Pela terceira vez desde que a guerra na Ucrânia começou, Portugal volta esta terça-feira a receber gás natural oriundo da Rússia. O navio Yakov Gakkel deverá atracar em Sines pelas 6h30 desta terça-feira, 23 de agosto, de acordo com os últimos dados publicados pelo Porto de Sines.
Com bandeira das Bahamas e registo em Nassau, o Yakov Gakkel irá descarregar no terminal da REN - Redes Energéticas Nacionais gás natural liquefeito (GNL) proveniente do terminal de Sabetta, na península de Yamal, no Norte da Rússia, de onde é exportado grande parte do gás russo que não segue por gasoduto para o centro da Europa.
O Yakov Gakkel é um navio construído em 2019, com 283 metros de comprimento. Tem 37 tripulantes, de acordo com os dados publicados na página do Porto de Sines.
Trata-se da terceira carga de gás russo que chega a Portugal desde que começou a guerra na Ucrânia. A primeira chegou a Sines a 4 de março, através do navio Vladimir Vize, transportando gás contratado pela espanhola Naturgy (antiga Gas Natural Fenosa) ao abrigo de um contrato de longo prazo iniciado em 2018 e com término em 2038.
O jornal "Público", que revelou no sábado a importação associada ao Yakov Gakkel, questionou a Naturgy sobre o destino do gás transportado por este navio, mas não obteve resposta (também em março, quando o Expresso questionou a Naturgy sobre o Vladimir Vize e futuras importações de gás russo, a empresa não deu esclarecimentos).
A Naturgy, que comercializa gás natural em Portugal sobretudo junto de clientes empresariais, fez a sua primeira importação de GNL russo em junho de 2018. Nessa altura, quando ainda operava sob a marca Gas Natural Fenosa, a empresa espanhola revelou que essa descarga, de 173 mil metros cúbicos de gás natural, feita na Corunha, correspondia ao primeiro de 37 barcos anuais contratados até ao ano 2041 entre a Fenosa e a russa Yamal LNG (que tem entre os seus acionistas a Novatek, a francesa Total e as chinesas CNPC e Silk Road Fund).
A Naturgy será o único dos quatro importadores de gás para Portugal (um grupo que inclui ainda a Galp, EDP e Endesa) que mantém as importações oriundas da Rússia.
Os dados da REN indicam que nos primeiros sete meses do ano a Rússia pesou 5,7% no aprovisionamento de gás natural de Portugal. É a soma do volume que entrou na rede nacional de gás em março e de uma outra carga que chegou a Sines em maio.
No período de janeiro a julho a maior fonte de gás de Portugal foi a Nigéria (55%), seguida dos Estados Unidos da América (28%). Trinidad e Tobago (perto de 11%) é outra das origens do gás importado por Portugal.
Desde o início da guerra a Europa reduziu as suas importações de gás natural da Rússia, mas o fornecimento por via de gasodutos (como o Nord Stream 1) foi continuando ao longo dos meses, ainda que com fluxos mais reduzidos. Contudo, além da exportação por via terrestre, a Rússia também envia gás para o exterior por via marítima.
Atualmente, segundo dados publicados pelo instituto Bruegel, com base na informação da ENTSOG (rede europeia de operadores de transporte de gás), a Rússia pesa cerca de 12% nas importações europeias de gás natural, contra 26% em fevereiro, quando a guerra na Ucrânia começou.
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