10 janeiro 2023 18:06
tiago miranda
Governador do Banco de Portugal diz que bancos já estão a aumentar a remuneração dos depósitos a prazo, mas defende que tem de continuar a fazer pressão. Mário Centeno revela atenção à evolução das comissões
10 janeiro 2023 18:06
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, pediu aos portugueses “alguma paciência” para a demora dos bancos portugueses na subida dos juros aplicados aos seus depósitos, ainda que sublinhe que já há instituições a subir os juros.
“Quando as taxas de juro eram negativas, em Portugal os bancos nunca cobraram juros negativos. Esta décalage no tempo [de os juros nos depósitos demorarem a subir mais no que nos créditos] pode ser justificada por isso”, declarou Mário Centeno na comissão parlamentar de orçamento e finanças esta terça-feira, 10 de janeiro, considerando que é precisa “alguma paciência”.
De qualquer forma, o líder do Banco de Portugal declarou que essa espera não faz com que se deixe de colocar pressão. “Não me parece adequado [que se mantenha] durante muito tempo”, disse, sobre a manutenção dos juros nos depósitos sem mexidas, enquanto nos créditos há agravamento das prestações à boleia do aumento das Euribor.
“É verdade que as taxas de juro nos depósitos têm e devem acompanhar a evolução das taxas de juro. Já começaram a fazê-lo. Se me pergunta se a dimensão é suficiente, a resposta é clara: é não”, declarou.
“Não vou fazer nenhuma publicidade, mas já há instituições bancárias que oferecem em novos depósitos taxas superiores a 1%”, disse. São os bancos de menor dimensão aqueles que oferecem taxas maiores, sendo que são sempre, porém, taxas inferiores às pagas em certificados de aforro, que agora se aproximam de 3,5% nas novas subscrições. E sempre abaixo da inflação, que tem estado em torno de 10%.
De qualquer forma, apesar da paciência solicitada, há uma expectativa no Banco de Portugal: “É um processo que está em curso e gostaríamos que continuasse e aproximasse [a taxa de juro de depósitos e do crédito]”.
Banco de Portugal atento a comissões
Em relação às comissões bancárias cobradas pelos bancos, que têm ganho um peso mais elevado nos proveitos das instituições, considerou que faz sentido olhar para a sua razão: “Os bancos no mundo inteiro tiveram de rever o seu plano de negócios por causa do período muito longo de taxa de juro negativa”.
As comissões por serviços aumentaram nesse período porque, sem juros a contribuir para a margem financeira, os proveitos cederam. Agora o momento é diferente, com juros a subir, e Centeno espera “que se reflita” nas comissões. “Acompanharemos essa realidade”, declarou o governador.