Economia

"Tinha esperança de que nos tivéssemos livrado da praga da corrupção", diz Paulo Azevedo, da Sonae

"Tinha esperança de que nos tivéssemos livrado da praga da corrupção", diz Paulo Azevedo, da Sonae
José Coelho / Lusa

“Por analogia com uma empresa, diria que é melhor ter Orçamento de Estado e depois retifica-lo do que não o ter”, diz ao Expresso o presidente do maior empregador privado não financeiro do país

No dia em que o Ministério Público e a PSP lançaram mais de 40 buscas no âmbito do inquérito sobre o hidrogénio e o lítio e a PGD anunciou um inquérito-crime ao primeiro-ministro, que apresentou a demissão, o Expresso perguntou a Paulo Azevedo, presidente do grupo Sonae, se não há demasiadas suspeitas de corrupção em Portugal e qual o impacto disso nos negócios.

Depois da Sonae falhar a OPA sobre a PT, em 2006, e, anos mais tarde ver o Ministério Público investigar o caso no âmbito da Operação Marquês, Paulo Azevedo evitou uma resposta direta sobre o momento atual, mas falou da corrupção no país e nos negócios. “Tinha esperança que nos tivéssemos livrado em boa parte dessa praga. Houve um período realmente muito difícil. Nós (Sonae) demos uma ajudinha para que muitas dessas coisas fossem desmontadas e tinha essa esperança de que hoje não fosse possível haver corrupção em escala significativa no Governo. Temos de aguardar para ver”, respondeu.

Mas na sua experiência nos negócios tem sentido que as coisas melhoraram? “Sim, em relação a um período em que havia toda uma parte da economia que estava fechada, ou se estava com o Governo, ou não se estava, isso desapareceu e não tenho indícios de que tenha voltado”, respondeu, referindo-se aos tempos do Governo primeiro-ministro José Sócrates “e de um conjunto de grupos muito interligados e empresas semi-privadas e semi-públicas”.

Uma sociedade “mais limpa” tem “custos associados”

Entre todas as buscas que vão sendo feitas pelo país em diferentes casos e o tempo que é preciso esperar pelas conclusões, Paulo Azevedo não partilha exatamente da ideia de que corremos o risco de “haver suspeição a mais”. “Prefiro simplesmente que sejam investigadas coisas a mais do que a menos”, afirma.

“Temos de conviver com isso e faz parte do processo. Para termos uma sociedade mais limpa é natural que isso traga alguns custos associados”, comenta. “É terrível ver pessoas injustamente envolvidas nestes processos, mas temos de aceitar isso como custos gerais”, defende.

Sobre a forma mais eficaz de combater a corrupção e evitar novos casos, Paulo Azevedo limita-se a responder que “há pessoas muito mais competentes para dar respostas" .

Questionado sobre o impacto desta crise política e de um eventual adiamento do Orçamento de Estado na economia, admite que “tudo isto que está a acontecer não estava nas nossas preocupações, mas à partida, até por analogia com uma empresa diria que é melhor ter Orçamento de Estado e depois retifica-lo do que não ter”.


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