Economia

Von der Leyen ataca plano de ajuda alemão: "É essencial preservar condições iguais para todos na UE"

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen
JULIEN WARNAND

A Alemanha apresentou um plano contra a inflação de 200 mil milhões de euros, o que gerou desconforto entre alguns países do bloco. Von der Leyen criticou por ser preciso uma “solução europeia comum”. E enviou uma carta aos membros da UE a propor um “roteiro com novas ações” de resposta à crise energética

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, criticou indiretamente a Alemanha por apresentar um pacote de ajuda de 200 mil milhões de euros para combater a subida dos preços. A responsável falava esta quarta-feira num debate na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.

O pacote alemão tem causado um certo incómodo a outros países com menos poderio económico e, na opinião da Comissão, pode mesmo criar uma maior lacuna dentro do bloco europeu.

"Temos de proteger os alicerces da nossa economia e, em particular, o nosso mercado único. Esta é a força da União Europeia [UE], é daí que vem a riqueza da UE. Sem uma solução europeia comum, corremos o risco de fragmentação. É essencial que preservemos condições iguais para todos na União Europeia", sublinhou a presidente.

O apoio alemão “caiu mal”, especialmente pois foi este país que pediu solidariedade aos restantes para reduzirem o consumo de gás, já que a Alemanha é precisamente um dos Estados-membros com maior dependência do abastecimento russo.

A possível resposta conjunta

Von der Leyen quer então uma resposta conjunta, mostrando um bloco de 27 unido. Uma das propostas é o teto máximo ao preço do gás para produção de eletricidade na UE.

“Os preços elevados do gás estão a fazer subir os preços da eletricidade, [pelo que] temos de limitar este impacto inflacionário do gás na eletricidade em toda a Europa. É por isso que estamos prontos a discutir um limite ao preço do gás que é utilizado para gerar eletricidade”, disse Ursula von der Leyen.

A líder do executivo comunitário apontou que este teto, semelhante ao que existe já em Portugal e Espanha com o mecanismo ibérico, “seria também um primeiro passo no caminho para uma reforma estrutural do mercado da eletricidade”.

“Mas também temos de olhar para os preços do gás para além do mercado da eletricidade” e, por isso, “trabalharemos também em conjunto com os Estados-membros para reduzir os preços do gás e limitar a volatilidade e o impacto da manipulação dos preços pela Rússia”, indicou Ursula von der Leyen, sem concretizar.

A posição surge numa altura em que os Estados-membros – como Itália, França, Espanha e Bélgica – pressionam a Comissão Europeia para intervir no mercado do gás, colocando tetos gerais nos preços, medida que conta porém com a oposição da Alemanha.

O executivo comunitário já deveria, inclusive, ter colocado em cima da mesa um documento de trabalho com estes possíveis tetos aos preços do gás (por exemplo, no caso das importações russas), mas isso ainda não aconteceu.

Para a responsável, “um tal limite para os preços do gás deve ser concebido adequadamente para garantir a segurança do aprovisionamento”.

Já durante a tarde, numa carta enviada aos chefes de Governo e de Estado da UE, von der Leyen propõe oficialmente um “roteiro com novas ações” para o bloco comunitário enfrentar a acentuada crise energética, que passa desde logo por um trabalho “em conjunto com os Estados-membros para desenvolver uma intervenção para limitar os preços no mercado do gás natural”.

É preciso proteger infraestruturas da UE após “sabotagem” russa

No mesmo discurso, a presidente da Comissão Europeia defendeu a proteção das infraestruturas energéticas da UE, após a sabotagem russa nos gasodutos da Nordstream I e II. “Os atos de sabotagem contra os gasodutos Nordstream [I e II] mostraram quão vulneráveis são as nossas infraestruturas energéticas, [já que], pela primeira vez na história recente, tornaram-se um alvo”, afirmou.

“Os oleodutos e cabos submarinos ligam cidadãos e empresas europeias ao mundo e são oleodutos e gasodutos de dados e energia, [sendo] do interesse de todos os europeus proteger melhor esta infraestrutura crítica”, salientou Ursula von der Leyen.

Para assegurar tal salvaguarda, a responsável anunciou um novo “plano de cinco pontos”, que passa desde logo por ter em vigor a recentemente proposta legislação para reforçar a resiliência das infraestruturas críticas da UE, bem como por trabalhar com os Estados-membros “para assegurar testes de stress eficazes no setor da energia”, de forma a “identificar os seus pontos fracos e preparar a reação a ruturas súbitas” perante perturbação de estruturas de combustível, geradores ou de armazenamento, elencou.

Além disso, “aumentaremos a nossa capacidade de resposta através do nosso Mecanismo de Proteção Civil da UE”, também “faremos o melhor uso da nossa capacidade de vigilância por satélite para detetar potenciais ameaças” e ainda “reforçaremos a cooperação com a NATO e parceiros-chave como os Estados Unidos sobre estas questões críticas”, referiu Ursula von der Leyen.

Esta posição será transmitida pela líder do executivo comunitário aos chefes de Governo e de Estado da UE, que no final desta semana se reúnem numa cimeira informal em Praga, devido à presidência checa do Conselho, numa carta com um roteiro que inclui também possíveis medidas para enfrentar a crise energética como tetos ao preço do gás para produção de eletricidade.

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