Economia

BCE aumenta os juros em apenas 25 pontos-base

Christine Lagarde, presidente do BCE
Christine Lagarde, presidente do BCE

O Banco Central Europeu decidiu esta quinta-feira moderar a subida dos juros optando por um aumento de apenas 25 pontos-base, interrompendo um ciclo de seis subidas entre 50 e 75 pontos-base. A taxa diretora subiu para 3,75% e a taxa de remuneração dos depósitos para 3,25%

O conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira na terceira reunião do ano aumentar os juros apenas em 25 pontos-base, interrompendo um ciclo de aumentos de 50 e 75 pontos-base. O conselho do banco da moeda única europeia optou por seguir a estratégia de moderação dos outros bancos centrais, nomeadamente a Reserva Federal norte-americana, na quarta-feira.

Depois desta decisão, o banco central dirigido por Christine Lagarde já subiu os juros sete vezes, acumulando um aumento de 375 pontos-base. O BCE iniciou o ciclo de aumento da taxa diretora em julho do ano passado, oito meses depois do Banco de Inglaterra e meio ano após a Reserva Federal norte-americana, o que foi considerado por muitos analistas como um atraso injustificado, um erro de política monetária.

A moderação do aumento esta quinta-feira não significa que o BCE antecipe que vai fazer uma pausa. O comunicado oficial sublinha em relação às próximas reuniões que “as taxas serão elevadas para níveis significativamente restritivos” e que serão mantidas nesses níveis “pelo tempo que for necessário” até que a inflação regresse “oportunamente à meta de médio prazo de 2%” da política monetária.

Compensação pela moderação

Em contrapartida pelo abrandamento na subida dos juros, o conselho decidiu descontinuar já em julho o plano de reinvestimentos na carteira de títulos adquiridos ao abrigo do programa APP (o mais antigo lançado pelo antecessor Mario Draghi em 2014). Deste modo acelera o processo de “aperto quantitativo” na linguagem técnica da política monetária.

Este plano de reinvestimentos estava previsto ser reajustado na reunião de junho, mas é agora anunciada já a sua conclusão. O corte nos reinvestimentos tem sido na ordem de 15 mil milhões de euros por mês em média e assim continuará até final de junho. Em julho do ano passado as compras líquidas por parte deste programa foram fechadas e os reinvestimentos dos títulos que venciam eram feitos na totalidade. A partir de março deste ano passaram a ter uma redução de 15 mil milhões de euros, prevista até junho. A decisão, agora, tomada significa que, entre julho e dezembro, o BCE deixa de reinvestir 148,67 mil milhões de euros no conjunto do programa APP e 119,9 mil milhões especificamente no subprograma PSPP, lançado em 2015, para comprar dívida pública. O BCE reduz, deste modo, o seu papel de credor oficial dos Estados do euro.

No caso do outro programa lançado para responder à pandemia, conhecido pela sigla PEPP, os reinvestimentos prosseguem na íntegra até final de 2024.

O ciclo de subidas mais agressivo desde 1999

O ciclo atual de subida dos juros é o mais agressivo desde a criação do euro. Entre novembro de 1999 e outubro de 2000 os juros aumentaram 225 pontos-base, subindo de 2,5% para 4,75%.

A segunda vaga de aumentos registou-se entre dezembro de 2005 até julho de 2008, com uma subida similar de 225 pontos-base. A taxa diretora passou de 2% para 4,25%, para depois sofrer uma sucessão de sete cortes até descer para 1% em maio de 2009, na sequência do agravamento da crise financeira mundial de 2008 e da recessão global em 2009.

Em 2011, em plena crise das dívidas nas economias periféricas do euro, o então presidente do BCE já em final de mandato, Jean-Claude Trichet, cometeu o erro de subir os juros em 50 pontos-base em abril e julho daquele ano. Em novembro, Mario Draghi reverteria rapidamente a decisão do antecessor e iniciou um ciclo de cortes nas taxas até 0% em 2016, nível mínimo que se manteve durante a pandemia de 2020 e 2021 e até junho de 2022.

Taxa de remuneração dos depósitos sobe para 3%

A outra taxa importante fixada em Frankfurt é a taxa de remuneração da facilidade de depósito permanente, abreviadamente taxa de remuneração de depósitos (dos bancos comerciais nos cofres do sistema do BCE). Com a decisão desta quinta-feira subiu para 3%.

A remuneração recebida pelos bancos comerciais da zona euro é importante. A 28 de abril, os depósitos na facilidade permanente totalizavam 3,98 biliões de euros, representando 52% do passivo do BCE. O disparo nesse instrumento de depósito deu-se depois da taxa de remuneração ter subido de 0% para 0,75% em setembro do ano passado. A 2 de setembro de 2022, os depósitos nessa facilidade somavam apenas 670 mil milhões de euros.

Esta taxa esteve negativa (penalizando os depósitos) de junho de 2014 a julho de 2022, quando se iniciou o ciclo global de subidas das taxas diretoras do BCE. Entre setembro de 2019 e junho de 2022 esteve no nível mais penalizador de -0,5%.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas