Portugal deve eliminar a taxa de carbono e liderar o grupo de países que possam ser contra este tipo de impostos que penalizam as emissões de carbono para a atmosfera, já que são “uma enorme ameaça à competitividade das economias periféricas”, disse Michael O’Leary, presidente do grupo Ryanair, numa conferência de imprensa realizada na Escola de Turismo e Hotelaria de Lisboa, esta terça-feira, 25 de outubro, por ocasião do 20.º aniversário da presença em Portugal da companhia aérea.
Estes impostos são “uma enorme ameaça à competitividade das economias periféricas”, disse O'Leary, e “é importante que estes países”, como Portugal e a Irlanda, onde a Ryanair foi criada e está sediada, lutem conta as propostas de países como a Alemanha ou os Países Baixos , elencou, “para impor este imposto ambiental”. “Temos de convencer o país a eliminar o imposto”, defendeu O’Leary.
A Ryanair apresentou os objetivos para Portugal até 2027: aumentar os passageiros anuais em Portugal de 11 milhões para 15 milhões, criar até 600 postos de trabalho em Portugal, entre pilotos, pessoal de cabine, profissionais de tecnologias da informação, engenheiros. E um “potencial investimento” de 50 milhões de euros numa instalação de manutenção no Porto, que criará 250 postos de trabalho. O contributo para o PIB (produto interno bruto) pode vir a crescer para os 3 mil milhões de euros anuais.
Mas vêm com condicionalidades. Para realizar estes objetivos, há condições, como mais slots na Portela, abrir o Montijo e reverter a taxa de carbono aplicada sobre os voos em Portugal. E O'Leary apela a que o País lidere a campanha contra os impostos ambientais numa altura em que Bruxelas quer punir as viagens de avião pelo seu alto impacto carbónico.
O líder da Ryanair prosseguiu com ataques à TAP e à EasyJet: "Continuam a faltar slots na Portela, estão a bloquear esses slots e a impedir a Ryanair de criar mais postos de trabalho” no Aeroporto de Lisboa, declarou o gestor, acusando a transportadora aérea portuguesa de não usar cerca de 30% dos slots.
“O nosso investimento não está confinado a Lisboa, por mais que adoremos Lisboa”, disse ainda Michael O'Leary, aludindo às cinco bases que a empresa tem em Portugal. “Não iremos sair da Portela para o Montijo” quando (ou se…) o novo aeroporto vocacionado para as low-cost abrir na margem sul do Tejo, assegurou ainda O'Leay, notando que quer operar no Montijo mas também manter-se no Humberto Delgado, e vincou o objetivo de “continuar a crescer na Portela”.
Cada vez mais sensíveis ao preço
O'Leary não antevê uma fuga de cidadãos do norte da Europa para as paisagens mais tépidas do sul, a fugir ao frio e à inflação dos preços da energia. “Não creio que haja uma tendência de pessoas fugirem do frio do norte da Europa pelo sol do sul”, apontou O'Leary, mas ressalvou que vê “uma procura muito forte”.
“Ficamos surpreendidos todas as semanas, nas últimas 8, dez semanas, com o quão fortes estão as reservas”, acrescentou, vincando que “há de novo muito mais pessoas a moverem-se e estão muito mais sensíveis ao preço”, o que pode beneficiar companhias low-cost como a Ryanair.
“As recessões são historicamente boas para o crescimento da Ryanair”, reforçou. “A inflação e a recessão são muito boas para o nosso crescimento” porque, antecipa, “as pessoas não param de voar”, mas param de voar nas companhias aéreas mais caras.
Um dos principais fatores na formação dos preços dos bilhetes de avião, os combustíveis, em alta pronunciada, está mitigado até março, tendo assegurado combustível a um preço que ronda os 64 dólares por barril. “A TAP e concorrentes estão a pagar mais de 100 dólares por barril”, calcula.
Em relação à TAP, O'Leary crê que “a TAP seja vendida, provavelmente à IAG”, porque as rotas de que atualmente dispõe são complementares às da empresa que hoje detém a Iberia e a British Airways, disse.
Moedas agradece
A Ryanair prepara-se para celebrar o 20.º aniversário em Portugal, depois da primeira rota realizada pela companhia aérea irlandesa, entre Faro e Dublin, em 2003. Para celebrar a efeméride, encomendou um estudo à PwC sobre o impacto da presença da companhia aérea na economia portuguesa. Em termos acumulados representou, nas contas da consultora, um impacto positivo total de 15,19 mil milhões de euros.
Em 2019, o contributo direto no PIB foi de 2,08 mil milhões de euros, representando 4 milhões de visitantes ao País. Cada euro gerado pela Ryanair no PIB, segundo os cálculos da consultora, tem um efeito multiplicador de 2,18 euros na economia portuguesa.
Carlos Moedas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, elogiou na sessão a Ryanair por aumentar a possibilidade de viajar. “Quando eu era muito jovem, viajar era muito caro, não era para todos”, disse. “Há uma geração que começou a viajar porque esta é a empresa que democratizou as viagens”, acrescentou o autarca.
Além de ter voltado ao tema aeroporto - “precisamos e um novo aeroporto e já”, vincou, “e o presidente da câmara estará aqui para decidir e para estar do lado da decisão” - avançou que Michael O'Leary embarcou no projeto de Moedas “de ter Lisboa como capital da inovação na Europa, ”concordando", sem dar mais detalhes, “em fazer parte deste projeto que é a Fábrica de Unicórnios”, a ser lançada “na próxima semana” por ocasião da Web Summit.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes