Economia

BCE não quer "causar efeitos colaterais excessivos" com subida dos juros, diz economista-chefe

BCE não quer "causar efeitos colaterais excessivos" com subida dos juros, diz economista-chefe

O economista-chefe do Banco Central Europeu não antecipa a dimensão do aumento dos juros na reunião da próxima semana, mas garante que o aperto não quer provocar “efeitos colaterais excessivos para a economia e a estabilidade financeira”

O Banco Central Europeu (BCE) já aumentou, este ano, os juros em 2 pontos percentuais e vai continuar a apertar a política monetária, mas não quer “causar efeitos colaterais excessivos para a economia e a estabilidade financeira”, garantiu, esta terça-feira, Philip Lane, o economista-chefe do banco, numa entrevista ao jornal italiano Milano Finanza.

Com a última reunião deste ano do conselho do BCE já na próxima semana, o influente economista irlandês, responsável pelas propostas de política monetária com base no quadro macroeconómico que são discutidas pelos pares, não antecipou a magnitude do aumento dos juros a ser anunciada a 15 de dezembro. Alguns analistas esperam que repita pela terceira vez uma subida de 75 pontos-base, mas o mercado de futuros aponta para uma queda para 30% da probabilidade de uma decisão dessa dimensão.

Nos Estados Unidos, o presidente da Reserva Federal, antecipou que o ritmo de subida vai abrandar já na próxima reunião a 14 de dezembro, e o Banco da Reserva da Austrália, esta terça-feira, optou, pela terceira vez consecutiva, por um aumento de apenas 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual).

Recessão de curta duração

Philip Lane está convencido que o aperto monetário não vai provocar os tais efeitos colaterais “excessivos” sobre a economia da zona euro, porque espera que, “se houver recessão, será relativamente branda e de curta duração”.

Fala da hipótese de durar seis meses e não ser grave, o que é “uma boa notícia para a Europa”. Mas, logo, acrescenta, o outo lado da moeda: uma recessão ‘suave’ tem um efeito “pequeno” sobre a redução da procura agregada na zona euro, o que “significa que o impacto anti-infacionista será relativamente limitado” em 2023.

Lane admite inclusive que a inflação possa subir ainda no início do próximo ano e que só comece a descer “no final da primavera ou no verão”, pois o efeito da subida acumulada dos juros “não é imediato sobre a inflação”. Mas acredita que o aperto monetário acabará “nos próximos um a dois anos, com as taxas mais altas, por travar a procura e reduzir a despesa e a capacidade das empresas em subir os seus preços elevados, limitando, também, a possibilidade de aumentos salariais não sustentáveis".

Neste quadro, o BCE flexibilizou o próprio conceito de inflação em torno de 2% (o objetivo da política monetária) no médio prazo. O “médio prazo” não é vinculado “a um ano ou período específico”, diz Lane. A perspetiva é regressar a 2% “dentro de um horizonte razoável”.

Em virtude desta “flexibilidade” no conceito, o economista-chefe diz que “não é apropriado fazer uma escolha binária entre muito ou pouco” no aperto monetário. Mas admite que “quando nos aproximarmos do alvo, pode surgir o risco de nos excedermos”.

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