Banco de Portugal admite recuo da procura de crédito por parte das empresas
Subida das taxas de juro e atual contexto de subida da inflação vai ter impacto no financiamento e estratégia de investimento das empresas, alerta o Banco de Portugal
Subida das taxas de juro e atual contexto de subida da inflação vai ter impacto no financiamento e estratégia de investimento das empresas, alerta o Banco de Portugal
O Banco de Portugal traça uma radiografia sobre o financiamento das empresas no atual contexto de subida de taxas de juros e prevê que a estratégia de financiamento das empresas vai refletir a sua capacidade de ajustamento relativa à subida dos juros e que pode haver uma redução da procura de crédito.
Não se pode esquecer que a subida dos juros, mesmo partindo de um contexto muito baixo implicará aumentos de custos de financiamento e por isso haverá seguramente empresas a repensarem as suas estratégias de financiamento.
Recorde-se que a inflação está nos 9,3%, o Banco de Portugal tinha estimado em junho uma inflação de 5,9% e revê agora essa previsão em alta para 7,8%.
No Boletim Económico divulgado esta quinta-feira, o supervisor financeiro avisa que “os aumentos que não possam ser absorvidos pelas margens das empresas levarão a uma redução da procura de crédito, a uma alteração da gestão da liquidez das empresas e a um adiamento de projetos de investimento”.
A maior parte das empresas portuguesas financia-se a taxa variável ou mista, sendo nas grandes empresas que há uma maior preferência por taxas fixas.
O Banco de Portugal faz uma radiografia sobre as condições a que se financiem as empresas e conclui que em julho os empréstimos com taxa variável ou mista representavam 85% do montante total e 61% do número de empréstimos.
Em contrapartida os empréstimos com taxa fixa correspondiam a 15% do montante total e 38% do número de empréstimos.
Um cenário importante para se perceber o impacto da subida das taxas de juro. Mas não só.
Por tipo de empresas é visível que é nas grandes empresas onde o peso das taxas de juro fixas é maior: 25% das grandes empresas financiam-se com taxa fixa e 73% com taxa variável ou mista.
No universo total analisado pelo BdP as grandes empresas representam 15%. As micro-empresas 32%, as pequenas empresas 27% e as médias empresas 26%.
As micro-empresas e as pequenas empresas preferem taxa variável ou mista, com maior destaque para as pequenas empresas. Também nas médias empresas impera o financiamento com taxa variável ou mista.
E se olharmos para os financiamentos com garantia mútua então 97% dos empréstimos são concedidos a taxa variável ou mista.
Neste caso o peso das empresas que se financiam com garantia do Estado é no total dos setores 11%. Todas as outras, 89%, financiam-se sem garantia do Estado.
As empresas preferem a Euribor a 12 meses como indexante dos seus empréstimos, logo seguida da Euribor a 6 meses.
O Boletim Económico do Banco de Portugal constata que a descida da descida das taxas de juros nos últimos anos, registando valores historicamente baixos, se inverteu em maio de 2022.
Embora fosse expectável a subida das taxas de juro, a pandemia veio atrasar essa expectativa - mas a subida da inflação e a guerra na Ucrânia vieram dar um caráter de maior subida dos preços do que era estimado no final de 2021.
O atual contexto determinou por isso que "em julho, a taxa de juro dos empréstimos cifrou-se em 2,23% (2,63% para os novos empréstimos), 0,21 pontos percentuais acima do mínimo histórico registado em abril de 2022 (0,78 pontos percentuais para os novos empréstimos em igual período)", sublinha o Banco de Portugal .
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: IVicente@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes