A economia portuguesa vai crescer este ano uns robustos 6,7%, mas abrandar - muito - em 2023, quando o Produto Interno Bruto (PIB) deve subir 1% em termos reais. A previsão é da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e está inscrita no seu último Economic Outlook, publicado esta terça-feira.
Trata-se de uma projeção acima da do Governo para este ano, mas mais pessimista no que toca ao próximo. Recorde-se que no Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023), o Ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, aponta para um crescimento do PIB de 6,5% em 2022, e de 1,3% em 2023.
Na sua análise à economia portuguesa, a OCDE justifica este abrandamento com a penalização da atividade associada “à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, disrupções nas cadeias de abastecimento, preços da energia elevados, e taxas de juro a subir”.
Em sentido contrário, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “vai dinamizar o investimento público”, puxando pela atividade, nota a OCDE. Mas a organização alerta que “há riscos de que continuem os atrasos na sua implementação”.
Apesar deste abrandamento previsto para o próximo ano, os números da OCDE indicam que a economia portuguesa vai crescer o dobro da zona euro tanto em 2022 como em 2023. De facto, a projeção para o espaço da moeda única aponta para uma expansão de 3,3% este ano e de apenas 0,5% no próximo. Ainda assim, com a zona euro a manter-se no verde, ou seja, escapando a uma contração anual do PIB.
Já quanto a 2024, a OCDE antecipa um crescimento modesto em Portugal, de 1,2%, ano em que deverá ficar abaixo da zona euro, onde é esperado um incremento do PIB de 1,4%.
Inflação ainda acima dos 6% em 2023
No que toca à escalada dos preços, as notícias dadas pela OCDE não são boas. A organização espera que a inflação, medida pela variação anual do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), atinja 8,3% este ano, impulsionada pelos preços da energia e dos bens alimentares.
Apesar de prever um abrandamento em 2023, a OCDE antecipa que a inflação continue elevada no próximo ano, ficando nos 6,6%. Mesmo em 2024, a inflação em Portugal ainda deverá estar acima do valor de referência dos 2%, atingindo 2,4%.
Neste contexto, a OCDE espera que o crescimento dos salários se reforce, com a taxa de desemprego a manter-se baixa, mas mantendo-se abaixo da inflação. Ou seja, o aumento dos salários não será suficiente para proteger o poder de compra das famílias, avisa a organização.
Ao mesmo tempo, “a política orçamental vai tornar-se mais restritiva”, considera a OCDE. A instituição lembra que “medidas de apoio, nomeadamente transferências em dinheiro, ajudaram a suavizar os choques dos preços da energia em 2022, mas serão crescentemente descontinuadas em 2023”.
A OCDE espera um défice das contas públicas de 1,8% do PIB este ano - ligeiramente abaixo dos 1,9% previstos pelo Governo -, esperando que o saldo negativo das contas públicas diminua para 0,6% do PIB em 2023. É um número abaixo dos 0,9% inscritos pelo Governo no OE 2023.
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