Retalhistas contestam imposto extraordinário: "Não subimos os preços para aumentar o lucro"
NurPhoto/Getty
A taxação dos lucros extraordinários continua a agitar o setor da distribuição, que considera que não tem outra opção se não aumentar os preços. Só em energia a Auchan vai gastar este ano mais 14 milhões do que em 2022
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou, no final do mês passado no Parlamento, que a proposta de lei para taxar os lucros extraordinários iria também chegar ao setor da distribuição. E o tema não ficou de fora do Congresso inRetail, do setor do retalho, que termina esta quinta-feira.
“Mal termine este debate do Orçamento (OE), espero que a Assembleia da República tenha disponibilidade para discutir a proposta de lei, que tem de estar fora do OE, para a tributação dos lucros inesperados das empresas”, disse o primeiro-ministro em resposta ao secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, no Parlamento.
“É para aplicar aos lucros de 2022 e não aos lucros de 2023, a proposta de lei que vamos apresentar para a tributação de lucros não esperados do conjunto das empresas que não são só do sector energético, mas são também do sector da distribuição, e que devem pagar aqueles lucros que estão a ter injustificadamente por via desta crise de inflação”, afirmou António Costa.
Foram estas as declarações de António Costa e o retalho ficou surpreso, e esta quinta-feira não poupou nas críticas.
“Se nós não tivermos mais lucro que no ano passado, espero que nos devolvam [a diferença]”, disse Pedro Cid, presidente executivo da Auchan Portugal.
“Nós fazemos muito pela inflação e dificilmente num ano como este as empresas vão registar um aumento dos lucros. Nós temos custos impressionantes”, notou.
O gestor acrescentou ainda que se as empresas do setor quisessem podiam subir mais os preços. “Só em energia as nossas lojas este ano vão gastar mais 14 milhões de euros que em 2022. Se nós metêssemos estes 14 milhões no preço [preço de venda ao público] ajudávamos a aumentar a inflação, não a reduzir”, afirmou.
Ricardo Pereira, administrador financeiro e vice-presidente executivo da Ikea Portugal, é da mesma opinião. “Nós não subimos os preços para aumentar os lucros (…), aumentamos porque somos obrigados”, pois as matérias-primas também subiram, explicou.
No caso da Ikea, não só a empresa não quer subir os preços, como vai “tentar fazer reduções já este ano”.
“A política de taxar os lucros extraordinários é estranha porque em 2022 não houve tanto covid-19, então vamos estar a comparar 2022 com dois anos extraordinários em que as empresas não tiveram lucros”, notou o responsável da cadeia sueca.
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