta comissão executiva a que presido e que é formada por Filipe Nascimento, Paulo Lima de Carvalho e Marco Galinha, iniciou funções a 15 de setembro, há 117 dias, e todas as decisões tomadas pela comissão executiva foram aprovadas por unanimidade sem que nas atas desse órgão conste um único voto contra ou nem sequer abstenção”, adiantou José Paulo Fafe perante a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, que tem feito um conjunto de audições sobre a situação do grupo. Com isto pretendeu comprometer Marco Galinha, que além de acionista tem o cargo de presidente do conselho de administração e que se tem demarcado da atuação da comissão executiva.
O ex-jornalista, que começou por se recusar a ir ao Parlamento, referindo “não pretender” nem ser sua “intenção participar em iniciativas de caráter eleitoral, reviu a sua posição e acabou por mudar de ideias na semana passada após a audição do ex-administrador e ex-diretor da TSF e do JN, Domingos Andrade. Há “limites para suportar os insultos, as mentiras e as aleivosias” que diz terem-lhe sido relatados nas audições passadas.
Domingos Andrade falou em pressões da nova gestão do grupo e dirigiu algumas acusações a Fafe, nomeadamente a de ter ficado a dever dinheiro ao grupo do qual agora é presidente executivo.
Sobre esta questão, José Paulo Fafe disse conhecer Marco Galinha há cerca de oito anos. “Quando ele comprou a Global Media ligou-me e convidou-me para uma conversa, perguntou o que eu faria no lugar dele na Global Media e se eu queria ir trabalhar com ele. Dei-lhe os meus conselhos, o primeiro foi devolver o DN às bancas e sugeri que encontrasse parceiros na diáspora portuguesa para fazer edições das publicações que ele tinha. Disse-lhe que tinha uma empresa de consultoria e que estava disponível para prestar serviços, disse-lhe qual era o valor e ele dias depois não aceitou alegando que custava muito dinheiro”.
Foi então que surgiu a ideia de ficar com a marca Tal & Qual e relançar o jornal com esse nome. “Nessa mesma conversa eu disse que tinha várias solicitações para relançar o Tal & Qual, perguntei porque é que ele não me cedia o título. Acordámos a cedência e à ultima hora a cedência passou para aluguer mas a assessoria jurídica do grupo exigiu o pagamento de uma dívida que eu tinha de uma empresa de que era sócio, de 1997, que sempre assumi, e que quis pagar em duas ou três reuniões que tive com a administração da então Lusomundo, em 1998/99, mas nunca chegámos a acordo e que segundo os meus advogados teria prescrito mas como percebi que essa dívida tinha sido cirurgicamente recuperada ao fim de 23 anos aceitei pagar. Pedi 10 anos para pagar mas contrapuseram cinco anos, propuseram 30 mil euros e propus 15 mil euros, andámos a negociar, ficou nos 20 mil euros com a obrigação de pagar em cinco anos, coisa quer fiz em três ou quatro meses e suspendi depois de falar com Marco Galinha e termos chegado à conclusão de que podia pagar a dívida até cinco anos, liberando-me do pagamento mensal da dívida, podendo pagar ao longo dos cinco anos conforme me desse mais jeito”.
Questionado sobre quantas empresas do grupo BEL, propriedade de Marco Galinha, prestam serviços ao grupo, disse não saber, adiantando que são “muitos”. “Quando assumimos a gestão internalizámos alguns dos serviços que eram assumidos pelo grupo BEL como o gabinete jurídico, que custava cerca de 10 mil euros, direção financeira, parte dos recursos humanos, etc, internalizámos esses serviços porque achámos que não tinha lógica estarem fora do grupo e daí até termos feito algumas contratações por um valor mais baixo do que gastávamos com o grupo BEL.
Referiu que, entre as atuais prestações de serviços prestados pelo grupo BEL à Global Media, se inclui o arrendamento da sede Jornal de Notícias e na frota automóvel há carros alugados a empresas do grupo BEL mas adiantou não poder “entrar em pormenores”.
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