A carta dos eurodeputados do PPE para Christine Lagarde seguiu no mesmo dia em que se ficou a saber que a Comissão de Ética do Banco de Portugal considera que a independência de Mário Centeno não ficou em causa com o convite de António Costa para eventualmente assumir o cargo de primeiro-ministro, e que o governador do Banco de Portugal agiu "com a reserva exigível", "cumprindo os seus deveres gerais de conduta”.
Leitura diferente têm os eurodeputados de centro-direita, membros da Comissão de Assuntos Económicos (ECON) do Parlamento Europeu. Na missiva enviada à presidente do Banco Central Europeu consideram que houve "uma violação grave" dos "requisitos de independência" exigidos aos bancos centrais da Zona Euro e do Código de Conduta a que estão sujeitos os membros do Conselho de Governadores do BCE, a que pertence Mário Centeno.
"Tem de haver uma clara separação entre o trabalho de [Mário] Centeno como responsável de um banco nacional e qualquer potencial compromisso político", afirmou esta tarde aos jornalistas o romeno Siegfried Muresan, que assinou a carta juntamente com o alemão Markus Feber e a espanhola Isabel Benjumea.
Não estão convencidos com as explicações dadas pela Comissão de Ética do Banco de Portugal e esperam que o BCE "faça a própria avaliação", "independente", sem ficar condicionado ao que foi apurado em Lisboa. Só depois dirão se pressionam a demissão de Mário Centeno. Para já, não pedem que se demita, mas querem ver a situação esclarecida.
“Se a independência [de Centeno] fica comprometida, então também a independência do BCE está comprometida”, diz Muresan. Na carta pedem para serem informados sobre a troca de informação entre o BCE e o BdP (a propósito do tema) e ainda sobre as conclusões a que chegará o Banco Central Europeu.
Contactado pelo Expresso, o BCE escusou-se a prestar qualquer comentário à avaliação da Comissão de Ética que foi tornada pública. Quanto à ausência das assinaturas de eurodeputados do PSD e CDS - que pertencem ao grupo PPE - nomeadamente a da social-democrata Lídia Pereira - que pertente também à ECON -, Muresan justifica com o argumento de que esta "não é uma iniciativa política", "nem contra o partido do Governo em Portugal".
"Não queremos que seja um assunto português e por isso não há assinaturas de eurodeputados portugueses", justifica ainda, garantindo que nenhum português foi convidado a assinar. Em todo o caso, em Portugal é conhecida a crítica do PSD à postura de Mário Centeno.
O Parlamento Europeu não tem poder para demitir ou pedir formalmente a demissão de Centeno. O BCE não presta contas aos eurodeputados, apesar da tradição de "diálogo" que leva a que regularmente a presidente do BCE vá às comissões parlamentares responder às perguntas dos deputados.
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