Economia

Banco de Portugal admite recuo da procura de crédito por parte das empresas

Governador Mário Centeno Foto Ana Baião
Governador Mário Centeno Foto Ana Baião
Ana Baiao

Subida das taxas de juro e atual contexto de subida da inflação vai ter impacto no financiamento e estratégia de investimento das empresas, alerta o Banco de Portugal

O Banco de Portugal traça uma radiografia sobre o financiamento das empresas no atual contexto de subida de taxas de juros e prevê que a estratégia de financiamento das empresas vai refletir a sua capacidade de ajustamento relativa à subida dos juros e que pode haver uma redução da procura de crédito.

Não se pode esquecer que a subida dos juros, mesmo partindo de um contexto muito baixo implicará aumentos de custos de financiamento e por isso haverá seguramente empresas a repensarem as suas estratégias de financiamento.

Recorde-se que a inflação está nos 9,3%, o Banco de Portugal tinha estimado em junho uma inflação de 5,9% e revê agora essa previsão em alta para 7,8%.

No Boletim Económico divulgado esta quinta-feira, o supervisor financeiro avisa que “os aumentos que não possam ser absorvidos pelas margens das empresas levarão a uma redução da procura de crédito, a uma alteração da gestão da liquidez das empresas e a um adiamento de projetos de investimento”.

Opção por taxa fixa é minoritária

A maior parte das empresas portuguesas financia-se a taxa variável ou mista, sendo nas grandes empresas que há uma maior preferência por taxas fixas.

O Banco de Portugal faz uma radiografia sobre as condições a que se financiem as empresas e conclui que em julho os empréstimos com taxa variável ou mista representavam 85% do montante total e 61% do número de empréstimos.

Em contrapartida os empréstimos com taxa fixa correspondiam a 15% do montante total e 38% do número de empréstimos.

Um cenário importante para se perceber o impacto da subida das taxas de juro. Mas não só.

Por tipo de empresas é visível que é nas grandes empresas onde o peso das taxas de juro fixas é maior: 25% das grandes empresas financiam-se com taxa fixa e 73% com taxa variável ou mista.

No universo total analisado pelo BdP as grandes empresas representam 15%. As micro-empresas 32%, as pequenas empresas 27% e as médias empresas 26%.

As micro-empresas e as pequenas empresas preferem taxa variável ou mista, com maior destaque para as pequenas empresas. Também nas médias empresas impera o financiamento com taxa variável ou mista.

E se olharmos para os financiamentos com garantia mútua então 97% dos empréstimos são concedidos a taxa variável ou mista.

Neste caso o peso das empresas que se financiam com garantia do Estado é no total dos setores 11%. Todas as outras, 89%, financiam-se sem garantia do Estado.

Euribor a 12 meses é a preferida

As empresas preferem a Euribor a 12 meses como indexante dos seus empréstimos, logo seguida da Euribor a 6 meses.

O Boletim Económico do Banco de Portugal constata que a descida da descida das taxas de juros nos últimos anos, registando valores historicamente baixos, se inverteu em maio de 2022.

Embora fosse expectável a subida das taxas de juro, a pandemia veio atrasar essa expectativa - mas a subida da inflação e a guerra na Ucrânia vieram dar um caráter de maior subida dos preços do que era estimado no final de 2021.

O atual contexto determinou por isso que "em julho, a taxa de juro dos empréstimos cifrou-se em 2,23% (2,63% para os novos empréstimos), 0,21 pontos percentuais acima do mínimo histórico registado em abril de 2022 (0,78 pontos percentuais para os novos empréstimos em igual período)", sublinha o Banco de Portugal .

Banco de Portugal

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