Economia

Comissão de inquérito à TAP abre a porta a “identificar” e “punir de forma exemplar” autores de fugas de informação

Comissão de inquérito à TAP abre a porta a “identificar” e “punir de forma exemplar” autores de fugas de informação
Luís Barra

“É um ataque ao coração da democracia”, atacou Jorge Seguro Sanches, sobre as notícias sobre correspondência secreta entregue ao inquérito parlamentar à TAP. Deputados dos partidos solidarizam-se

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP, o socialista Jorge Seguro Sanches, admite abrir um “inquérito” para perceber o que aconteceu para que documentos secretos que foram entregues pelo Governo tenham ido parar à comunicação social. O deputado do PS assumiu mesmo que poderá abrir a hipótese de “identificar quem são os responsáveis e puni-los de forma exemplar”.

As afirmações de Jorge Seguro Sanches foram proferidas esta quinta-feira, 27 de abril, no final de uma tarde de audições de sindicatos da TAP, ao mesmo tempo que foram saindo notícias sobre a companhia aérea, com base em documentos que foram entregues no Parlamento com o carimbo de confidencial. “Exigirá, e não seria inédito, a realização de um inquérito sobre esta situação. Não seria a primeira vez que se faria. Precisamos de conhecer exatamente o que aconteceu”, disse.

É “anti-democratico, ilegal, e inaceitável” que tenha acontecido, declarou o socialista, considerando um “ataque à credibilidade, ao trabalho” da CPI, e “deve ter as respostas mais eficazes possíveis”. “É um ataque ao coração da democracia”. “A confirmar-se, é um ataque muito forte aquilo que são os valores mais sérios e honestos da atividade política”, continuou Seguro Sanches, dizendo que é preciso “ter sentido ético”.

Os documentos do Governo foram entregues ao Parlamento com o selo de confidencial, pelo que só deputados e assessores a eles têm acesso. Entretanto, a SIC noticiou mensagens que mostram que houve perguntas e respostas combinadas entre PS, Governo e a então presidente executiva da TAP antes de uma audição parlamentar em janeiro; a CNN avançou que o Ministério das Infraestruturas estava desconfortável com a argumentação dada pelo Governo (Finanças e Presidência) para concretizar o afastamento de Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja dos seus cargos.

Esta sexta-feira, haverá uma reunião de mesa e coordenadores para decidir quais os procedimentos a seguir, já que a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, não estava presente, e o deputado da Iniciativa Liberal, Bernardo Blanco, teria de sair, admitindo porém que era um tema importante a discutir.

Santos Silva pode ser chamado

O regulamento da CPI à TAP prevê que, “no caso de haver violação de sigilo, a Comissão de Inquérito deve promover uma investigação sumária e deliberar, por maioria qualificada de dois terços, sobre a sua verificação e a identidade do seu autor, para efeitos de comunicação ao Presidente da Assembleia da República”. Ou seja, Augusto Santos Silva pode ser chamado a intervir caso haja mesmo uma investigação.

Se este passo é dado só é decido na sexta-feira, mas o presidente da CPI não esteve sozinho na indignação, e os partidos mostraram-se todos desconfortáveis com as fugas de informação.

“Quero solidarizar-me totalmente com as suas palavras”, disse o deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira, ressalvando, no entanto, “que estas comunicações têm um emissor e têm um destinatário”, pelo que não é certo de que saíram mesmo da “sala de segurança” onde estão estes documentos. “Não obstante, a coincidência temporal empurra mais para cá [Assembleia da República] do que para lá [Governo]”, frisou o social-democrata.

“É lamentável estarmos a assistir a este espetáculo”, atirou Bruno Dias. Não se alongando nas fugas de informação, o deputado comunista criticou aquilo que considera ser inédito em inquéritos parlamentares: “Não me recordo de nenhuma CPI que sendo tão mediatizada tivesse tanta notícia e tanto comentário sobre tudo menos o que se trata na CPI”.

Do PS, Bruno Aragão lembrou os “princípios éticos” que devem reger a CPI, pediu "isenção" e transmitiu que devem ser “utilizados os mecanismos previstos para perceber o que se passou”.

Filipe Melo, do Chega, não queria sequer que a comissão acabasse sem uma decisão: “Isto é uma comissão que deve ser séria, e, se exigimos seriedade a quem cá vem, não podemos agir de forma diferente”. Mas, sem todos os partidos presentes, a decisão sobre o que fazer - nomeadamente confirmar se houve mesmo fuga de informação e, se sim, por quem - fica para sexta-feira.

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