Economia

Países europeus podem registar recessão em alguns trimestres, avisa o FMI

Sede do Fundo Monetário Internacional em Washington DC, nos Estados Unidos
Sede do Fundo Monetário Internacional em Washington DC, nos Estados Unidos
STEFANI REYNOLDS

Algumas economias da União Europeia, mais expostas aos impactos da guerra, poderão registar contrações em alguns trimestres de 2022, avisa o diretor do departamento europeu do FMI

A guerra da Ucrânia adicionou uma nova crise em cima da crise da pandemia, e, mais do que qualquer outra região do mundo, a Europa está na linha da frente desse novo impacto geopolítico. Essa é a principal mensagem do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) transmitida esta sexta-feira a partir das reuniões de primavera da organização em Washington DC.

Isso significa para a Europa uma maior grau de incerteza sobre a evolução da conjuntura económica, que, no cenário-base, do FMI, divulgado esta semana, regista um abrandamento contínuo do ritmo de crescimento anual até 2027, com uma desaceleração acentuada de 5,4% em 2021 para 2,9% em 2022 até cair para um ritmo anual de 1,7% daqui a cinco anos.

Os economistas do FMI tentam falar deste abrandamento acentuado como uma "aterragem suave", mas, esta sexta-feira, Alfred Kammer, o diretor do departamento europeu do Fundo, adicionou um aviso. Sem querer especificar os momentos e os países em particular, Kammer referiu expressamente que "algumas economias europeias poderão registar recessões leves em alguns trimestres deste ano". "Em alguns trimestres, o crescimento pode estar próximo de zero, um pouco acima ou abaixo, em alguns casos", disse o economista alemão.

A exceção a este risco que destacou - por duas vezes - foi Espanha, que registará, em 2022, o segundo maior crescimento (4,8%) na zona euro depois da Irlanda (5,2%). O grupo das economias da União com um crescimento acima ou igual a 4% inclui, além das duas economias referidas, Malta (4,8%) e Portugal (4%).

O impacto da crise geopolítica vai ser mais acentuado nas economias de leste que estão na fronteira da Ucrânia ou da Rússia (e Bielorrússia, com um regime aliado de Moscovo) e em algumas grandes economias como a Alemanha e Itália cuja exposição à Rússia é maior. Os maiores estragos registam-se no crescimento da Estónia (0,2%), Letónia (1%), Eslováquia (1,2%) e Roménia (2,2%). A Alemanha e Itália vão crescer claramente abaixo da média da zona euro (2,8%).

Alfred Kammer recordou ainda que a situação poderá evoluir para um cenário mais pessimista, em que, em vez de um abrandamento suave até 2027, a economia europeia pode mesmo tropeçar. O cenário adverso, estudado pelo FMI, nomeadamente se houver um embargo total do gás e petróleo russos e uma escalada da guerra, aponta para uma recessão de 0,5% em 2023 e 0,9% em 2024 na União Europeia, com uma quase estagnação daqui a cinco anos (crescimento de 0,6% em 2027).

Pelo que Kammer pediu ao Banco Central Europeu que tome as medidas de uma 'normalização' da política monetária, mais lenta ou mais acelerada, "sempre em função dos dados" e que a política orçamental na Europa evite uma espiral inflacionária nos salários.

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