Economia

João Galamba contraria CEO da TAP: foi ela quem pediu a reunião "secreta", ele aceitou

João Galamba contraria CEO da TAP: foi ela quem pediu a reunião "secreta", ele aceitou
Ana Baiao

Ministério das Infraestruturas garante que foi a TAP que quis participar em reunião “secreta” prévia à audição parlamentar de Christine Ourmières-Widener, e não ao contrário, como sugeriu a CEO da empresa. Gabinete de João Galamba diz ainda que o agendamento partiu da equipa de Ana Catarina Mendes

Foi da TAP que partiu o interesse em que a sua presidente executiva participasse numa reunião com o grupo parlamentar do Partido Socialista e membros do Governo um dia antes de Christine Ourmières-Widener ser ouvida pelos deputados da comissão de Economia. Essa é a garantia dada pelo Ministério das Infraestruturas, liderado por João Galamba, que, com esta declaração, contraria a CEO da companhia aérea, que esta quarta-feira disse aos deputados que compareceu na reunião por iniciativa do Ministério das Infraestruturas.

Em comunicado às redações, enviado esta quinta-feira, 6 de abril, o gabinete de Galamba voltou a reiterar que a realização de reuniões é “prática parlamentar e de todos os Grupos Parlamentares”, são encontros “comuns”, que se destinam “à partilha de informação”, dizendo que tal ocorre entre “entre deputados, membros do Governo, dirigentes da Administração Pública ou de empresas públicas”.

Havia uma reunião marcada, para aquele dia 17 de janeiro (quando estava já agendada para o dia seguinte a audição de Christine Ourmières-Widener), e, diz agora o gabinete de Galamba, “o Ministro das Infraestruturas foi informado de que a TAP, na tarde do dia 16 de janeiro, tinha transmitido o seu interesse em participar na reunião com o Grupo Parlamentar do PS”.

Agendamento de Ana Catarina Mendes

“O Ministro das Infraestruturas não se opôs à participação da TAP na reunião, agendada pela Área Governativa dos Assuntos Parlamentares para o dia 17 de janeiro, tendo o seu Gabinete procedido em conformidade”, segundo o comunicado. Galamba atira para a colega de Governo a iniciativa de marcação da reunião, sendo que Ana Catarina Mendes, por sua vez, também alinhou na ideia de que tudo é normal.

Ainda assim, nem João Galamba, nem Ana Catarina Mendes admitem ter a iniciativa de convidar a TAP. Só que Galamba admite que aceitou. A ministra dos Assuntos Parlamentares tinha ontem rejeitado qualquer envolvimento: “Daqui não saiu nenhum convite para reunião com a CEO da TAP”.

Ou seja, João Galamba atira para a colega de Governo, Ana Catarina Mendes, a iniciativa da reunião – algo que até agora tinha sido deixado num limbo.

Dois representantes das Infraestruturas, um deputado

Nessa reunião, em que esteve por exemplo o deputado socialista Carlos Pereira (que um dia depois fez questões à CEO da TAP na comissão de Economia), também estiveram representantes do Ministério dos Assuntos Parlamentares (foi uma adjunta de Ana Catarina Mendes que enviou a ligação para a reunião por Teams para Christine Widener), mas também do Ministério das Infraestruturas: “O adjunto dr. Frederico Pinheiro e a técnica especialista eng.ª Cátia Rosas”. “A reunião ocorreu, no dia 17 de janeiro, pelas 12 horas, sem a presença do Ministro das Infraestruturas”, esclarece Galamba.

A chefe de gabinete de Galamba na Energia, Eugénia Cabaço, também constava do elenco chamado para este encontro.

A presidente da TAP disse que não houve combinação de perguntas naquela reunião prévia, e também o deputado Carlos Pereira rejeitou que ela fosse “preparatória”. Carlos Pereira tinha recusado dizer aos jornalistas de quem tinha sido a iniciativa da reunião - disse que fora a sua secretária a convidá-lo.

Mas e quem teve a ideia da reunião?

De qualquer forma, esta reunião foi tema na audição de terça-feira, dia 4, e só hoje - dois dias depois do primeiro pedido de demissão - é que o gabinete de Galamba responde numa nota à comunicação social.

E passados estes dois dias, continuam as dúvidas sobre quem teve a efetiva ideia de fazer uma reunião - inicialmente com PS e Governo - que todos os envolvidos dizem ser normal.

As explicações que vêm sido dadas não convencem a oposição. A Iniciativa Liberal pede a demissão tanto de João Galamba como de Ana Catarina Mendes, com o PSD a pedir a António Costa se posicione em relação à continuidade do ministro das Infraestruturas. PSD que também quer que o próprio Parlamento avalie a continuidade de Carlos Pereira como deputado que coordena o grupo parlamentar do PS na comissão de inquérito à TAP.

As reuniões entre deputados e membros de equipas governamentais são comuns, mas o facto de contarem com personalidades a serem ouvidas nas comissões parlamentares já surpreende, inclusive antigos responsáveis governamentais, como disseram Miguel Relvas e Marques Mendes para o artigo do Expresso publicado na edição desta quinta-feira.

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