Economia

Ex-presidente executiva da TAP diz que qualquer decisão judicial não repara "enormes danos reputacionais"

Christine Ourmières Widener, presidente da TAP
Christine Ourmières Widener, presidente da TAP
D.R.

"Infelizmente, qualquer decisão que venha a ser tomada não poderá reparar integralmente os enormes danos reputacionais e pessoais que sofri e continuo a sofrer. Ninguém deveria passar pelo que passei, nem pessoal, nem profissionalmente", afirma Christine Ourmières-Widener

A antiga presidente executiva da TAP defende que qualquer decisão dos tribunais no processo contra a companhia aérea não vai apagar os danos causados por uma demissão que considera abrupta e injustificada, apesar de mostrar "confiança na justiça". "Espero que seja reposta toda a verdade. Infelizmente, qualquer decisão que venha a ser tomada não poderá reparar integralmente os enormes danos reputacionais e pessoais que sofri e continuo a sofrer. Ninguém deveria passar pelo que passei, nem pessoal, nem profissionalmente", afirma Christine Ourmières-Widener.

Numa declaração enviada à agência Lusa, um dia depois de ser conhecida a entrada do processo nos tribunais no qual exige 5,9 milhões de euros, a ex-CEO da TAP relembra que foi o Governo que "convidou uma gestora internacional, com uma carreira ascendente". "Não fui eu que procurei a posição de CEO da TAP. Foi o Governo que me convidou. Convidou uma gestora internacional, com uma carreira ascendente, garantiu o pagamento de um bónus que foi decisivo para a minha aceitação e decisão de mudar toda a minha família para Portugal, assinou um contrato por cinco anos, que foi abrupta e injustificadamente interrompido", refere.

Christine Ourmières-Widener reitera ter agido "sempre com total transparência" e de "boa-fé" na liderança da companhia aérea e recorda os resultados financeiros "nunca antes obtidos". "Acredito na justiça, seja em Portugal, seja no estrangeiro. Tenho mantido o silêncio, em respeito à TAP e aos seus trabalhadores, pelo que lamento, uma vez mais, a reação pública do Governo sobre o processo", sentencia.

Questionada hoje após a reunião do Conselho de Ministros sobre o processo contra a TAP, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, afirmou que o Governo está "muito confortável" com o despedimento de Christine Ourmières-Widener, defendendo que o relatório que sustentou a decisão era inequívoco. "O Governo tomou uma decisão com base num relatório que é absolutamente inequívoco e por isso estamos muito confortáveis com a decisão tomada", frisou.

A governante sublinhou que o executivo "na altura, tomou a decisão com base num relatório da Inspeção-Geral das Finanças (IGF)", que considerou que "era suficientemente sólido". "Quanto ao tema de decisões tomadas fora do enquadramento que deveriam ter sido tomadas, mantém naturalmente a sua decisão. Quanto ao resto, todos temos o direito de nos defender e decidirmos todos os processos que queiramos decidir", disse.

Entretanto, os principais sindicatos já reagiram ao processo intentado contra a companhia aérea, com o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Ricardo Penarroias, a declarar que não ficou surpreendido com a entrada da ação nos tribunais ou os 5,9 milhões de euros exigidos.

"A preocupação que eu tenho, como diretor sindical, e como trabalhador de grupo TAP, é que a decisão [de exonerar a gestora] tenha sido a acertada e que não tenha sido mais um ato de gestão, mais um ato de impulsividade, que apenas prejudica a companhia", disse à Lusa o dirigente sindical, que representa os tripulantes de cabine da transportadora.

Já o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), Tiago Faria Lopes, considerou os 5,9 milhões de euros "um pedido inacreditável" de Christine Ourmières-Widener: "Claro que a forma [de a demitir] não foi a correta, mas o historial da engenheira Christine na gestão da TAP foi completamente desastroso e danoso".

O Governo anunciou a exoneração de Christine Ourmières-Widener e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, em 06 de março, depois de divulgados os resultados de uma auditoria da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), que concluiu que o acordo para a saída da antiga administradora Alexandra Reis era nulo e que grande parte da indemnização (de perto de meio de milhão de euros) teria de ser devolvida.

A polémica começou no final de dezembro de 2022, altura em que o Correio da Manhã noticiou que a então secretária de Estado do Tesouro tinha recebido uma indemnização de cerca de 500.000 euros para sair dois anos antes do previsto da administração da empresa. O caso motivou uma remodelação no Governo, incluindo a saída do ex-ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos.

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