Economia

Guerra atinge mais severamente economias europeias. Portugal entre os mais afetados por uma redução das importações de energia

Guerra atinge mais severamente economias europeias. Portugal entre os mais afetados por uma redução das importações de energia
Anadolu Agency

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico estima que a guerra na Ucrânia pode 'roubar' 1,4 pontos percentuais ao crescimento na zona euro. Em caso de restrições às importações de energia, Portugal é dos países mais afetados

A incerteza ainda é grande, mas a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) não tem dúvidas: "A guerra vai resultar num entrave de curto-prazo substancial ao crescimento global e em pressões inflacionistas significativamente mais fortes". As palavras constam do documento "Impactos económicos e sociais e implicações para as políticas da guerra na Ucrânia", publicado esta quinta-feira pelo organismo sedeado em Paris.

O documento destaca que as economias europeias serão as mais afetadas pelo conflito. E, em caso de restrições às importações de energia, Portugal será o sexto país da UE mais penalizado no crescimento.

Frisando que a magnitude do impacto "é altamente incerto, e vai depender, em parte, da duração da guerra e das respostas das políticas públicas", a organização avança projeções. O crescimento mundial pode ser reduzido em mais de um ponto percentual e a inflação global aumentar em perto de 2,5 pontos percentuais no primeiro ano completo após o início do conflito.

As estimativas, baseadas na assunção de que os choques nos mercados de commodities e financeiros observados nas primeiras duas semanas do conflito persistem por, pelo menos, um ano, não correspondem exatamente ao conjunto do ano de 2022. Como a guerra começou a 24 de fevereiro, o primeiro ano completo só termina a 24 de fevereiro de 2023. Mas é uma aproximação bastante grande, dado que a diferença não chega a dois meses.

Ora, a projeção feita em dezembro pela OCDE para a economia global em 2022 era de um crescimento de 4,5%. Retirar um ponto, significa um crescimento de 3,5%.

Europa é a região mais afetada

A OCDE espera uma "recessão profunda" na economia russa, alvo de diversas sanções internacionais após a invasão da Ucrânia. O cenário traçado é um recuo do Produto Interno Bruto (PIB) em mais de 10% e a inflação a aumentar perto de 15 pontos percentuais.

Frisando que "o impacto dos choques difere entre regiões", a OCDE salienta que "as economias europeias, coletivamente, serão as mais atingidas, em particular as que fazem fronteira com a Rússia ou a Ucrânia". Tudo por causa de "preços mais elevados do gás na Europa do que noutras partes do mundo e a força relativa dos laços de negócios e energéticos com a Rússia antes do conflito".

Para o conjunto da zona euro, a projeção da OCDE é que a guerra na Ucrânia 'roube' 1,4 pontos pontos percentuais ao crescimento económico no primeiro ano completo após o início do conflito.

Como referido, esta projeção não coincide exatamente com o ano de 2022, mas é uma aproximação. Por referência, em dezembro, a OCDE projetava um crescimento da zona euro de 4,3% este ano. Retirando 1,4 pontos percentuais, significa que a expansão económica da zona euro ficará pelos 2,9%.

Este número fica aquém do cenário traçado há uma semana pelo Banco Central Europeu (BCE), que, apesar de ter revisto em baixa o crescimento no espaço da moeda única este ano, espera uma expansão de 3,7%. Contudo, o BCE avisou que, no cenário mais pessimista, o crescimento pode ficar pelos 2,3%.

A OCDE não apresentou projeções para os países da zona euro individualmente, mas dado que o maior choque económico advém dos produtos energéticos, faz um exercício calculando os efeitos diretos no crescimento de uma redução dos inputs energéticos, caso surjam restrições às importações de energia. E Portugal é dos países mais afetados da UE por este cenário.

Assim, um declínio de 20% nos inputs energéticos importados (importações diretas e indiretas de combustíveis fósseis, combustíveis refinados e fornecimentos de eletricidade e gás) levaria, no caso de Portugal, a uma redução do crescimento em 1,6 pontos percentuais face ao cenário base. É o sexto impacto mais expressivo entre os 22 países da União Europeia avaliados pela OCDE.

Recorde-se que a projeção feita em dezembro pela OCDE para o desempenho da economia portuguesa este ano apontava para um crescimento de 5,8%, ou seja, bem acima da média da zona euro.

Governos terão de "amortecer" escalada de preços da energia

Neste contexto, a OCDE deixa recomendações para os Governos: "Apoio orçamental bem desenhado e cuidadosamente dirigido pode reduzir o impacto negativo sobre o crescimento com apenas um impulso extra menor sobre a inflação".

Assim, "no curto prazo, muitos Governos terão de amortecer o impacto de preços da energia mais elevados, diversificar as fontes de energia e aumentar a eficiência energética onde for possível", lê-se no documento.

Em relação à alimentação, a OCDE pede aos países que "refreiem o protecionismo" e apoio multilateral em termos de logística.

Já no que toca à politica monetária, a recomendação é clara: "Deve continuar focada em assegurar expectativas de inflação bem ancoradas". Considerando que que "a maioria dos bancos centrais deve continuar os seus planos pré-guerra", a OCDE destaca a "exceção das economias mais afetadas, onde uma pausa pode ser necessária para avaliar completamente as consequências da crise".

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