"Há uma boa hipótese de restaurar a estabilidade de preços sem cair em recessão", disse esta quarta-feira Jerome Powell, o presidente da Reserva Federal (Fed), depois da reunião em que o banco central norte-americano decidiu subir este ano, pela segunda vez, a taxa de juro e antecipar que, em junho, começa a emagrecer o valor dos títulos que tem em carteira.
Vencer a inflação através de um aperto na política monetária não significa arrastar a economia dos Estados Unidos para uma recessão, repetiu Powell na primeira conferência de imprensa presencial desde o início da pandemia há mais de dois anos. O presidente da Fed acredita que há "boas hipóteses" de conseguir uma "aterragem suave" da economia depois da subida das taxas durante este ano e da redução da carteira de dívida pública e títulos hipotecários. Janet Yellen, a secretária do Tesouro do governo do presidente Biden, disse o mesmo esta quarta-feira. "Acredito que vamos ter um crescimento sólido no próximo ano. A Fed tem de ser hábil, mas também tem de ter sorte. Acredito que essa combinação é possível", disse Yellen, antecessora de Powell à frente da Reserva Federal, em entrevista ao The Wall Street Journal.
"Há um caminho plausível" para conseguir combinar um aumento de juros de 50 pontos-base (meio ponto percentual) "nas duas próximas reuniões" (junho e julho) e uma redução do balanço em meio bilião de dólares até final do ano, sem provocar a quebra do PIB como aconteceu com a terapia de choque de Paul Volcker entre 1979 e 1982. O então presidente da Fed, cuja "coragem" Powell garantiu "admirar", gerou a maior escalada de sempre das taxas da Fed, conseguiu reduzir as inflação para menos de 4% em 1985 depois de esta ter estado em dois dígitos, mas provocou dois anos de recessão (em 1980 e 1982).
No entanto, Powell colocou de lado a possibilidade da Fed exagerar no aperto e decidir aumentos de 75 pontos-base (0,75 pontos percentuais) na taxa diretora nas próximas reuniões, o que provocaria um disparo ainda maior dos juros até final do ano. "Uma subida de 75 pontos-base não é algo que a Fed esteja a considerar ativamente", disse o presidente do banco central.
A subida de 50 pontos-base, decidida esta quarta-feira, já foi fora do comum - o normal eram mexidas de 25 pontos-base. A última subida de meio ponto percentual foi em 16 de maio de 2000 (tendo, então, a taxa subido para 6,5%) após o pico da bolha das dot-com nos EUA - era, então, presidente da Fed Alan Greenspan. "75 pontos-base seria um aumento monstruoso segundo os padrões atuais, ainda que uma brincadeira de crianças para Paul Volcker no seu tempo", ironizou o site Politico.
O presidente do banco central norte-americano acentuou que o papel da Fed "é impedir que a desagradável alta inflação se entrincheire", mas admitiu que isso tem um custo também "desagradável" com a subida dos juros e o seu impacto no financiamento do investimento e nas hipotecas. Mas Powell acredita na "solidez" da economia dos Estados Unidos e no "mercado laboral robusto com a maIs baixa taxa de desemprego em cinco décadas". "O crescimento em 2022 será sólido. A economia é suficientemente robusta e capaz para lidar com o aperto da política monetária", mesmo apesar do mau sinal do primeiro trimestre (com uma quebra de 1,4% do PIB em relação ao trimestre anterior). O mercado laboral está praticamente em pleno emprego (com uma taxa de desemprego de 3,6% em março, quando na Zona Euro estava em 6,8%) e Powell acredita que não vai haver uma "espiral" altista de subida de salários e subsequente repercussão nos preços.
Recorde-se que a Fed decidiu na reunião desta terça e quarta-feira aumentar a taxa diretora para o intervalo entre 0,75% e 1% e iniciar em junho um processo de emagrecimento da carteira de títulos em duas fases - uma entre junho e agosto com uma redução mensal de 47,5 mil milhões de dólares e outra, entre setembro e o final do ano, de 95 mil milhões. O que perfaz um esvaziamento de mais de 520 mil milhões de dólares no valor dos ativos no final do ano.
Wall Street reagiu esta quarta-feira com 'excitação' às decisões da Fed e às palavras de Powell garantindo que não estão na mesa subidas mais drásticas da taxa na ordem de 75 pontos-base. Os índices Dow Jones e S&P 500 registaram esta quarta-feira a melhor sessão do ano, com subidas de 2,2% e 2,99% respetivamente. O Nasdaq, o índice das tecnológicas, subiu 3,2%, mas foi a quinta maior subida do ano.
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