Economia

Efeitos da guerra: menos fábricas a produzir, produtos mais caros e menos rendimento para os comprar

Efeitos da guerra: menos fábricas a produzir, produtos mais caros e menos rendimento para os comprar
José Carlos Carvalho

Banco de Portugal vê quatro canais de impacto da guerra na Ucrânia, agravados pelas sanções como resposta ao conflito liderado pela Rússia

Efeitos da guerra: menos fábricas a produzir, produtos mais caros e menos rendimento para os comprar

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O rendimento disponível das famílias vai descer, as empresas vão ter dificuldades em obter produtos (e podem mesmo ter de parar), o comércio entre países está limitado e, acima de tudo, há incerteza. Estes são os quatro canais de impacto da guerra que é travada na Ucrânia por parte da Rússia, intensificados pelas consequências das sanções económicas.

O cenário é traçado pelo diretor-adjunto do departamento de estudos do Banco de Portugal, João Amador, numa conversa que tem no podcast feito pela própria autoridade bancária e que foi divulgado na sequência da divulgação do Boletim Económico, altura em que baixou a projeção de crescimento de 5,8% para 4,9% em 2022, com uma redução também prevista para o ano seguinte.

Aumento das matérias-primas importadas

O primeiro canal tem que ver com o aumento do preço das matérias-primas que Portugal importa, como as fontes de energia (petróleo e gás) ou os cereais. “Temos os produtores a enfrentar maiores custos de produção e vão exigir preços mais altos por unidade produzida”, sintetiza. Já tem vindo a acontecer e é uma nova pressão colocada quando já havia sectores sob pressão – já acontecia por exemplo nos preços do papel, que levou produtoras a aumentar preços. Em consequência, há uma “queda do poder aquisitivo” dos portugueses.

“Quando temos estas duas forças, temos no final preços mais altos e menores quantidades produzidas e consumidas, e menos rendimento”, sintetiza João Amador no podcast.

Perturbações na produção

O segundo canal mencionado pelo diretor-adjunto do Banco de Portugal passa pelas “perturbações diretas na produção”, como sejam as dificuldades de transporte e as paragens no abastecimento. Mais uma vez, a pandemia já tinha levantado estes problemas, pelo que agora há um agravar da situação.

O caso dos chips para a eletrónica é um dos exemplos dados pelo responsável. Há “elementos para a produção dos chips incorporados nos aparelhos eletrónicos, fornecidos a partir da Ucrânia”, e “uma paragem poderá ter consequência em toda a indústria mais eletrónica”.

“No entanto, a capacidade de adaptação das empresas – já demonstrada durante a pandemia – mitiga o impacto deste tipo de choques no médio prazo”, é o que diz o supervisor no Boletim Económico que foi divulgado.

O comércio

Todos estes problemas têm implicações nas trocas comerciais entre os países. Diretamente nem há grande ligação entre Portugal e a Rússia e a Ucrânia, as duas economias mais expostas à guerra. Os dois países representam 0,4% das exportações nacionais e 2% das importações de bens, segundo os dados de 2015 a 2019. Mas o mundo está interligado.

“É limitado, mas há muitos países com os quais comerciamos bastante que são mais afetados. Os efeitos indiretos, em termos de procura externa dirigida a Portugal, as coisas podem ser mais significativas”, continua o responsável do supervisor.

A incerteza

Por fim, nas estimativas da autoridade comandada por Mário Centeno, há um quarto canal de impacto: há incerteza e há impacto nos mercados financeiros. O pessimismo adia decisões de consumo de família e adia decisões de investimento de empresas. O que paralisa a economia.

A contribuir para todo este cenário “adverso” há ainda as consequências das sanções, acrescenta a economista do Banco de Portugal Gabriela Castro. Há “consumidores e grandes empresas mais resistentes em adquirir matéria-prima que provém da Rússia”, tendo em conta as sanções impostas em determinadas áreas (isto apesar de a exposição ao país até ser limitado), mas há um problema: “retaliações”. Uma “possível sanção russa a fornecimentos de energia” teria grandes consequências na zona euro e, claro, em Portugal, disse a economista no mesmo podcast.

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