O Banco de Portugal (BdP) está mais pessimista sobre o comportamento da economia portuguesa, não apenas este ano, mas também para os próximos. Sinal disso, no Boletim Económico de outubro, apresentado esta quarta-feira em Lisboa pelo governador Mário Centeno, o BdP reviu em baixa as suas projeções de crescimento.
Para 2023, aponta agora para um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,1%, menos seis décimas do que os 2,7% antecipados em junho.
Quanto a 2024, a revisão em baixa é ainda mais expressiva. O BdP espera agora um crescimento de apenas 1,5%, depois de em junho ter apontado para 2,4%.
Também o cenário de crescimento para 2025 sofreu um corte, embora mais ligeiro. O banco central aponta para uma expansão de 2,1%, duas décimas abaixo dos 2,3% esperados em junho.
As projeções do Banco de Portugal para o crescimento da economia portuguesa este ano ficam, assim, ligeiramente abaixo das apresentadas em setembro pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP).
Recorde-se que o CFP aponta para um incremento do PIB de 2,2% este ano, e 1,6% em 2024.
Já para 2025, o BdP é mais otimista do que o CFP, que aponta para um crescimento económico de apenas 1,8%.
“Após o dinamismo do início do ano, a atividade estagnou no segundo e terceiro trimestres e deverá manter um crescimento baixo até ao final do ano”, destaca o BdP num comunicado sobre o Boletim Económico de outubro.
E acrescenta que “o abrandamento económico reflete o menor dinamismo nos principais parceiros comerciais, os efeitos da inflação e a maior restritividade da política monetária”.
Ainda assim, “a economia portuguesa continuará a apresentar um crescimento baseado no investimento e nas exportações, convergindo com a área do euro”, espera o banco central.
Este abrandamento da economia refletir-se-á no mercado de trabalho, “com ganhos no emprego inferiores aos do passado recente”, antecipa o BdP. E prevê que taxa de desemprego apresente “uma trajetória ligeiramente ascendente”, subindo para 6,5% este ano, 6,7% em 2024, e 6,9% em 2025.
Juros penalizam consumo
O BdP detalha que “o consumo privado terá aumentos inferiores ao crescimento económico”. Muito por causa da “subida das taxas de juro”. Acresce que o BdP espera um aumento da taxa de poupança, subindo até aos 7,4% em 2025, valor “acima da média pré-pandemia”.
Quanto ao investimento, antecipa que desacelere, crescendo 1,5%, “num quadro de financiamento mais oneroso e abrandamento da procura global”. Já para 2024-25, “projetam-se taxas de variação de 5%, refletindo a aceleração da procura global e da execução dos fundos europeus”.
No que toca às exportações, o crescimento “acompanha a procura externa”, espera o BdP, prevendo “um menor crescimento das exportações de serviços, com a dissipação da recuperação pós-pandémica do turismo”.
Inflação vai continuar a abrandar
Quanto à evolução dos preços, o BdP constata que “a inflação diminuiu nos últimos meses” e antecipa que “a tendência descendente irá manter-se”.
O banco central espera que a variação média anual do índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) fique pelos 5,4% em 2023, baixando para 3,6% em 2024, e para 2,1% em 2025. Ou seja, só nessa altura atingirá" um valor consistente com o objetivo de estabilidade de preços do Banco Central Europeu (BCE)", que é, recorde-se, de 2%.
Os valores esperados para a inflação no país em 2023 e 2024 são, agora, ligeiramente mais altos do que os antecipados em junho. Nessa altura, o BdP apontava para uma taxa de variação média anual do IHPC de 5,2% este ano, e de 3,3% em 2024. Já o valor apontado para 2025 não sofreu alterações.