A guerra da Ucrânia adicionou uma nova crise em cima da crise da pandemia, e, mais do que qualquer outra região do mundo, a Europa está na linha da frente desse novo impacto geopolítico. Essa é a principal mensagem do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) transmitida esta sexta-feira a partir das reuniões de primavera da organização em Washington DC.
Isso significa para a Europa uma maior grau de incerteza sobre a evolução da conjuntura económica, que, no cenário-base, do FMI, divulgado esta semana, regista um abrandamento contínuo do ritmo de crescimento anual até 2027, com uma desaceleração acentuada de 5,4% em 2021 para 2,9% em 2022 até cair para um ritmo anual de 1,7% daqui a cinco anos.
Os economistas do FMI tentam falar deste abrandamento acentuado como uma "aterragem suave", mas, esta sexta-feira, Alfred Kammer, o diretor do departamento europeu do Fundo, adicionou um aviso. Sem querer especificar os momentos e os países em particular, Kammer referiu expressamente que "algumas economias europeias poderão registar recessões leves em alguns trimestres deste ano". "Em alguns trimestres, o crescimento pode estar próximo de zero, um pouco acima ou abaixo, em alguns casos", disse o economista alemão.
A exceção a este risco que destacou - por duas vezes - foi Espanha, que registará, em 2022, o segundo maior crescimento (4,8%) na zona euro depois da Irlanda (5,2%). O grupo das economias da União com um crescimento acima ou igual a 4% inclui, além das duas economias referidas, Malta (4,8%) e Portugal (4%).
O impacto da crise geopolítica vai ser mais acentuado nas economias de leste que estão na fronteira da Ucrânia ou da Rússia (e Bielorrússia, com um regime aliado de Moscovo) e em algumas grandes economias como a Alemanha e Itália cuja exposição à Rússia é maior. Os maiores estragos registam-se no crescimento da Estónia (0,2%), Letónia (1%), Eslováquia (1,2%) e Roménia (2,2%). A Alemanha e Itália vão crescer claramente abaixo da média da zona euro (2,8%).
Alfred Kammer recordou ainda que a situação poderá evoluir para um cenário mais pessimista, em que, em vez de um abrandamento suave até 2027, a economia europeia pode mesmo tropeçar. O cenário adverso, estudado pelo FMI, nomeadamente se houver um embargo total do gás e petróleo russos e uma escalada da guerra, aponta para uma recessão de 0,5% em 2023 e 0,9% em 2024 na União Europeia, com uma quase estagnação daqui a cinco anos (crescimento de 0,6% em 2027).
Pelo que Kammer pediu ao Banco Central Europeu que tome as medidas de uma 'normalização' da política monetária, mais lenta ou mais acelerada, "sempre em função dos dados" e que a política orçamental na Europa evite uma espiral inflacionária nos salários.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt