Economia

'Namoro' entre Governo e patrões da indústria agita concertação social: "O país dispensa mais um espetáculo de degradação institucional"

'Namoro' entre Governo e patrões da indústria agita concertação social: "O país dispensa mais um espetáculo de degradação institucional"
Joao Girao

Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, dá cartão vermelho à negociação de Pacto Social entre a CIP e o Governo, à margem da concertação social. Numa mensagem enviada esta manhã aos membros da Comissão Permanente de Concertação Social, onde também está o Governo, exigiu um “rápido e cabal esclarecimento” do processo

'Namoro' entre Governo e patrões da indústria agita concertação social: "O país dispensa mais um espetáculo de degradação institucional"

Cátia Mateus

Jornalista

Uma semana depois de ter recolhido um conjunto de 25 propostas das quatro confederações patronais com assento na Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS), o Governo desdobrou-se e abriu a agenda para trabalhar com uma delas, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), uma proposta de Pacto Social, tendo agendado várias reuniões. Os indícios de uma negociação paralela à concertação social causaram desconforto entre os vários parceiros sociais e também no presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis.

Esta manhã, em reação a uma notícia do Expresso que dava conta da realização de uma nova reunião entre a CIP e uma equipa do Ministério das Finanças esta sexta-feira, remeteu aos membros da CPCS, numa mensagem enviada por whatsapp, a que o Expresso teve acesso, exigindo “um “rápido e cabal esclarecimento” do processo. “O país dispensa mais um espetáculo de degradação institucional”, rematou.

A reunião entre a CIP e o Executivo prevista para esta sexta-feira foi, entretanto, desmarcada. E Francisco Assis confirma que “o tema do Pacto Social continuará a ser tratado em sede de concertação social”.

O dossiê, que já tinha sido previamente apresentado pelo líder dos patrões da indústria, Armindo Monteiro, ao primeiro-ministro António Costa, foi detalhado formalmente esta terça-feira numa reunião entre a CIP, a UGT e vários membros do Governo, estando ainda previstas duas outras reuniões técnicas, para afinar as medidas do pacto, a realizar esta semana com uma equipa do Ministério das Finanças, como noticiou o Expresso.

Os indícios de uma negociação paralela à concertação social causaram desconforto aos restantes parceiros sociais representados na CPCS, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a Confederação do Turismo de Portugal e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Mas foi do presidente do CES, Francisco Assis, que chegou, logo ao início da manhã o “cartão vermelho”.

O presidente do CES remeteu aos parceiros sociais e membros do Governo presentes na CPCS uma mensagem de whatsapp onde vincava que o processo negocial em curso, entre a CIP, a UGT e o Governo, tendo em vista a concretização de um pacto social, “de certo levado a cabo com as melhores intenções, em nada concorre com a valorização da CPCS e perturba o normal funcionamento deste órgão”. E pedia ainda aos envolvidos “um rápido e cabal esclarecimento deste assunto" realçando que "o país dispensa mais um espetáculo de degradação institucional.

Francisco Assis
NUNO BOTELHO

Reunião cancelada, reunião agendada e processo segue na concertação

O Governo não demorou a reagir e a reunião técnica prevista para esta sexta-feira foi desmarcada, sendo reagendado um outro encontro, para a próxima segunda-feira ao início da tarde, com a presença das várias confederações patronais. Mas na agenda de trabalhos não está Pacto Social e sim as 25 propostas conjuntas para o Orçamento do Estado apresentadas pelo Conselho Nacional das Confederações Patronais na última reunião de concertação social.

Contactado pelo Expresso, Francisco Assis admite que “havia a perceção de que estava a existir uma negociação paralela à concertação social”, um caminho que diz “poderia ser perigoso”. Mas vinca que “a questão foi de imediato esclarecida e as reuniões canceladas”. Assis realça que “o próprio presidente da CIP deu a garantia de que não havia qualquer intenção de tratar este tema fora da concertação social. Pelo que é precisamente lá que ele continuará a ser tratado a partir de agora”.

O presidente do CES reforça que “instituições como a CPCS têm um papel determinante e que deve ser preservado e valorizado. Tudo o que sejam indícios de desvalorização desse papel, enfraquecem a concertação social".

O Expresso contactou a CIP, a quem pediu um comentário sobre os acontecimentos, mas ainda aguarda resposta. Já o gabinete de Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, esclarece que “o Governo está a trabalhar com todos os parceiros sociais no âmbito do OE 2024”. Acrescenta ainda que “é em sede da Concertação Social que todos os acordos são negociados e este Governo tem reforçado e assumido a prioridade da Concertação, uma prioridade que é para continuar”.

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